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Da paradinha à paradona: a arriscada competição por criatividade nas baterias

Espetáculo dos ritmistas envolve risco para toda a escola e não rende ponto a mais. Mangueira usou carro de som extra para não atravessar

Por Cecília Ritto e João Marcello Erthal
21 fev 2012, 18h14

“Quando a bateria para, toda a responsabilidade fica sobre um quesito: a bateria. E se ela falha, ficam comprometidos o ritmo, a sustentação do desfila, o canto, a dança, a evolução. Particularmente não gosto, e não sei como os jurados este ano vão avaliar o que foi feito”, afirma Mestre Paulo, da Vila Isabel

É bonito de ouvir. E ver. A cadência do samba ‘assusta’ as arquibancadas e, segundos depois, o público vai ao delírio, com as variações que os surdos comandam cada vez que uma paradinha é executada durante o desfile. Na noite de segunda-feira, o comentário foi não uma pequena parada, mas uma ousada interrupção de cerca de três minutos da bateria da Mangueira, conhecida justamente por sua tradição e por não se render com facilidade às inovações do samba.

Se a paradinha é garantia de espetáculo, o mesmo não se pode dizer quando é hora de somar pontos na competição. Paradinhas, paradonas, funk, baião. Nada disso conta pontos. E o que é mais arriscado: um erro pode comprometer décimos preciosos na apuração. Mestre Paulinho, da Vila Isabel, que fez uma apresentação impecável na noite de domingo, levou para a avenida a batida do kuduro intercalada com a levada do samba da azul e branca, sobre Angola. Mas parar a bateria, na opinião de Paulinho, com a experiência de 43 anos de desfile, é um risco que vai além da responsabilidade que devem ter os ritmistas.

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“Quando a bateria para, toda a responsabilidade fica sobre um quesito: a bateria. E se ela falha, ficam comprometidos o ritmo, a sustentação do desfile, o canto, a dança, a evolução. Particularmente não gosto, e não sei como os jurados este ano vão avaliar o que foi feito”, afirma. “O jurado tem que estar atento. Num desfile, os ritmistas estão a centenas de metros de quem tem que cantar. Pode ser entendido como criatividade, mas também pode ser algo que compromete demais a apresentação”, explica.

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Paulinho estabelece uma linha divisória entre o que pode ser considerado malabarismo e as contribuições efetivas ao enredo. “Fizemos o kuduro, que é algo de Angola. Foi algo discutido com toda a escola, pensado. Não tem sentido, por exemplo, colocar funk em um enredo como esse. No nosso caso, a bossa foi algo que deu uma contribuição para contar a história que levamos para a avenida”, analisa.

Quem assiste ao show da bateria nem percebe, mas o instante em que a variação rítmica entra em ação é cuidadosamente escolhido, como explica Mestre Paulinho. “Com o samba enredo escolhido, nós escolhemos um trecho da melodia em que a variação pode se encaixar. Não pode ser algo que fira o andamento, a divisão. Explicamos aos ritmistas a ideia e cada instrumento vai adaptando sua frase. Isso vai sendo assimilado até que entra no sangue”, conta, lembrando de um detalhe: “Se a quebrada ou paradinha for executada durante a apresentação da comissão de frente, por exemplo, como fica quem está lá longe?”

O risco de parte da escola atravessar foi, no caso da paradona de três minutos da Mangueira, uma preocupação especial. Zé Paulo Sierra, interprete da escola há três anos, conta que, além de todo o trabalho de ensaio, um recurso ajudou a manter uniforme o andamento do samba: um carro de som a mais, desconectado do sistema de áudio geral da Sapucaí. Foi esse carro, levado especialmente para a escola, que permitiu que a voz de Alcione, Dudu Nobre e Xande (do grupo Revelação) mantivessem as primeiras alas no ritmo correto. “Ensaiamos bastante. Foram de três a quatro meses de ensaio, ensaio duro, acerto, erro. Mesmo sabendo o que faríamos, tomamos um susto quando isso aconteceu, porque não esperávamos o tamanho da aceitação. Ficamos temerosos, é muito tempo parado, não sabíamos com 100% de certeza o que aconteceria”, diz, agora satisfeito com o resultado.

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O segredo, claro, também ajudou a causar o efeito surpresa. “Guardamos isso a sete chaves”, revela Zé Paulo. “Muita gente na escola não sabia que isso aconteceria. Eles também ficaram surpresos, e o efeito positivo só aumentou”, comemora.

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