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Viviane Senna: ‘O Brasil precisa de resultados’

A presidente do Instituto Ayrton Senna e patrona do Prêmio Jovens Inspiradores diz que futuros líderes precisam mais do que boas intenções

Por Nathalia Goulart
7 abr 2012, 10h45

Há exatos 18 anos, Viviane Senna colocava de pé o Instituto Ayrton Senna com um objetivo: transformar a educação no Brasil. Hoje, são mais de 2 milhões de crianças e adolescentes beneficiados por projetos encabeçados pelo instituto e seus parceiros. Viviane encontrou tempo e energia para envolver-se em mais um: orientar e inspirar os futuros líderes do Brasil. Juntamente com a ex-senadora Marina Silva e Vicente Falcione, do Instituto de Desenvolvimento Gerencial, Viviane é patrona do Prêmio Jovens Inspiradores, iniciativa do site de VEJA em parceria com a Fundação Estudar que vai selecionar estudantes ou recém-formados com espírito de liderança e compromisso permanente com a busca da excelência: os vencedores ganharão iPads, bolsas de estudo no exterior e um ano de orientação profissional com nomes de destaque do meio empresarial e político (mentoring). Aos candidatos a líder, Viviane envia sua primeira orientação inspiradora: “O Brasil precisa de um líder que não seja apenas criativo ou inovador”, diz. “Vejo muitas ideias boas por aí, mas muitas delas não saem do papel. Concentrar-se na realização é uma das características fundamentais da liderança.” Confira a seguir a entrevista que ela concedeu ao site de VEJA.

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Vídeo: Viviane Senna conversa com três jovens líderes

A senhora está à frente do Instituto Ayrton Senna há quase duas décadas e sabe como é difícil levar um projeto transformador adiante no Brasil. O que pode ensinar às futuras lideranças? O primeiro desafio é não se deixar levar pela demanda. Em um país onde tudo é necessário, é muito fácil ser carregado para muitos lados ao mesmo tempo. A primeira tarefa a fazer é delimitar seu campo de ação. Isso pode parecer fácil, mas dizer “não” é uma tarefa difícil. Quando começamos a pensar no Instituto Ayrton Senna, eu recebia mães com filhos doentes que vinham me pedir amparo. Ou ainda famílias que viviam em áreas de risco e precisavam de um novo lar. É uma tarefa árdua dizer não a todos esses problemas.

Como dizer “não”? É preciso saber exatamente a razão de cada renúncia. Cada um precisa levar em conta o que faz de melhor, saber aonde exatamente suas competências podem levá-lo. Decidido isso, é preciso realizar com excelência o que foi determinado. Temos muita coisa sendo feita no Brasil de maneira amadora – bem intencionada, mas amadora. Boas intenções nunca resolveram nada. Elas são um bom ponto de partida, mas não são a linha de chegada. O Brasil não precisa de boas intenções, precisa de resultados. Por fim, o último desafio é trabalhar em escala. A quantidade de pessoas que ainda vivem desamparadas e à margem dos avanços sociais é muito grande. Isso significa que não podemos ter uma estratégia de varejo para um problema de atacado. Precisamos pensar em quantidade sem perder a qualidade. No Brasil, vemos quantidade sem qualidade – ações governamentais de saúde e educação, por exemplo – ou qualidade sem quantidade, que é o que caracteriza hoje o terceiro setor. Nem uma coisa nem outra dão conta do desafio.

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Ser pioneiro dá trabalho? Sim. Toda inovação é solitária. Por isso, os empreendedores e visionários precisam ser muito bem estruturados. Não basta ser apenas capacitado intelectualmente ou preparado do ponto de vista cognitivo. É preciso ter outras aptidões, como persistência, resiliência, capacidade de ouvir o outro e de conviver com o diferente. Caso contrário, a inovação não consegue ter sobrevida.

Conseguir apoio ainda é uma dificuldade no Brasil? Sim, principalmente se envolve o setor público. O governo ainda é extremamente burocrático e pouco focado em resultados. As eleições tornam as coisas ainda mais complicadas, porque há cada troca de governante alteram-se ministros, secretários, chefes de gabinete. Perde-se eficiência com isso. Não estou aqui advogando contra as eleições, eu jamais faria isso. Mas, infelizmente, esse processo democrático ainda é usado de maneira errada.

Com o Prêmio Jovens Inspiradores, a Fundação Estudar e o site de VEJA estão em busca de futuros líderes para o Brasil. Que líder é esse que o país tanto precisa? O Brasil precisa de um líder que não seja apenas criativo ou inovador. O povo brasileiro é muito criativo por natureza, mas estamos sedentos por eficiência. Somos um povo flexível e sociável frente a países europeus, por exemplo, que, em geral, são mais pragmáticos, organizados e rígidos. É exatamente isso que nos falta. Sinto que um líder tem que ser capaz de transformar uma boa ideia em uma realidade mensurável e efetiva. Vejo muitas ideias boas por aí, mas muitas delas não saem do papel. Concentrar-se na realização é uma das características fundamentais da liderança. Acho que isso ainda nos falta.

A senhora acredita que os jovens querem ser esse líder do futuro? Eu não diria que são todos os jovens. Uma grande maioria deles ainda vive em uma condição que não lhes permite enxergar nem o próprio futuro, quanto mais o coletivo. Agora, quando damos oportunidades para que eles se desenvolvam, mesmo estando em condições tão adversas, eles imediatamente começam a olhar o futuro próprio e também o da comunidade. Dificilmente, os jovens olham só o próprio futuro: eles olham em volta. O problema é que eles ainda estão no nível da sobrevivência. Esse é um grande desafio para o Brasil, dar oportunidades iguais para todo mundo. A partir do momento em que essas janelas se abrem, os jovens se mostram capazes e generosos.

Viviane Senna conversou com três jovens líderes. Confira no vídeo a seguir:

https://youtube.com/watch?v=F9QUPupS9yY%3Frel%3D0

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