Indefinição do PT embaralha escolha de candidato tucano
Sobram postulantes no PSDB para disputar a prefeitura de São Paulo. Direção do partido trabalha pelas prévias para superar o traumático racha de 2008
A indefinição do PT na escolha do candidato à prefeitura de São Paulo embaralha as articulações dentro do maior rival do partido, o PSDB. Os líderes tucanos negam estar à espera de um movimento do rival para colocar as cartas na mesa, mas a ligação entre eles é histórica. Os tucanos só venceram na capital paulista quando o PT tinha um nome definido com antecedência. Foi em 2004, quando a então prefeita Marta Suplicy tentou a reeleição. O PSDB lançou José Serra e venceu com 54% dos votos. Foi o primeiro e único prefeito tucano.
A dúvida, na eleição de 2012, é: quão dispostos a correr riscos estão os tucanos? O ex-governador José Serra seria a opção mais segura para enfrentar a veterana Marta Suplicy. Se o PT escolher o new face Fernando Haddad, porém, o debate pende para a renovação. E o PSDB ganha espaço para lançar também uma novidade: o secretário estadual do Meio Ambiente, Bruno Covas, deputado estadual mais votado em 2010 que conta com apoio das bases e simpatia do governador Geraldo Alckmin.
Para se descolarem de fato do anúncio do adversário, os líderes do PSDB estão determinados a lançar mão de uma solução já esquecida dentro do partido – as prévias. “Até agora, o candidato mais forte tomava a decisão. As prévias teriam evitado um desgaste enorme em 2008. Já vivemos isso e não queremos repetir. Elas são o único caminho”, afirma o presidente do diretório municipal do partido, o secretário estadual da Gestão Pública, Julio Semeghinni.
As feridas de 2008 ainda não cicatrizaram. Nas eleições daquele ano, Alckmin lançou-se à prefeitura, mesmo com parte do PSDB decidida a apoiar a candidatura de Gilberto Kassab, então do DEM, vice de Serra que assumira a prefeitura dois anos antes. A animosidade chegou a tal ponto que Alckmin declarou: “Kassab é dissimulado. Ele usa as pessoas. Ele tem uma só estratégia: destruir o partido que o levou ao poder, o PSDB.” Derrotado no primeiro turno, Alckmin teve de recolher as críticas e apoiar Kassab no segundo turno, em nome de sua sobrevivência política.
Funcionou. Kassab foi eleito e Serra estendeu a mão a Alckmin: deu-lhe o comando de uma secretaria de estado e pavimentou o caminho do colega ao Palácio dos Bandeirantes. Assim, mesmo que Serra agora esteja enfraquecido, após a derrota na eleição presidencial do ano passado, pode contar com Alckmin.
Briga limpa – As prévias são um bom instrumento para evitar desentendimentos e tornar a briga limpa. O diretório municipal está empenhado em aprovar um sistema em que todos os filiados ao partido na cidade tenham direito a voto. São 20 000 pessoas. Os candidatos a candidato poderiam apresentar-se até trinta dias antes das prévias, que aconteceriam até março de 2012. “Cria-se uma disputa construtiva. Enquanto não se decide os candidatos, podemos discutir as propostas comuns a todos eles, para a cidade”, diz Semeghinni.
Do grupo de Serra são cotados o deputado federal Ricardo Tripoli, o senador Aloysio Nunes, o secretário estadual da Cultura, Andrea Matarazzo, e o próprio José Serra. Do lado de Alckmin, os pretendentes são José Aníbal e o favorito Bruno Covas. Serra e Aloysio são os mais reticentes. Irritam-se quando questionados sobre o assunto, mas, nos bastidores, testam as chances de sucesso de uma eventual candidatura. O ex-governador já deixou claro que, depois de duas derrotas nas eleições presidenciais, quer se firmar como um líder nacional, não regional. Aloysio exerce o primeiro dos oito anos de mandato como senador e se adaptou bem à rotina de Brasília: levou até a família para morar na capital federal.
Os dois têm mais um motivo para recusar a candidatura: podem delegar a tarefa ao fiel aliado Andrea Matarazzo. Bruno Covas, por sua vez, oferece ao partido um rosto novo e um pé nas raízes do PSDB – é neto do governador tucano Mario Covas. “Bruno é bom de voto, sério, preparado e tem sobrenome. Esse é o entendimento de um grupo dentro do partido”, defende um importante dirigente tucano. “Tem Serra, tem Aloysio, tem Andrea, tem Bruno. Só não tem unanimidade”, resume o presidente estadual do PSDB, deputado Pedro Tobias.
Aliados – O PSDB passa por um momento delicado na relação com seus partidos aliados. O velho parceiro DEM está esvaziado depois da desfiliação de Gilberto Kassab e de Guilherme Afif Domingos para fundar o PSD. Alckmin abriu espaço em seu governo para os democratas que sobraram em São Paulo. O secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, ex-homem de confiança de Kassab, é o nome mais forte do partido. Se o DEM der sequência ao plano de lançar candidatura própria – o que é improvável -, Garcia será o escolhido.
Boa parte da força política do DEM no estado migrou para o recém-criado PSD. A serviço de quem será colocada esta força é uma incógnita. Lembre-se: estamos falando daquele partido que, imortalizou Kassab, “não é de direita, nem de esquerda, nem de centro”. Ou, em palavras mais polidas, do vereador Police Neto, tucano que migrou para o PSD: “Não há inimigos. O importante é trabalhar pela cidade. Os adversários são apenas circunstanciais.”
O PSDB acompanha de perto as movimentações do PSD, ciente de que os únicos tucanos capazes de aglutinar essas forças são Serra e Aloysio. Sem eles, o PSD já tem um nome para a candidatura própria, Guilherme Afif Domingos – nada menos que o vice do governador Geraldo Alckmin. A decisão sobre o nome do candidato do PSDB para 2012 testará, sobretudo, os nervos dos tucanos. E mostrará se o partido de fato amadureceu desde o racha de 2008, como tentam provar seus líderes.