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Nobel da Química hoje se beneficia do remédio que ajudou a criar

Químico Akira Suzuki é autor de estudo que possibilitou a criação de remédios mais eficazes contra a hipertensão. Em vista ao Brasil, falou ao site de VEJA

Por Marco Túlio Pires
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h01 - Publicado em 7 set 2011, 08h04

O Brasil recebeu nesta semana a visita ilustre do químico japonês Akira Suzuki, laureado com o prêmio Nobel da Química em 2010. Em 1979, aos 49 anos, ele publicou na revista Synthetic Communications o estudo em que descrevia a complicada reação química que lhe garantiria o prêmio Nobel três décadas depois. O procedimento facilitou a criação de remédios contra a hipertensão, câncer e defensivos agrícolas.

Hoje com 80 anos, Suzuki é um dos 22 milhões de seres humanos beneficiados pela sua criação: é levemente hipertenso e toma, a cada dia, um comprimido que só existe porque se dedicou à carreira química. Narrando a própria vida, o químico deu um puxão de orelha em pais que controlam a carreira dos filhos, disse que o segredo para o sucesso está na originalidade e que se nascesse de novo, apesar de inicialmente ter desejado ser matemático, não abandonaria a química. Suzuki falou a jornalistas no Conselho Regional de Química de São Paulo e conversou reservadamente com VEJA.

Saiba mais

  1. Quem é Akira Suzuki – Professor emérito da Universidade de Hokkaido, no Japão, Suzuki dividiu o prêmio Nobel de química de 2010 com o compatriota Ei-ichi Negishi e o americano Robert Heck. Suzuki, pela criação de moléculas complexas de carbono utilizando catalisadores eficientes e precisos que possibilitaram a fabricação de compostos que vão de remédios contra o câncer até equipamentos eletrônicos. No caso de Akira Suzuki, seu trabalho resultou na produção de fungicidas usados em plantações e principalmente na síntese de compostos antitumorais (medicamentos contra o câncer).

Quais são vantagens que medicamentos produzidos com o processo que o senhor e seus colegas criaram têm em relação aos que já existiam? Tenho pressão ligeiramente alta. Tomo o remédio uma vez por dia. Não sou médico e não sei as vatangens do medicamento fabricado com o processo que criamos. Mas, segundo os médicos japoneses e os produtores de remédios, ele causa menos problemas no uso prolongado, tem menos efeitos colaterais e não prejudica o fígado. Porém, eu não criei esses remédios, só o processo que permitiu sua fabricação.

Quais frutos o senhor pretende colher com o prêmio Nobel? Apesar de sempre ter desejado o prêmio, jamais imaginei ser laureado com o Nobel. Se a minha premiação trouxer estímulo para os jovens seguirem o caminho da química e para o desenvolvimento da área como um todo, eu ficaria muito feliz.

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Quais são os desafios da indústria química das próximas décadas? A utilização de fontes alternativas de energia é caminho. Temos que ter o compromisso de preparar um mundo melhor para nossos filhos e netos. A utilização de combustíveis fósseis como fonte de energia não é uma situação desejável, por exemplo. São recursos finitos e podemos acabar gastando tudo e criando uma situação de insustentabilidade para nossos descendentes. Poderíamos utilizar os combustíveis fósseis apenas como matéria prima, como para construção de plásticos, em vez de exauri-los em carros e usinas.

Por que o senhor escolheu a química como profissão? Quando jovem, queria ser matemático. Mas dois livros me fizeram escolher o caminho da química orgânica: Química Orgânica, da Universidade de Harvard, e Hydroboration, escrito por Herbert Brown, com quem estudei posteriormente. A química orgânica é praticamente o oposto da matemática, não tem nada de exata. Contudo, gosto muito de observar a criação das moléculas, como na natureza: as plantas pegam o gás carbônico e água e transformam em açúcar, energia. Poder entender, replicar e manipular esses processos em benefício da humanidade é edificante.

Qual conselho dá para que jovens tenham uma carreira de sucesso? Quando jovens, ficamos na dúvida sobre qual caminho seguir. Isso é completamente normal. É importante aprender então com as pessoas mais experientes sobre as opções que existem. Acima de tudo, a decisão final precisa ser sua, não dos seus pais. Quando os pais forçam a carreira dos filhos, os resultados podem ser desastrosos. Depois que tiverem escolhido o caminho a ser seguido, utilizem todas as forças para conduzir o trabalho com criatividade e originalidade. Não imitem outras pessoas, é importante que descubram sua própria maneira de fazer o mundo. Herbert Brown, Nobel da química e meu professor, sempre me dizia para produzir conhecimento original, algo digno de ser publicado em livros didáticos. Dado o devido contexto de cada área, esse ensinamento vale para qualquer profissão.

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