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Entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, por que não optar pelos dois?

Fora de empresas tradicionais, mas também de ONGs, jovens adotam o modelo do empreendedorismo social

Por Nathalia Goulart
11 mar 2012, 15h21

Há cinco anos, quando se formava no curso de administração de empresas, Tiago Dalvi, então com 20 anos, topou com um dado que lhe chamou a atenção: o Brasil possuía de 8,5 milhões de artesãos. “Desse total, 2 milhões viviam em condição de extrema pobreza e sequer conseguiam vender o que produziam”, constatou o jovem. Onde muitos viam apenas um drama social, Tiago enxergou uma oportunidade de negócio. Assim, nasceu a Solidarium. A empresa funciona como uma ponte entre 1.600 artesãos de 12 estados brasileiros e grandes redes varejistas como o hipermercado Wal-Mart e as lojas de móveis e decoração Tok Stok. Dessa forma, tudo o que sai das mãos dos artesão chega às prataleiras dos grandes centros e, portanto, às mãos dos consumidores. O trabalho de Tiago vem ajudando a minimizar a pobreza, mas não se trata de altruismo: a Solidarium deve faturar 1 milhão de reais em 2012.

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Tiago faz parte de uma nova geração de empreendedores. Instatisfeitos tanto com o modelo de negócios que só visa o lucro quanto com as ONGs que não garantem a própria sobrevivência, eles criam modelos híbridos para integrar geração de lucro e dividendos sociais. São os chamados negócios sociais ou inclusivos. “Entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, os jovens estão optando pelos dois”, afirma Débora Basso, coordenadora de formação da Artemísia, organização pioneira no fomento a esse tipo de empreendedorismo no Brasil. Negócios sociais, como o de Tiago, têm como missão principal mitigar um problema específico, mas, ao contrário das tradicionais organizações não-governamentais, não sobrevivem de doações – eles pretendem ser sustentáveis e gerar (bastante) lucro.

Foi justamente a fragilidade das ONGs, a incapacidade dessas organizações de andar com as próprias pernas, que motivou Omar Haddad, de 28 anos, a criar seu empreendimento social. Há quantro anos, ele está à frente da Sementes de Paz, que leva produtos orgânicos de duas dezenas de agricultores e cooperativas a alguns milhares de consumidores na Grande São Paulo. “Antes de abrir meu próprio negócio, circulei entre ONGs, mas o fato de elas não serem sustentáveis me incomodava. Para causar um impacto significativo, é preciso gerar renda”, diz Omar. O jovem empreendedor guarda segredo sobre o resultado da empresa, mas revela que o faturamento deste ano deve ficar em seis dígitos. “O empreendedorismo social tem se popularizado. Prova disso é que já contratamos profissionais qualificados que, depois de atuar em empresas tradicionais, nos procuraram dizendo que querem dar um significa a suas carreiras.” Continue a ler a reportagem

Omar Haddad (ao centro): Comércio justo de produtos orgânicos
Omar Haddad (ao centro): Comércio justo de produtos orgânicos (VEJA)

Combinar trabalho a uma causa é uma das marcas da chamada geração Y, jovens nascidos nas décadas de 1980 e 1990. Segundo os estudiosos que se dedicam a entendê-los, esse é um grupo formado por pessoas inquietas e capazes de desenvolver várias tarefas simultaneamente, fruto da era digital em que cresceram e do consequente acesso quase irrestrito à informação. No Brasil e no mundo, a maior parte deles experimenta condições de vida superiores às de seus pais. “Obviamente, isso alterou a percepção que eles têm da vida profissional. Uma carreira tradicional, como a de seus pais, já não lhes interessa: eles querem se sentir parte dos projetos em que se envolvem”, diz Sidnei Oliveira, autor do livro Geração Y – O Nascimento de Uma Nova Versão de Líderes. O escritor americano Bruce Tulgan, autor de diversos livros sobre o mundo corporativo, descreve da seguinte maneira a geração Y: “Eles serão a força de trabalho mais potente de toda a história do mundo. Eles empreendem por paixão.” É invejável. Tiago Dalvi comprova a tese do americano: “Nunca me vi vendendo cerveja ou geladeiras: para me sentir realizado, preciso fazer coisas que façam a diferença.”

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A geração Y conta com um aliado óbvio: a internet, que derruba barreiras geográficas e permite empreendimentos de baixo custo. “Na sala de sua casa, um rapaz de 19 anos pode fazer negócios com a Indonésia. Há quase uma década, de um dormitório universitário, Mark Zuckerberg revolucionou a maneira como nos relacionamos”, diz Oliveira acerca do criador do do Facebook. Não por acaso, a web é a principal ferramenta de Marcel Fukayama, de 26 anos, fundador da CDI Lan, empresa que quer transformar a vida de moradores de comunidades carentes por meio das lan houses. A CDI Lan conta hoje com 6.500 lan houses afiliadas, que oferecem, entre outros serviços, capacitação profissional de baixo custo. Uma parceria com uma multinacional permite que parte do contingente capacitado seja absorvido imediatamente pelo mercado de trabalho. “Com meu trabalho transformo a sociedade sem precisam fazer voto de pobreza”, diz Marcel.

