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2013, o ano dos concursos públicos

Devem entrar em disputa 120.000 vagas nas esferas federal, estadual e municipal. Candidatos devem se preparar: a concorrência é grande

Por Nathalia Goulart
12 jan 2013, 14h30

Estima-se que existam atualmente cerca de 12 milhões de brasileiros interessados em ingressar em carreiras públicas. O número recorde é o dobro do registrado há cinco anos, segundo estudo da Agência Nacional de Proteção e Apoio ao Concurso Público (Anpac). Para quem sonha com uma colocação no setor, 2013 se apresenta como um ano pródigo em oportunidades. Mais de 120.000 vagas devem ser preenchidas neste ano nas esferas federal, estadual e municipal em todo o Brasil. Somente no Executivo federal, a expectativa é de 37.000 vagas, um incremento de 115% em relação a 2012, segundo dados do Ministério do Planejamento. Somem-se a isso postos no Legislativo e Judiciário e mais outros em estados e municípios e constrói-se a perspectiva de um ano de oportunidades de trabalho. Mas é preciso estar preparado, pois a concorrência é grande.

“Em 2010 e 2011, houve uma diminuição no ritmo de contratações, como fica claro no caso da União. Em 2012, houve a retomada dos grandes concursos, que oferecem milhares de vagas, e a expectativa para 2013 é a melhor possível”, diz Ricardo Ferreira, especialista na área de concursos e autor de vários livros sobre o assunto. Outra boa notícia é a percepção dos especialistas de que o bom momento para os “concurseiros” não para por aqui. Os próximos anos também devem oferecer muitas oportunidades. As projeções apontam que há 2 milhões de vagas a serem preenchidas. “É uma demanda que não será atendida em apenas um ano. O que significa que este ano deve ser o primeiro de uma série cheia de processos seletivos”, afirma Ernani Pimentel, especialista que se dedica há cinco décadas a concursos e ex-presidente da Anpac.

Comparação da média salarial
Comparação da média salarial (VEJA)

Esse cenário favorável é explicado em parte pelo fluxo de aposentadorias na área pública, que se intensificou nos últimos anos. Na esfera federal, por exemplo, mais de 10.000 servidores se aposentaram em 2010, o dobro do registrado cinco anos antes, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Há também indicadores do envelhecimento do pessoal. Entre 2000 e 2012, a parcela de funcionários com idade entre 51 e 60 anos cresceu 75%, ao mesmo tempo em que a taxa daqueles com mais de 60 anos aumentou 157%. Hoje, quatro em cada dez servidores tem mais de 50 anos. “Isso faz com que concursos que não eram realizados há muitos anos sejam retomados”, diz Alexandre Gialluca, coordenador do curso preparatório LFG. Exemplo disso é o processo seletivo para o cargo de delegado da Polícia Federal, que não é realizado há oito anos e que deve ocorrer no primeiro semestre de 2013.

A análise da pirâmide etária dos servidores revela outro dado importante. Os novos servidores estão mais jovens. Ainda na esfera federal, o número de funcionários com menos de 30 anos de idade acresceu 113% nos últimos 12 anos. “Existe uma percepção muito clara de que os jovens estão mais interessados em trabalhar em algum posto governamental”, diz Bruna Tokunaga, gerente de orientação de carreira da Cia. de Talentos, consultoria especializada em recrutamento. “No último ano, segundo nossas pesquisas, o porcentual de interessados em concursos públicos dobrou entre os profissionais em início de carreira.”

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Valorização salarial
Valorização salarial (VEJA)

Pesa a favor da carreira pública, sem dúvida, o salário. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o setor paga, em média, 93% mais do que a iniciativa privada. Em cargos que exigem nível superior, o salário inicial de um jovem recém-formado pode superar os 10.000 reais. “Nenhuma empresa paga tanto a uma pessoa com pouca ou nenhuma experiência profissional”, diz Ricardo Ferreira. Mas não é só o contracheque que leva essa turma a empenhar meses ou até anos de estudos em preparação para as provas de concursos públicos em busca da tão sonhada vaga. “Existe nessa geração a redescoberta do bem público. Até alguns anos atrás, trabalhar para o governo era quase nocivo, coisa para burocratas sem aspirações profissionais. Foi preciso subverter essa lógica para atrair a mão de obra qualificada”, diz Marco Antônio Carvalho Teixeira, vice-coordenador do curso de administração pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

De fato, até meados da década de 1990, era quase impossível para um servidor progredir na carreira, e os salários eram em média 30% menores do que os pagos pela iniciativa privada. Isso começou a mudar na administração Fernando Henrique Cardoso, que deu início a uma reforma na administração do estado – com ganhos para o próprio estado e para o cidadão. O primeiro passo foi a valorização salarial. Hoje, um delegado da Polícia Federal em início de carreira ganha 76% mais que há 12 anos. Já o incremento no rendimento de um técnico do Banco Central foi de nada menos do que 317%.

