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John Malkovich: ‘Sou um ignorante em termos de cinema’

Ator americano, que está no Brasil para uma curta turnê de teatro, fala de sua carreira, de seus atores favoritos e de sua grife

Por Carlos Helí de Almeida
2 nov 2011, 10h52

“Faço o que acho interessante em um determinado momento na vida. Sempre foi assim. Algumas coisas funcionaram, outras não. Continuo fazendo coisas que me parecem estimulantes. Mesmo quando trabalho apenas pelo cachê, o esforço é o mesmo. Trabalhei duro tanto em filmes como Transformers 3, ou Red, produções vistas por milhões de pessoas, quanto nos filmes que faço com (o diretor português) Manoel de Oliveira, que será visto por uns oito espectadores”

Jack Unterweger, o maníaco sexual austríaco da peça The Infernal Comedy – Confissões de Um Serial Killer, que começa sua curta turnê pelo Brasil na noite desta quarta-feira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, é apenas uma das muitas facetas de seu intérprete, John Malkovich. Aos 57 anos, o ator americano demonstra inteiro domínio de seu potencial criativo, multiplicando-se nas atividades de diretor e produtor de teatro, cinema e ópera (a última, The Giacomo Variations, sobre o conquistador veneziano do século 18, foi encenada em Viena no início deste ano), e no papel de empresário – é dono de uma grife de roupas e sócio de boates em Portugal.

“Sou movido por coisas que me estimulam intelectualmente”, disse Malkovich ao site de VEJA, durante o Festival de Marrakech, onde foi presidente do júri. Um dos mais respeitados atores de sua geração, Malkovich é um dos raros profissionais da indústria do cinema a transitar entre superproduções de Hollywood, como o recente Transformers 3, e projetos de realizadores europeus, sem manchar a reputação em nenhum dos dois nichos. “A entrega ao trabalho é a mesma”, garante o eterno Visconde de Valmont de Ligações Perigosas (1989), de Stephen Frears. Leia trechos da entrevista:

O senhor sente-se satisfeito com suas escolhas profissionais, seja no cinema ou no teatro?

Não penso muito nisso. Faço o que acho interessante em um determinado momento na vida. Sempre foi assim. Algumas coisas funcionaram, outras não. Continuo fazendo coisas que me parecem estimulantes. Mesmo quando trabalho apenas pelo cachê, o esforço é o mesmo. Trabalhei duro tanto em filmes como Transformers 3, ou Red, produções vistas por milhões de pessoas, quanto nos filmes que faço com (o diretor português) Manoel de Oliveira, que será visto por uns oito espectadores. O trabalho é o que fica.

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Que atores o inspiraram quando jovem e ainda admira hoje em dia?

Há tantos grandes atores…. De Bill (William) Hurt a Bruno Ganz, de Robert Duvall a Al Pacino… Realmente gosto de atores, da companhia deles, de trabalhar com eles. Mas nunca me senti influenciado por atores quando jovem. Não se pode ser outra pessoa, pensar nisso é uma perda de tempo. Posso gostar de Isabella Adjani ou de Jean Dujardin, mas nunca serei essas pessoas. Esse tipo de relação de sentimento não sustenta a relação com o que faço.

Como andam os negócios com a sua grife de roupas masculinas, a Tecnobohemiam?

Continuamos muito bem. Estamos prestes a completar 10 anos de atividade. A sede fica na região da Toscana (Itália), mas nossas criações podem ser encontradas em diversas lojas na Europa, como a The Corner, em Berlim (Alemanha), ou em endereços de Amsterdam (Holanda). Só não me peça para descrever o estilo das roupas que criamos. Detesto quando me perguntam isso. Digo apenas que fazemos roupas para homens maduros e elegantes.

Quais seus estilistas favoritos?

