Pesquisa mostra cacatuas aprendendo a abrir fechaduras
Cientistas descobriram que a ave, conhecida por sua inteligência, é capaz de abrir uma série de trincos interligados para alcançar uma porção de comida
A cacatua de goffin (Cacatua goffiniana) é uma espécie de ave conhecida por sua inteligência e capacidade de se relacionar com seres humanos. Semelhante a um papagaio, mas originária da Indonésia, ela costuma ser utilizada por biólogos para estudar a capacidade de alguns animais – e especialmente algumas aves – de resolver problemas e desenvolver inteligência. Uma pesquisa publicada nessa quarta-feira na revista PLOS ONE mostra, pela primeira vez, que a espécie é capaz de aprender a abrir uma série de trincos interligados, para alcançar um pedaço de alimento oferecido pelos pesquisadores.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Explorative Learning and Functional Inferences on a Five-Step Means-Means-End Problem in Goffin’s Cockatoos (Cacatua goffini)
Onde foi divulgada: periódico PLOS ONE
Quem fez: Alice M. I. Auersperg, Alex Kacelnik e Auguste M. P. von Bayern
Instituição: Universidade de Oxford, Inglaterra
Dados de amostragem: Dez cacatuas sem nenhum treinamento, que foram colocadas de frente a uma caixa com castanha de caju. Para acessar a comida, elas precisariam abrir cinco trincos interligados
Resultado: Uma das aves conseguiu abrir a fechadura sem nenhum tipo de ajuda. Outras cinco também conseguiram, mas precisaram antes assistir a outra ave resolvendo o problema ou tomar conhecimento de cada um dos trincos de forma separada
Um estudo anterior, realizado pela mesma equipe, já havia revelado que as cacatuas são capazes de criar e usar ferramentas para alcançar uma pequena noz colocada fora de sua jaula. Agora, eles testaram a capacidade de o animal resolver problemas complexos ao colocar a ave de frente a uma caixa fechada. Dentro dela, atrás de uma portinhola transparente, havia castanha de caju. Para abrir a porta e pegar a comida, no entanto, ela precisava passar por uma série de cinco trincos, que funcionavam de modo interligado.
A resolução do problema era razoavelmente complexa: a cacatua precisava primeiro remover um pino, depois retirar um parafuso e liberar um ferrolho. Em seguida, tinha de mover uma roda 90 graus para permitir que a portinhola fosse finalmente aberta. Uma das aves, chamada Pipin, conseguiu resolver o problema, sem nenhum tipo de assistência ou treinamento, após duas horas de tentativas. Outras cinco também conseguiram, mas precisaram receber algum tipo de ajuda, como ver um parceiro completando a tarefa.
Segundo os cientistas, isso demonstra que as cacatuas são capazes de perseguir uma meta longínqua, mesmo que só venham a receber a recompensa após a resolução de todos os desafios. “A partir de seu comportamento, concluímos que as aves percebem as relações entre objetos. Elas demonstraram ser capazes de seguir um objetivo distante, sem ganhar uma recompensa a cada passo da tarefa”, diz Alex Kacelnik, pesquisador do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, e um dos autores do estudo.
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Catracas da percepção – Os cientistas afirmam que as cacatuas pareciam agir como se seguissem um processo de “catraca cognitiva”: quando elas descobriam como abrir um dos trincos, aprendiam como ele funcionava e não enfrentavam mais dificuldades quando ele aparecia novamente. “A habilidade das aves de aprender e responder a mudanças indica uma grande plasticidade comportamental e memória prática”, afirma Auguste von Bayern, pesquisador da Universidade de Oxford que também participou do estudo.
As características da espécie também teriam ajudado na resolução do problema. Segundo os pesquisadores, a cacatua é uma ave que explora o ambiente de maneira táctil, além de possuir grande curiosidade e persistência para resolver tarefas. “Elas exploram os objetos usando seu bico, língua e pés – um explorador puramente visual possivelmente nunca resolveria esse problema”, diz Auguste von Bayern.