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O PT a caminho da oposição: um partido perdido

Com as chances cada vez maiores de se ver sem a força da máquina pública pela primeira vez em 14 anos, partido ventila tese golpista de novas eleições, mas não consegue chegar a consenso interno sobre qual rumo seguir

Por Da Redação 23 abr 2016, 10h31

Depois de quase catorze anos no poder, o PT está prestes a voltar à oposição. E já dá mostras do que pretende. Com chances cada vez menores de barrar o processo de impeachment de Dilma Rousseff no Senado, o partido se vê às voltas com manobras para deslegitimar um eventual governo Michel Temer – com destaque para o golpe das novas eleições, esta sim uma alternativa inconstitucional. Num gesto de desespero, membros do partido defendem uma Proposta de Emenda Constitucional que permitiria antecipar o pleito de 2018. Ou ainda a dupla renúncia de Dilma e Temer. Duas ideias sem respaldo na realidade: a legenda que não conseguiu 172 votos para barrar o impeachment na Câmara não conseguiria os votos de 3/5 dos deputados necessários à aprovação de uma PEC. Tampouco é factível imaginar que Temer aceitasse um acordo desse tipo com o PT.

Fustigado pelo escândalo do petrolão, o partido pode desembarcar do Palácio do Planalto dentro de um mês, conforme o calendário do Senado. O PT tentará barrar o processo de impeachment com votos de aliados no Senado e deve provocar o Supremo Tribunal Federal a se manifestar sobre o mérito das acusações de crime de responsabilidade contra Dilma. Mas há outras iniciativas em gestação. Desde a última sexta-feira, quando começou a série de debates na Câmara que culminou nos 367 votos favoráveis ao afastamento de Dilma, outras teses foram lançadas. Nenhuma delas pareceu unir o partido. Por iniciativa individual ou coletiva, parlamentares, representantes do governo, o comando nacional do PT e as bancadas na Câmara e no Senado adotaram posturas por vezes contraditórias.

“Está todo mundo meio tonto. Ninguém está tendo muita capacidade de formulação para esse novo momento. No PT está todo mundo com medo, mas ninguém acreditando. Se o impeachment passar, vai ser uma pancada, vai deixar todo mundo tonto”, dizia o deputado Zé Geraldo (PA), num momento de reflexão no salão verde da Câmara.

Conselheiro jurídico do ex-presidente Lula e autor de estratégias para barrar o impeachment, o deputado Wadih Damous (RJ) abriu a temporada de propostas esdrúxulas ainda no primeiro dia de debates. Ele lançou a hipótese da convocação de eleições gerais. Mas sua fala na sequência já indica o óbvio: nem os petistas acreditam de fato que a tentativa de golpe do partido vai colar. “O PT vai reaprender a ser oposição, intransigente e sem dar tréguas”, disse. “Vai se tratar de um governo ilegítimo do PMDB. Eu vou defender dentro do partido eleições gerais já caso o impeachment aconteça”.

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Coube ao líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), admitir antecipadamente a derrota e ecoar os pensamentos do Palácio do Planalto. “Não tem nada de eleição geral. O PT é bom de briga nessas horas”. Porém, bastou chegar a noite de terça-feira para oito dos onze senadores do PT assinarem uma proposta de emenda constitucional (PEC) apresentada no Senado justamente para viabilizar a realização das eleições antecipadas.

Nos bastidores da Câmara, alguns dos petistas mais experientes da bancada e com base eleitoral em São Paulo já não disfarçam a verdadeira razão por trás da ideia de novas eleições: a tentativa de fazer o ex-presidente Lula voltar à Presidência da República. A legenda que está prestes a ser apeada do poder por crime de responsabilidade quer alçar ao comando do país uma figura na mira da Lava Jato e da Zelotes. Isso porque o partido avalia que ele ainda é o único com carisma e capaz de reunir forças de esquerda. Numa clara demonstração de perda de base social desde que se encastelou no poder, o PT só conseguiu mobilizar milhares de pessoas para ir às ruas depois que Lula foi conduzido para depor na Polícia Federal, teve um pedido de prisão entregue à Justiça e viu seus diálogos privados, muitos pouco republicanos, revelados pelo juiz Sérgio Moro.

Novo partido – A crise atual também ventilou nas fileiras do partido a proposta de criação de uma nova legenda. Petistas disseram que cerca de dez deputados estariam envolvidos nas discussões – sempre negadas em público. Seria um movimento semelhante à refundação do PT pregada pela corrente Mensagem ao Partido no auge do escândalo do mensalão em 2005. O ex-ministro Tarso Genro é um dos expoentes da corrente, assim como parte da bancada gaúcha na Câmara e do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, um dos mais próximos ministros de Dilma desde o início de seu primeiro mandato.

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A direção do PT demorou dois dias para se manifestar de maneira contundente depois da derrota na Câmara. Primeiro, soltou uma nota assinada pelo presidente nacional, Rui Falcão, cuja única palavra de ordem era conclamar “todos homens e mulheres comprometidos com a democracia para que se mantenham mobilizados, ocupando as ruas contra a fraude do impeachment”. Na terça-feira, depois de ouvir Lula, o Diretório Nacional publicou uma resolução que reconhece o “cerco” e o estado “defensivo” do governo Dilma.

Calvário – Ironicamente, o partido que gestou o mensalão e o petrolão diz no documento que o impeachment é liderado pelos “chefões da corrupção” e usa uma linguagem policialesca ao se referir a Temer como um “receptador” de um mandato “surrupiado”. Sugere ainda que Dilma aja como nunca fez antes: reforme seu ministério com “personalidades de relevo” e priorize pautas da esquerda, como a reforma agrária, relegada em seu governo. A resolução recorre ao mesmo terrorismo da campanha de 2014 e acusa o PMDB de planejar “ataques às conquistas dos trabalhadores, cortes nos programas sociais, privatização da Petrobras, achatamento dos salários, entrega das riquezas nacionais, retrocesso nos direitos civis e repressão aos movimentos sociais”.

O discurso tem um objetivo claro: agradar a militantes que, pagos ou por vontade própria, (ainda) vão às ruas em defesa de Dilma e do partido. A resolução evidencia que o PT buscará em sua via-crúcis de volta à oposição o apoio do PCdoB, do PSOL , do PDT e do nanico PCO. Um dos principais articuladores contra o impeachment, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), avaliou como pouco viável uma repactuação com um governo do PMDB. “Para todos que estão lutando contra o impeachment, o local correto será na oposição”, disse.

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