Paulo Barros desafia os jurados: “Entenderam agora?”
Em desfile sobre Luiz Gonzaga, carnavalesco da Unidos da Tijuca vai trazer de volta Priscila, a rainha do deserto. No ano passado, presença da personagem no enredo sobre o medo foi apontada como erro
“Eu me livrei do julgamento. O título de 2010 foi a minha absolvição. Não tenho mais essa preocupação”
A incompreensão dos jurados será motivo de piada no desfile da Unidos da Tijuca, intitulado O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão. O carnavalesco Paulo Barros vai resgatar a personagem Priscila (A rainha do deserto), apontada como um dos motivos para a perda de pontos em 2011. Alguns jurados não entenderam que a personagem tinha, sim, relação com o enredo da escola, que falava sobre o medo – representava o temor da discriminação. Priscila voltará no abre-alas, um avião do qual desembarcam os convidados para a coroação de Luiz Gonzaga na Marquês de Sapucaí.
Criticado por abusar de personagens da cultura pop, Barros confessa que as críticas são um motivo a mais para mantê-los nos seus desfiles. É uma espécie de provocação bem-humorada.
“A gente gosta de uma agulhada mesmo. Se eles podem voltar, por que não? Tanto que a Priscila, rainha do deserto, voltará com uma plaquinha na mão, escrito ‘Voltei’. É uma brincadeira porque teve muita gente que não entendeu sua presença no outro enredo. Ela ainda vai perguntar: ‘Entenderam, agora?'”, revela o carnavalesco
Outro personagem que Barros trará de volta à Avenida é o cantor Michael Jackson, rei do pop. Em 2010, um cover de Michael Jackson apareceu no desfile da Tijuca numa alegoria que representava a Área 51, complexo militar norte-americano em que supostamente ficam escondidos segredos de Estado.
Pulo do gato – Barros tem a sua própria fórmula para conquistar as arquibancadas. Ele aposta na mistura elementos pop e alegorias que provoquem alguma surpresa, despertando assim o espectador.
“Esse é o pulo do gato. Lembro que no carro da Área 51, o Michael Jackson surgia de dentro e o público delirava. Depois, ele sumia para ressurgir mais na frente. Tive até dificuldade porque o ator queria aparecer o tempo todo. Ele teve que ser adestrado a entrar e sair de cena. No abre-alas desse ano, será assim. Os reis vão desembarcar várias vezes ao longo do desfile”, conta.
A criatividade de Paulo Barros tem obrigado jurados e público a reavaliarem seus conceitos de desfile de escola de samba, ano após ano. Em 2010, a vitória da escola pareceu um sinal de que todos os lados tinham, enfim, selado um entendimento sobre os novos rumos do espetáculo. A magia de Paulo Barros cativara simultaneamente público, jurados e sambistas.
No ano seguinte, Barros voltou a testar os limites da folia, ousando ao encaixar personagens de filmes como Priscila, a rainha do deserto e A fuga das galinhas num enredo sobre o medo. A abertura dos envelopes na Quarta-feira de Cinzas, no entanto, revelou que o consenso ainda está longe. Devido à abordagem pouco usual do enredo, os jurados do quesito tiraram décimos preciosos da escola.
“O julgamento do enredo é errado. Porque o enredo não pode ser pré-julgado. Luiz Gonzaga já é nota 10? Algum enredo já é 10? Bato muito nessa tecla: o enredo deve ser julgado não pelo tema em si, mas sim pela maneira como foi desenvolvido pela escola”, argumenta.
Luiz Gonzaga – Para 2012, Barros foi convencido pela direção da Unidos da Tijuca a fazer um enredo sobre o centenário de Luiz Gonzaga. À primeira vista, o carnavalesco era contra a ideia por achar o tema óbvio demais. A saída foi fugir da narrativa biográfica e cronológica, criando a fábula de uma coroação ao rei do baião.
“Vejo o desfile como uma história que precisa de começo, meio e fim. Não gosto de contar histórias pré-estabelecidas e, por isso, não queria fazer um enredo biográfico. É chato”, conta Barros.
Ninguém sabe o que os jurados vão achar dos devaneios de Paulo Barros. O carnavalesco garante, no entanto, que hoje isso importa bem menos do que no passado.
“Hoje, nada me incomoda. Até porque eu me livrei do julgamento. O título de 2010 foi a minha absolvição. Não tenho mais essa preocupação”, afirma.