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Na nova ‘Saramandaia’, a metáfora política chega à era do mensalão

Personagens com asas, que soltam formigas pelo nariz e viram lobisomem voltam no dia 24, em reedição da trama que Dias Gomes escreveu para incomodar a ditadura militar

Por Patrícia Villalba, do Rio de Janeiro
5 jun 2013, 15h08

“O que eu mais aproveitei da história do Dias foram esses personagens emblemáticos. Mas as histórias são outras, não é simplesmente um remake”, explica o autor

Um dos símbolos da trincheira intelectual de Dias Gomes contra a ditadura militar nos anos 70, a cidade fictícia de Bole-Bole volta a ser o lugar “onde tudo pode acontecer” no próximo dia 24, quando estreia a nova versão de Saramandaia, no horário das 23 horas da Globo. Gente com asas, que solta formigas pelo nariz e vira lobisomem ou que, na falta de algum atributo mágico, promove roubalheiras generalizadas como a do mensalão do PT saltam de 1976 para os nossos dias numa demonstração de que a obra, infelizmente, continua atual em alguns aspectos. “É incrível, mas muitos dos dinossauros da política que foram criticados na novela original ainda estão mandando em Brasília”, disse ao site de VEJA o autor Ricardo Linhares, encarregado de repaginar a história, durante a apresentação à imprensa, na noite de terça-feira, no Rio.

A novela fala de um plebiscito sobre a mudança de nome da cidade que, na prática, torna-se um embate entre os tradicionalistas, que preferem Bole-Bole, e os progressistas que, liderados por João Gibão (antes Juca de Oliveira, agora Sergio Guizé), defendem o nome Saramandaia. No auge da repressão, Dias Gomes escreveu o texto sob a ameaça constante da censura e usou o realismo fantástico para disfarçar metáforas do Brasil da época – mesmo assim, não escapou dos cortes. Na democracia, Linhares poderia agora deitar e rolar – mas só em tese. “Imagino que para o Dias foi muito mais difícil escrever. Mas mesmo com liberdade, não vou poder fazer referências muito literais, senão me processam”, brincou o autor, que buscará exemplos da realidade nacional para compor os políticos da sua cidade fictícia. “O público certamente saberá de quem estamos falando aqui.”

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Os caras-pintadas dos anos 90 e os jovens que fizeram a “primavera árabe” aparecem refletidos no movimento saramandista. “A novela original trazia uma metáfora da ditadura, que não caberia mais usar. Mas hoje em dia temos outro tipo de ditadura: a da intolerância às diferenças e a dificuldade de aceitar comportamentos fora dos padrões. O plebiscito para a mudança do nome é uma metáfora para o começo de um novo tempo”, observa o autor, acostumado a assinar novelas recheadas de realismo fantástico, como A Indomada (1997) e Porto dos Milagres (2001), em dupla com Aguinaldo Silva. “A primeira novela era atemporal, mas esta é fincada nos dias de hoje – os personagens têm celular, tablet, usam internet e tudo o mais. É um grande desafio para o realismo fantástico.”

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Tema de abertura

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https://youtube.com/watch?v=mfCTr3-l4fQ

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Zico Rosado põe formigas pelo nariz

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Saramandaia é lembrada por alguns dos personagens mais emblemáticos das novelas, como a Dona Redonda, que explodia de tanto comer, o professor Aristóbolo, que virava lobisomem, e a Marcina, que de tão fogosa, pegava fogo – antes vividos por Wilza Carla, Ary Fontoura e Sônia Braga, eles são agora de Vera Holtz, Gabriel Braga Nunes e Chandelly Bráz. Linhares aumentou o tom da fantasia, e criou para a nova versão gente como Tibério Vilar (Tarcísio Meira), que de tanto ficar em casa, cria raízes; Candinha (Fernanda Montenegro), que cria galinhas mágicas, só vistas por ela e pelo público; e Vitória (Lilia Cabral), que literalmente derreterá de amor por Zico (José Mayer). “O que eu mais aproveitei da história do Dias foram esses personagens emblemáticos. Mas as histórias são outras, não é simplesmente um remake”, explica o autor. “Acho que o realismo fantástico caiu em desuso porque as pessoas preferem, hoje em dia, depois da moda dos reality shows, representações literais da realidade. Mas ainda há espaço para personagens como os de Saramandaia, principalmente no horário das 23”.

Com 57 capítulos e direção de Denise Saraceni, a primeira comédia do horário que já teve O Astro (2011) e Gabriela (2012) deve encantar o público com todos os efeitos especiais que faltaram no original. O maquiador inglês Mark Coulier, premiado pela caracterização de Meryl Streep no filme A Dama de Ferro, foi consultor da equipe que desenvolveu a roupa especial que deixará Vera Holtz gorda. “Os efeitos da novela original parecem toscos hoje, mas foi feito o que era possível na época. Antigamente, a Dona Redonda era gorda porque a Wilza Carla era gorda – já a Vera é gorda apenas em cena. O Gibão só mostrava as asas na última cena do último capítulo. Agora, elas aparecem logo no primeiro capítulo”, anota Linhares, que se lembra com carinho de quando, aos 14 anos, ficou encantado com a obra de Dias Gomes em 1976 e não esconde a satisfação de arriscar um passo além da obra do mestre da dramaturgia nacional. “Tenho mais possibilidades de soltar a imaginação, mas não posso pirar. Os efeitos – você não tem ideia! – dão muito trabalho à produção”, afirma.

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