PGR pode recorrer ao Supremo para não depor à CPI
Roberto Gurgel diz não acreditar em sua convocação, mas, caso isso ocorra, poderá argumentar que isso impede sua atuação em investigações
Diante da pressão de parlamentares da CPI do Cachoeira para que seja convocado a depor, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, trabalha com a hipótese de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não ter de comparecer a uma convocação do colegiado. Caso um requerimento de convocação seja aprovado pelos parlamentares, o pedido de habeas corpus à Suprema Corte traria o argumento de que o depoimento de Gurgel o transformaria em testemunha do caso e poderia torná-lo impedido para atuar em inquéritos em curso e ações penais sobre as operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal (PF).
Por ora, o chefe do Ministério Público, que recebeu na última semana o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e o relator, Odair Cunha (PT-MG), acredita que, politicamente, os parlamentares da CPI não vão optar por convocá-lo. O próprio Cunha, no entanto, informou que a presença ou não do procurador-geral na comissão de inquérito deverá ser novamente discutida na próxima semana, quando a CPI fará reunião administrativa no dia 17.
Explicações – Roberto Gurgel é cobrado a dar explicações sobre as investigações envolvendo agentes públicos e privados e o bicheiro Carlinhos Cachoeira e sobre a razão pela qual demorou cerca de três anos para apontar ao Supremo indícios de crime por parte de Demóstenes Torres. Em seu parecer ao STF, o procurador-geral diz haver indícios de que o senador praticou crimes de corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa.
“Constatou-se que o senador Demóstenes Torres mantém estreitos vínculos com Carlos Cachoeira de natureza pessoal e também de natureza profissional. O conteúdo das conversas revela graves indícios de que o parlamentar valia-se do seu cargo para viabilizar interesses econômicos comuns de Carlos Cachoeira. Os vínculos (…) extrapolam em muito os limites éticos exigíveis na atuação parlamentar, adentrando a seara penal”, disse Gurgel em sua manifestação ao STF.
Para ele, se tiver de explicar à CPI – e, portanto, fora dos autos – detalhes da investigação e a eventual participação de Demóstenes no esquema, por exemplo, seu papel como investigador deverá ficar prejudicado e ele não poderá futuramente oferecer denúncia à Justiça sobre os desdobramentos das operações policiais.
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