Polícia encerra rebelião de internos da ex-Febem
Tumulto começou por causa de uma tentativa de fuga frustrada
Foi controlada por volta de 19h30 desta quarta-feira a rebelião dos internos da Unidade Paulista da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA), na Vila Maria, zona norte da capital paulista. No meio da tarde, os adolescentes começaram a queimar colchões no pátio e tornaram pelo menos cinco funcionários e outros internos reféns. Após negociação, policiais entraram no prédio e renderam os rebeldes, sem a necessidade de violência.
Antes da rendição, mais de 10 viaturas do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Rota e da Polícia Militar se posicionaram na porta do prédio e helicópteros sobrevoaram o local. Em poucos minutos, os adolescentes foram despidos, revistados e reunidos no pátio da unidade. Em seguida, levados para o refeitório. Após o controle da situação, o corregedor da Fundação Casa, Jadir Pires de Borba, informou que os adolescentes se entregaram sem confronto. “A rebelião não tinha uma pauta pré-determinada de reivindicações nem uma liderança, o que dificultou a negociação”, comentou.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência e Educação à Criança ao Adolescentes e à Família de São Paulo (Sitraemfa), Júlio Alves, a rebelião começou por causa de uma fuga frustrada. “Depois os internos tentaram improvisar reivindicações, como celular e visita íntima”, explicou.
Após o fim da confusão, o vigilante Robson Martins deixou o prédio relatando que havia funcionários e internos machucados. Segundo ele, o tumulto começou quando alguns adolescentes usaram um pedaço pontiagudo de uma cadeira para render uma professora. “Eles queriam fugir, mas o vigilante que estava lá foi ligeiro, fechou a porta e chamou apoio. Quem ficou lá dentro virou refém”, contou.
Preocupação – Em frente ao portão de acesso da Fundação Casa, parentes dos internos e de funcionários estavam apreensivos à espera de notícias. “Minha mãe não ficou em poder dos internos, mas me ligou pedindo para vir buscá-la e disse que havia muita confusão e gente machucada lá dentro”, relata Márcia Félix, que foi buscar a mãe Maria Inês, 65 anos, funcionária da unidade.
A mulher de um dos coordenadores da unidade, que se identificou apenas como Irailma, disse ter reconhecido o marido ao vê-lo ensanguentando em imagens do tumulto pela TV. “Falaram que não tinha ninguém machucado, mas eu estava vendo ele ali com a cabeça enfaixada”, comenta. “Eu achava que nunca iam por a mão nele. Fiquei assustada, quase morri do coração.”
Balanço – De acordo com o corregedor da Fundação, 12 funcionários ficaram reféns, alguns saíram com escoriações, mas nenhum gravemente ferido. Entre os adolescentes, oito ficaram feridos – dois deles foram agredidos pelos próprios colegas. Borba diz que não está definido o que motivou a rebelião. “Não posso dizer se foi mesmo uma tentativa de fuga. Eles não tinham armas, depois passaram a quebrar carteiras e cadeiras e queimar colchões”, relatou.
Segundo o corregedor, funcionários e policiais avaliam se o local poderá ser liberado para que os internos passem a noite. “Esta é uma unidade tranquila, mas com adolescentes com perfil um pouco mais grave”, amenizou. “Será apurada a responsabilidade de cada adolescente e eles poderão receber sanções, como a restrição de acesso e a redução do tempo de visita”.
Histórico – A antiga Febem era conhecida por ser palco de frequentes rebeliões. Somente em 2003, foram 80 registros. Em junho de 2005, o governo resolveu mudar a estrutura da internação de adolescentes no estado, substituindo os megacomplexos por unidades menores. O número de unidades desde então subiu de 88 para 132: 49 de internação, 51 de internação provisória, 6 de atendimento inicial e 26 de semiliberdade. Na Unidade Paulista, há 56 adolescentes em conflito com a lei internados, todos são reincidentes.
Em 2006, a fundação mudou de nome para Casa. Atualmente, ela custa 824 milhões de reais por ano, 80% a mais que em 2005. O custo de cada interno é de 3.709 reias por mês – um detento do sistema penitenciário comum custa 1.000 reais. As mudanças, com a implementação de atividades profissionalizantes e artísticas, surtiram efeito. Nos últimos anos a quantidade de rebeliões tem sido decrescente. Em 2010 foram cinco.