Máquina quântica é o avanço científico do ano, diz Science
Para revista, experimento deixa para trás a célula sintética, o sequenciamento do genoma do homem de Neandertal e a reprogramação de RNA
A revista Science, um dos mais respeitados periódicos científicos do mundo, elegeu o maior avanço científico de 2010: a máquina quântica. Deixando para trás pesquisas importantes como a “célula sintética” do biólogo americano Craig Venter, o sequenciamento do genoma do homem de Neandertal e a reprogramação de RNAs, o dispositivo foi escolhido por trazer pela primeira vez as características da mecânica quântica – a parte da física que estuda o comportamento dos átomos e suas partículas – para o mundo dos objetos visíveis a olho nu.
Os físicos Andrew Cleland, John Martinis e Aaron O’Connell, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA), criaram uma pequena placa, visível a olho nu, capaz de se expandir e contrair ao mesmo tempo, imitando um estado da física chamado sobreposição quântica. Nele, uma partícula é capaz de ocupar dois ou mais lugares no espaço ou registrar duas ou mais quantidades de energia ao mesmo tempo. Até agora, o efeito só havia sido percebido no universo microscópico.
No experimento da equipe de Cleland, a microplaca ocupou, ao mesmo tempo, dois lugares no espaço. “Mesmo que a distância entre eles tenha sido menor que o núcleo de um átomo, conseguimos provar o conceito”, disse Cleland em entrevista ao site de VEJA. “Em cinco anos, queremos ampliar essa distância para a espessura de um fio de cabelo”, disse.
Parece pouco, mas a pesquisa põe fim a uma corrida científica de 75 anos pela manifestação das propriedades quânticas em objetos visíveis. Em 1935, o físico austríaco Erwin Schrödinger propôs que seria impossível verificá-las no mundo macroscópico. Desde então, vários experimentos tentaram provar o contrário, mas o sucesso só veio em 2010. “Agora sabemos que as características quânticas podem ser percebidas em objetos grandes, não apenas nos elétrons, por exemplo”, disse Cleland.
O passo dado pelos cientistas americanos pode significar que o homem consiga manipular as leis da física de tal maneira a permitir feitos dignos de ficção científica. “Talvez alguém muito inteligente encontre um dia uma forma de fazer o teletransporte”, disse Cleland. “Demos o primeiro passo”, concluiu.