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A maldição da Casa Civil

Desde que o PT tomou o poder, dois ministros da pasta caíram sob suspeita de corrupção; Antonio Palocci corre risco

Por Carolina Freitas
17 Maio 2011, 15h58

Ninguém esquenta a cadeira de ministro-chefe da Casa Civil. Nos últimos oito anos, dois ministros da pasta – José Dirceu e Erenice Guerra – deixaram o cargo sob suspeita, apesar dos limites éticos elásticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista defendeu os ministros até que a pressão pública se tornasse insustentável. Antonio Palocci precisa ter cuidado. Para se livrar da maldição da Casa Civil terá de explicar como multiplicou por vinte seu patrimônio de 2006 para 2010 – de 375.000 reais para 7,5 milhões de reais. Até mesmo a presidente da República, Dilma Rousseff, já esteve com a cabeça a prêmio por duas vezes quando era titular da Casa Civil, no governo Lula. Em 2008 descobriu-se que Dilma comandou a elaboração de um dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 2009, a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, contou ter sido pressionada pela ministra para arquivar uma investigação contra o filho do senador José Sarney. Determinado a proteger Dilma e fazê-la sua sucessora, Lula abafou os casos e manteve a pupila no ministério até que ela tivesse de sair por determinação da Lei Eleitoral, para disputar as eleições de 2010. Dilma, sabe-se, foi o plano B de Lula. O plano A era José Dirceu, que assumiu a Casa Civil já no primeiro governo do petista. A meta era fortalecê-lo para suceder a Lula em 2011. Os fatos, no entanto, falaram mais alto. Em 2004 veio à tona o Caso Waldomiro Diniz. Homem de confiança de Dirceu, Waldomiro negociava com bicheiros o favorecimento em concorrências, em troca de propinas e contribuições para campanhas eleitorais. Dirceu resistiu ao bombardeio. Em 2005, no entanto, estourou o maior escândalo da era Lula: o mensalão. Em troca de apoio político, o governo pagava, com dinheiro desviado de empresas estatais, uma mesada a deputados da base aliada. José Dirceu era nada menos que o chefe do esquema, de acordo com denúncio do Ministério Público Federal. Caiu em junho de 2005. Arquivo VEJA: O mensalão do PT Dilma Rousseff assumiu então a pasta e, blindada, conseguiu resistir até a campanha presidencial de 2010. Indicou como sucessora Erenice Guerra, seu braço direito no ministério. Erenice esteve por trás dos dois escândalos da gestão de Dilma como ministra. Foi ela quem ajudou a reunir os dados para o dossiê sobre FHC e quem agendou a reunião entre Dilma e Lina Vieira. No cargo de ministra, Erenice foi alvejada por reportagem de VEJA, que revelou em setembro de 2010 que o filho dela, Israel Guerra, comandava, com a sua ajuda, um esquema de lobby dentro da Casa Civil. Por meio do pagamento de uma taxa de sucesso, o filho da ministra facilitava a aproximação entre empresários e o governo. Dois dias após a denúncia, Erenice pediu demissão. O ministério ficou sob responsabilidade do então secretário-executivo da Casa Civil Carlos Eduardo Esteves Lima até o fim do governo Lula. Leia também: Erenice Guerra e o escândalo na Casa Civil Com a vitória de Dilma na disputa presidencial, Palocci foi nomeado chefe da Casa Civil. Ele próprio já havia sido demitido do ministério do PT, em 2006, quando comandava a Fazenda. Palocci foi o beneficiário da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que denunciou a existência das festas da república de Ribeirão em uma casa em Brasília, com lobistas. Palocci fazia parte do grupo. Leia também: Palocci, da ascensão meteórica à derrocada Apesar das evidências, em 2009 o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou a denúncia do Ministério Público contra o ex-ministro e o livrou de uma ação penal, o que deixou o caminho livre para que ele voltasse à vida pública. Palocci foi um dos nove ministros de Lula afastados em meio a escândalos nos anos de governo. Além de Palocci, Dirceu e Erenice, caíram por irregularidades Luiz Gushiken (Comunicação), Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), Romero Jucá (Previdência), Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) e Silas Rondeau (Minas e Energia). Um bom exemplo – O governo do ex-presidente Itamar Franco ofereceu, em 1993, um exemplo de como tratar as turbulências na Casa Civil. Itamar afastou temporariamente o ministro Henrique Hargreaves assim que o nome do auxiliar foi mencionado como integrante do esquema de corrupção dos anões do orçamento. Revelado pelo economista José Carlos Alves dos Santos, em entrevista a VEJA, o esquema envolvia governadores, ministros e parlamentares. Eles recebiam comissões gordas para favorecer empreiteiras e desviavam recursos para entidades de assistência social fantasmas. Após a conclusão das investigações conduzidas por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Hargreaves foi inocentado e reconduzido ao posto de ministro da Casa Civil. Permaneceu no cargo até o final do governo Itamar.


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