Universidades – A fome dos novos empreendedores é grande. E as universidades já perceberam isso. Instadas pelos próprios estudantes, instituições de excelência do Brasil e do exterior estão tratando de incluir a matéria em seu ambiente e de ensiná-la a seus alunos. “Quando comecei a falar de empreendedorismo social, ficava contente se apareciam 20 universitários para assistir às minhas palestras. Hoje, falo para auditórios lotados em universidades: os estudantes estão pressionando suas instituições a incorporar o assunto”, diz David Bornstein, pesquisador canadense pioneiro na difusão do empreendedorismo social. Johanna Mair, professora da Universidade de Stanford, na Califórnia, concorda. “A estrutura acadêmica por tradição é avessa a mudanças. É preciso mobilização dos estudantes. E isso está acontecendo nesse assunto.” Continue a ler a reportagem

João Arcalá que levar os negócios sociais para a universidade
João Arcalá que levar os negócios sociais para a universidade (VEJA)

Mais prestigiada universidade do planeta, Harvard já se curvou à demanda de jovens aspirantes a empreendedores sociais. Lá, acontece anualmente uma conferência para debater negócios sociais. O evento é integralmente organizado pelos alunos, sem qualquer interferência do corpo docente – que, no entanto, faz questão de franquear condições para a manutenção da conferência. Na edição de 2012, mais de 1.500 estudantes participaram de debates, workshops e palestras.

A Universidade de Stanford foi ainda mais fundo. Acaba de inaugurar o Instituto para Inovação em Economias em Desenvolvimento, batizado Seed (semear ou semente, em inglês). Seus alunos poderão discutir modelos de negócios que visam a reduzir a pobreza de nações como o Brasil e a Índia. “A maneira mais eficiente de dirimir desigualdades sociais não é oferecendo ajuda na forma de alimentos, dinheiro ou remédios. Precisamos formar empresários que desenvolvam soluções criativas e de alto impacto. Esse é o motor do crescimento”, diz o professor Hau Lee, diretor do Seed. Continue a ler a reportagem

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Harvard: a Social Entreprise Conference é uma iniciativa dos alunos da universidade
Harvard: a Social Entreprise Conference é uma iniciativa dos alunos da universidade (VEJA)

No Brasil, as universidades e os estudantes começam a se familiarizar com os negócios sociais. No Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), os alunos já conseguiram levar o empreendedorismo social para o centro do debate. Desde 2007, acontece o Reunes, Reunião Universitária de Empreendedorismo Social e Responsabilidade Sócio Empresarial, que debate formas de contribuir socialmente para o desenvolvimento do país. “O tema ganha corpo aos poucos dentro da universidade”, diz Marcus Gualberto, de 21 anos, um dos responsáveis pelo Reunes. O envolvimento dos alunos já rendeu frutos. No ano passado, foi firmada uma parceria com a Endeavor, organização internacional que incentiva empreendimentos de alto impacto. O acordo prevê capacitação de professores para que o empreendedorismo entre de vez no currículo acadêmico.

A Artemísia, aceleradora de negócios sociais, é uma das responsáveis por levar a discussão para as universidades brasileiras. Para isso, criou um grupo chamado Choice, composto por 92 estudantes das cinco regiões do país encarregados de mostrar a colegas que é possível unir lucro, ação social e realização profissional. “Queremos incentivar um movimento de baixo para cima – contagiados, alunos, professores e universidades passarão a tratar do assunto também no ambiente acadêmico”, diz João Arcalá, de 21 anos, estudante de enganharia ambiental na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e embaixador do Choice.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) também deve incorporar nos próximos anos uma disciplina dedicada exclusivamente aos negócios sociais. À frente do projeto está o professor Edgard Barcki, da Escola de Administração. “Essa é uma geração que tem brilho nos olhos e isso faz crescer o interesse em uma nova prática empresarial”, diz Barcki. Na Universidade de São Paulo, quem comanda o movimento é Graziela Camini, da Faculdade de Economia e Administração (FEA). No ano passado, Camini promoveu o primeiro debate sobre o assunto dentro dos muros da USP. “É importante dizer a essa geração que não é preciso estar em uma ONG para mudar o mundo. É possível lucrar para fazê-lo.”

O Prêmio Jovens Inspiradores vai revelar os talentos que serão líderes no Brasil – pessoas que, acima de tudo, querem mudar o mundo onde vivem e fazer a diferença. Inscreva-se!

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