Gosto de muitos e por diferentes razões. Alguns porque fazem ótimos sapatos, outros por causa dos ternos. Não gostaria de citar nomes. Até porque, em geral, os designers podem ser tão narcisistas às vezes… “Por que ele não mencionou meu nome?”. Gosto dos calçados do Christian Louboutin, por exemplo, até escrevi a apresentação de um dos livros dele. Mas também admiro os mais tradicionais, como Yves Saint Laurent, do (Cristóbal) Balenciaga… Há tantos estilistas que fazem coisas interessantes, não saberia apontar um favorito, somente.

Que grife o senhor costuma usar regularmente?

A minha.

Suas origens estão no teatro. Acha que o palco o ajudou na carreira cinematográfica?

Creio que não me ajudou em nada. Na verdade, nunca pensei em termos de escolha. Para mim, sempre foram profissões diferentes. Então, não fazia sentido escolher entre uma coisa e outra. Não me interessa se é um filme ou uma peça, o importante é trabalhar com um bom material. Sei que não há nada mais torturante do que estar sentado na plateia de uma peça ruim. Mas assistir a um filme ruim também não é divertido. Especialmente quando você participou dele.

Quero ser John Malkovich o transformou em um ícone da cultura pop. Gostou de interpretar a si mesmo no filme de Spike Jonze?

Adorei o roteiro, acho o filme ótimo, gostei muito de trabalhar com Spike, mas o filme não é sobre mim, realmente. Nunca tinha conhecido (o roteirista) Charlie Kaufman antes de fazer aquele filme. O personagem de Quero Ser John Malkovich e o impacto que ele gerou tem a ver com a imaginação de Charlie e a ideia que ele fazia de mim. Não participei da criação do filme. Ok, cheguei a discutir a escalação do elenco. Gostei das escolhas que eles fizeram. Só cheguei a insistir para convidarem o Charlie Sheen para interpretar o meu melhor amigo no filme. Foi a única discussão que fiz questão de vencer com o Spike. É uma decisão que defendo até hoje. Charlie Sheen é o único que gostaria de ter a meu lado durante uma crise existencial.

O que acha do cinema americano produzido hoje?

Acho que não conheço bem muito bem o cinema americano, ou o cinema, em geral. Não sou um cineasta, ou um cinéfilo, vejo uma média de cinco a dez filmes por ano. Então, sou um ignorante em termos de cinema. Gostaria de poder assistir aos filmes que a maioria das pessoas assiste normalmente, mas não tenho tempo para isso.

O senhor já foi indicado duas vezes ao Oscar. A última vez ocorreu há quase duas décadas, por Na Linha de Fogo, em 1994. Sente falta do reconhecimento do prêmio?

Confesso que não tenho qualquer interesse no Oscar, ou no que ele representa. Todo ano temos muitos desempenhos excelentes em cinema. Tenho tido sorte de poder trabalhar com gente fantástica, em várias partes do mundo, não só nos Estados Unidos, e não busco qualquer tipo de recompensa por isso. De qualquer forma, se há algo que mais detesto é fazer discurso em público. Estou muito feliz de ficar do lado de fora da festa.

O senhor tem uma casa no interior da França. O que há de especial lá?

Gosto de muitas coisas diferentes. Os belgas costumam dizer que a França é um dos mais belos países do mundo, mas o problema do país é que ele está cheio de franceses. (risos). Discordo dos belgas. Tenho muitos amigos franceses, encontrei lá muitas pessoas divertidas, acolhedoras, e que foram gentis comigo. Vivo parte do meu tempo lá. Não muito tempo, porque não consigo passar muito tempo em lugar nenhum. Prefiro o campo a qualquer cidade francesa. Gosto das pessoas, do estilo de vida deles, da cultura. Não sou grande fã da comida, no entanto.

LEIA TAMBÉM:

John Malkovich desdenha do cinema americano: “Deixe que os franceses continuem fazendo filmes”

Quero ser John Malkovich:

https://youtube.com/watch?v=thJdXhmQ0jA

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