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Se seguiu o próprio exemplo, Lula aconselhou Dilma a livrar-se de Palocci antes que a crise contamine todo o governo

Quando teve seus 'primeiros-ministros' envolvidos em escândalos, o ex-presidente relutou, mas acabou tirando-os do cargo para preservar o governo

Por Adriana Caitano
6 jun 2011, 15h45

Às voltas com a crise provocada pelas denúncias contra seu principal ministro, o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, a presidente Dilma Rousseff decidiu pedir conselhos justamente a quem, em seus mandatos, vivenciou uma sequência de escândalos envolvendo ocupantes do cargo: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No domingo, Dilma e Lula conversaram pelo telefone sobre o futuro de Palocci. O teor da conversa obviamente não foi divulgado. Mas as reações do ex-presidente em casos semelhantes, durante sua gestão, mostram a tendência de preferir desfazer-se do ministro a deixar que a crise contamine o restante do governo.

A quem analisa o histórico recente do cargo, o comando da Casa Civil parece amaldiçoado. Os quatro últimos integrantes da pasta enfrentaram turbulências no cargo. Dois foram demitidos, Palocci ainda tenta se equilibrar, e apenas um escapou da degola – justamente Dilma Rousseff, que deixou a pasta para se tornar a candidata vitoriosa do PT à Presidência. A maldição, no caso, parece associada ao modelo de atuação da pasta. Desde que tornou-se eminentemente política, há alguns anos, a vaga é ocupada por quadros de confiança do presidente, com a obrigação de negociar cargos em funções estratégicas e costurar alianças. Com tanto poder, o ministro atrai para si todos as atenções, o que o coloca, sempre, sob constante vigilância.

O pioneiro em crises na Casa Civil foi José Dirceu, precursor também da imagem de super-ministro. No início do primeiro mandato petista, Dirceu mandava e desmandava em Brasília, até que seu assessor Waldomiro Diniz foi flagrado pedindo propina a um empresário do ramo de jogo do bicho. Diniz foi demitido e o problema apenas respingou no ministro.

Em 2005, porém, o poder de Dirceu não resistiu ao escândalo do mensalão. O esquema milionário de desvio de verba pública para comprar a fidelidade de parlamentares aliados e abastecer suas campanhas eleitorais foi a cartada final. Mesmo negando a existência do esquema, Lula demitiu o ministro para salvar o governo. Mais tarde, Dirceu teve o mandato de deputado federal cassado e os direitos políticos suspensos, o que não o impediu de seguir com forte influência nos bastidores, como um dos maiores lobistas do país.

Dilma Rousseff, foi alçada à fama como substituta de Dirceu. Ainda que não tenha sido obrigada a deixar a vaga pelas portas dos fundos como seu antecessor, ela também enfrentou momentos delicados na Casa Civil. Em 2009, Dilma foi acusada pela ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira de ter pedido uma interferência nas investigações tributárias sobre a família do presidente do Senado, José Sarney. A então ministra e pré-candidata à Presidência nega até hoje que o encontro tenha acontecido.

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Um ano antes, quando a farra do uso de cartões corporativos por ministros do governo Lula foi descoberta, assessores de Dilma foram procurar indícios semelhantes contra os ex-ministros do governo Fernando Henrique. Na ocasião, o nome da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, surgiu como mandante da elaboração do dossiê. Como a sindicância interna feita a pedido da ministra deu em nada, Erenice tornou-se a substituta de Dilma quando ela foi se dedicar à campanha presidencial.

Queda – Em 2010, mais uma vez a maldição da Casa Civil caiu sobre a ocupante do cargo. Em setembro, VEJA revelou que o filho de Erenice, Israel Guerra, intermediava contratos milionários entre empresas privadas e governo mediante o pagamento de uma taxa de sucesso. A ação tinha a anuência e o apoio da mãe ministra, que acabou caindo antes que atrapalhasse a eleição de sua antecessora para a Presidência.

O atual super-ministro, Antonio Palocci, já assumiu a cadeira com currículo promissor para manter a tradição do posto. No governo Lula, foi acusado de quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que havia revelado ter visto o petista em uma mansão frequentada por lobistas e onde eram feitos negócios escusos. Palocci foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), muito depois de ser demitido por Lula do comando do Ministério da Fazenda, em 2006.

Agora, com a descoberta de seu enriquecimento súbito e mal explicado, e a revelação feita por VEJA desta semana de que ele vive em um apartamento que está em nome de um laranja, Palocci acumula motivos suficientes para seguir o exemplo de seus antecessores problemáticos: ou pega a trouxa e sai pelas portas dos fundos ou será obrigado a fazê-lo pela própria presidente, aconselhada por Lula.

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