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Cientistas descobrem novo neurônio em macacos

A identificação do neurônio von Economo, já encontrado em seres humanos e em alguns mamíferos, pode ajudar estudos sobre a evolução da autoconsciência e sobre problemas neuropsiquiátricos como o autismo

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h35 - Publicado em 27 Maio 2012, 09h49

Um grupo de cientistas do Instituto Max Planck, da Alemanha, descobriu um novo tipo de neurônio em macacos com cauda – grupo que exclui os denominados Grandes Primatas: gorilas, chimpanzés e orangotangos -, que antes se acreditava estar presente apenas em humanos e em alguns mamíferos com comportamento social complexo como grandes primatas, golfinhos, elefantes e baleias.

O neurônio encontrado, chamado von Economo (da sigla em inglês, VEN), no ser humano, está presente na ínsula e está relacionado a processos de autoconsciência. Pacientes com autismo e outras doenças neuropsiquiátricas apresentam alterações na quantidade de VEN.

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NEURÔNIO VON ECONOMO

O neurônio von Economo (VEN) está presente quase que exclusivamente na ínsula anterior e o córtex cingulado anterior. Até recentemente, acreditava-se que o VEN só existia em humanos, grandes primatas e alguns mamíferos de cérebro grande com comportamento social complexo, como baleias e elefantes. O VEN tem um formato peculiar de fuso: é alongado e tem as extremidades mais estreitas que o centro. Em autismo e em casos de demência, têm sua quantidade alterada.

ÍNSULA

Região do cérebro relacionada à percepção, comportamento social e autoconsciência. A parte anterior da ínsula, em particular, é onde os seres humanos sentem conscientemente as emoções subjetivas como amor, ódio, ressentimento, autoconfiança ou constrangimento. Em relação a esses sentimentos, a ínsula anterior está envolvida em várias psicopatologias. Danos na ínsula levam à apatia e à incapacidade de distinguir quais sentimentos nós ou a pessoa com quem conversamos sente.

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Os resultados da pesquisa liderada por Henry Evrard, neuroanatomista do Instituto Max Planck, foram publicados na última edição da revista Neuron.

Em estudos anteriores, os cientistas não tinham encontrado sinais dessas células em cérebros de macacos, exceto no grupo de grandes primatas, que são os parentes mais próximos do homem. Evrard descobriu esse tipo de neurônio diferenciado enquanto analisava um pedaço de cérebro de macaco para um outro experimento. Os neurônios von Economo são longos e têm corpos mais largos do que os demais.

De acordo com os especialistas, a morfologia, o tamanho e a distribuição do VEN em macacos sugerem que ele é, pelo menos, uma espécie primitiva do neurônio similar encontrado no homem. Essa descoberta traz novas oportunidades para examinar em detalhe as conexões e funções de uma célula e de uma região do cérebro específica, que poderiam ser peças fundamentais para a autoconsciência humana e para entender distúrbios mentais como autismo e algumas formas de demência.

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Os cientistas explicam que, embora os macacos não consigam se reconhecer no espelho, marca comportamental da autoconsciência, a descoberta fornece evidências persuasivas de que macacos possuem, pelo menos, uma forma primitiva de VEN humano.

“Isso significa, ao contrário do que se pensava antes, que a concentração de VEN não é uma exclusividade de hominídeos, mas também ocorrem em outras espécies de primatas”, explica Henry Evrard.

Para o pesquisador, a descoberta do VEN em macacos pode ajudar os cientistas a entender o processo de evolução da autoconsciência em humanos e contribuir também para o entendimento de incapacidades neuropsiquiátricas como autismo ou a dependência de drogas ou de cigarro.

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Tales Alexandre Aversi Ferreira, neurobiologista especilista em primatas da Universidade Federal de Goiás comenta a descoberta: “Com esse estudo, os autores quebraram uma hipótese. A neurociência é muito demorada, ela anda devagar. Essa descoberta é muito importante, mas ainda não revela muito.”

Ferreira comenta que, ainda que a descoberta isolada não traga muitos avanços, ela pode ser um estimulante para novas pesquisas sobre o tema: “Possivelmente, alguns neurocientistas começarão a gerar projetos para verificar a presença destes intrigantes neurônios em outros primatas o que poderá indicar novas hipóteses, agora mais concisas, sobre a evolução e funcionamento do sistema neural e sobre as doenças associadas aos neurônios von Economo.”

Opinião do especialista

Tales Alexandre Aversi Ferreira

Neurobiologista especilista em primatas. Professor da Universidade Federal de Tocantins e pesquisador colaborador da Universidade de Toyama – Japão

“Para a construção do conhecimento, hipóteses são sugeridas antes de novas descobertas para consolidarem teorias. Neste caso, a hipótese aceita pela sociedade dos neurocientistas em relação aos neurônios von Economo, era que eles existiam somente nos animais de grandes encéfalos, no entanto, eles não foram procurados em todos os animais conhecidos, nem em todos os animais próximos ao homem, ou seja, os primatas. Esses cientistas demonstraram que os neurônios von Economo foram encontrados em um primata mais distante dos grandes primatas e do homem, o famoso Rhesus (aquele que cedeu as iniciais para o fator RH do sangue).”

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“Aspectos como o auto-reconhecimento e consciência foram associados aos neurônios von Economo depois que foram encontrados numa parte escondida do encéfalo, que pode ser vista quando se afasta os lados de uma grande abertura lateral chamada de sulco lateral ou de Sylvius, o lobo da ínsula.”

“Os aspectos comportamentais relacionados a esses neurônios são intrigantes por serem raramente encontrados na natureza e por indicarem uma pista a mais para se conhecer o caminho evolutivo que levou o homem a ser a espécie mais inteligente do planeta.”

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