Os melhores concursos de 2013
Os melhores concursos de 2013 (VEJA)
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Para Teixeira, da FGV, trata-se de uma quadro bastante animador. “Tudo passa pelo bom funcionamento do estado. Quanto mais profissionais de alto quilate zelando pelo bem comum tivermos, mais eficiente será o nosso estado.” As reformas impostas até agora no setor público não eliminaram, é claro, desperdícios e mau uso da máquina. Mas é inegável que, nas funções em que o estado é indispensável, é vital que haja um servidor competente de plantão.O segundo passo, não menos importante, foi no sentido de estruturar as carreiras. Extinguiram-se as gratificações por tempo de serviço e instituíram-se aumentos salariais de acordo com o desempenho individual em mais de quarenta carreiras. Para atrair gente qualificada, incrementos salariais robustos se tornaram acessíveis a profissionais com mestrado e doutorado. A paulista Vanessa Vieira, 29 anos, retrata os novos tempos do funcionalismo público. Formada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais conceituadas do país, ela foi aprovada pela primeira vez em concurso público durante a graduação. Há três anos, atua como defensora pública do estado de São Paulo, carreira com rendimento mensal bruto superior a 20.000 reais. Mas ela não se acomoda e já se prepara para uma pós-graduação.

Quem quiser conquistar as joias da coroa, as melhores posições da administração pública, precisa estar muito bem preparado. Em média, os candidatos dedicam um ano inteiro aos estudos antes das provas de seleção. Em alguns casos, é preciso mais. Formado geógrafo pela Universidade Federal Fluminense, Leonardo Carlos Barreto, de 24 anos, entra em seu terceiro ano de preparação para o Instituto Rio Branco, onde busca uma vaga de diplomata. “Passei dois anos estudando até 12 horas por dia, mas ainda não consegui meu objetivo”, conta. No ano passado, o Instituto realizou seleção de 30 diplomatas. Inscreveram-se 6.423 interessados, uma concorrência de 214 candidatos por vaga. Também em 2012, a Petrobras anunciou o preenchimento de 1.521 postos de trabalho, para os quais se inscreveram 330.568 pessoas. São 217 candidatos para cada posto. “Não existe aprovação sem perseverança quando se trata de concurso público”, resume o especialista Ernani Pimentel. “A prova é o funil do qual o governo dispõe para selecionar apenas os melhores para seus quadros.” Melhor assim.

O que dizem os aprovados

Vanessa Vieira
Vanessa Vieira (VEJA)
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“Eu me formei em direito, na USP, e atuar na Defensoria sempre foi meu sonho. Estudei por três anos para só passar no concurso. Durante a preparação, cheguei a ficar sem computador e TV para me concentrar melhor. Era difícil até namorar. Agora, na Defensoria, vejo muitas possibilidades de crescimento profissional – o que inclui aumento de salário.”

Vanessa Vieira, 29 anos, defensora pública do estado de São Paulo

“Deixei a iniciativa privada devido à instabilidade. Quando comecei a estudar para concursos, passava dez horas debruçada sobre apostilas. Passei em quatro: Caixa, BB, INSS e IFSP. Quando assumi o cargo, descobri os incentivos do plano de carreira. Tirei licença para fazer mestrado e, no retorno, recebi aumento de 52%. Se fizer doutorado, o bônus é de 75%.”

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Cristine Vecchi, de 30 anos, jornalista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP)

O que dizem os ‘concurseiros’

“Quando escolhi a graduação em geografia na Universidade Federal Fluminense (UFF), já pensava no futuro como diplomata. O salário alto e a oportunidade de conhecer outras culturas sempre me interessaram. Passei dois anos estudando até 12 horas por dia, mas ainda não consegui meu objetivo. Muita gente desiste diante de tamanha concorrência. Eu não.”

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Leonardo Carlos Barreto, 24 anos, geógrafo candidato a diplomata

“Decidi que queria trabalhar para o governo em 2009. O que mais me atrai no setor público é a estabilidade. Desde então, fui aprovada em um concurso da Prefeitura de São Vicente (SP), mas meu objetivo mesmo é ingressar na Receita Federal. Não poupo esforços para alcançar esse sonho. No Réveillon, enquanto meus amigos se divertiam, eu estudava em casa.”

Marisa Levy Marques, 27 anos, engenheira candidata a fiscal da Receita

* Com reportagem de Lecticia Maggi e Renata Honorato

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