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Falta d’água põe em risco festas de Carnaval por todo país

Crise hídrica provoca o cancelamento da folia em cidades de Minas Gerais e São Paulo. Palcos de festas tradicionais, Ouro Preto (MG) e Olinda (PE) sofrem com racionamento. No Rio, estiagem altera até alegoria de escola de samba

Por Carolina Farina 3 fev 2015, 14h10

“Olha, olha, olha, olha a água mineral…” Cantavam os baianos do Timbalada naquele que se tornou o hit do Carnaval de 1996 – e seguiu agitando foliões nos verões seguintes. A folia deste ano ainda não tem seu hit definido, mas uma coisa é certa: em tempos de crise hídrica, este será, de fato, o Carnaval da água mineral. A escassez de chuvas que castiga, sobretudo, o Sudeste não altera apenas a rotina dos moradores da região: vai atrapalhar também a festa. Dez cidades de Minas Gerais e São Paulo já cancelaram as comemorações do Carnaval 2015 por causa da falta d’água. E outras se preparam para a festa sob o fantasma do racionamento.

A 174 quilômetros da capital paulista, a cidade de Araras estabeleceu rodízio de água para a população em outubro do ano passado. Com o abastecimento já comprometido, a administração municipal optou por cancelar a folia. Não haverá desfile das escolas de samba da cidade ou blocos de rua – sequer houve concurso para eleger o Rei Momo. A programação, agora, inclui apenas balies e matinês. Na vizinha Cordeirópolis, não é diferente: a cidade decretou estado de calamidade pública em junho de 2014 por causa da falta d’água. Temendo um colapso no sistema de abastecimento com a chegada de turistas, a prefeitura optou por cancelar a programação oficial de Carnaval deste ano.

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Na mineira Itapecerica, moradores chegam a ficar cinco dias na semana sem água – e ficarão também sem festa. No ano passado, a cidade recebeu em torno de 20.000 turistas para o Carnaval. Se o número fosse mantido em 2015, o sistema simplesmente não seria mais capaz de fornecer água. “A Copasa [responsável pelo abastecimento] garantiu água para a população regular da cidade. Para essa ‘população flutuante’, não nos deu nenhuma garantia”, explica Wellinton Cruz, secretário de Cultura e Turismo. A prefeitura ainda não calculou quanto a cidade deve perder sem folia, mas Cruz prevê impacto duro para o setor hoteleiro e de transporte. Outras sete cidades do Centro-Oeste de Minas Gerais tomaram a mesma decisão: Itaguara, São Gonçalo do Pará, Oliveira, Itabira, Passatempo, Carmópolis de Minas e Carmo da Mata.

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Palco de um dos mais tradicionais carnavais do país, Ouro Preto (MG) decretou racionamento de água quase um mês antes da festa. A expectativa é que o abastecimento seja normalizado até lá: a medida foi, na verdade, uma forma de prevenir que a cidade ficasse sem água durante as comemorações. Ainda assim, as famosas repúblicas onde se hospedam a maioria dos foliões em Ouro Preto podem ficar com as torneiras vazias em pleno Carnaval. O secretário de Turismo da cidade, Flávio Guerra, explica que essas casas hospedam muitas vezes uma população até seis vezes maior do que comportam – e não é possível, portanto, garantir o abastecimento normal delas. Já a rede hoteleira não deve enfrentar problemas. Apesar da medida preventiva, a crise hídrica já deixa sua marca na folia – e nos cofres – da cidade: Ouro Preto espera receber 10.000 turistas a menos do que no ano passado. Guerra credita a queda à falta d’água.

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O quadro não é exclusividade do Sudeste: com um dos mais famosos carnavais do Brasil, a cidade histórica de Olinda, em Pernambuco, está em racionamento de água desde dezembro por causa do baixo nível da Barragem de Botafogo. Durante o Carnaval, quando são esperados 2 milhões de turistas, haverá um esquema especial para abastecimento do sítio histórico e das praias, onde há o maior fluxo de pessoas, segundo a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa).

Mas não são apenas as cidades onde o racionamento já está decretado que sentem os efeitos da crise hídrica no Carnaval. No Rio de Janeiro, o bloco Imprensa Que Eu Gamo optou por não utilizar caminhão-pipa para lançar água sobre os foliões para minimizar o calor. Já na Sapucaí, a escola de samba União da Ilha adaptou o desfile à estiagem: o último carro alegórico da agremiação, batizado de fonte da juventude, agora terá uma fonte seca, alimentada por efeitos especiais e produtos químicos. O presidente da escola, Ney Filardi, explica que 4.000 litros de água foram economizados com a alteração – que acresceu o preço do desfile em 25.000 reais. “Isso em nada afeta a concepção da alegoria, apenas contribui para evitar o desperdício. Estamos engajados na campanha por economia também na quadra, onde usamos água da chuva para limpeza”, explica Filardi.

Na capital paulista, onde boa parte das torneiras fica vazia durante horas por causa da redução na pressão da água, trezentos blocos foram cadastrados pela prefeitura, que espera 2 milhões de foliões nas ruas. Os números apavoram moradores e comerciantes do bairro boêmio da Vila Madalena, que já sofre com a falta d’água. “Os bares já não têm água nos banheiros à noite, e precisamos usar baldes”, afirma Flávio Pires, presidente da Associação de Gastronomia, Entretenimento, Arte e Cultura da Vila Madalena (Ageac). Ele defende a proibição da passagem de blocos pelo bairro. A prefeitura alugou 900 banheiros químicos para este Carnaval. O vereador Gilberto Natalini (PV) vai além e defende o cancelamento da folia paulistana. Ele encaminhou à prefeitura e ao governo do Estado ofício em que pede o cancelamento desse e outros grandes eventos, como a Fórmula 1 e a Parada Gay. “Vivemos um pré-colapso”, afirma o vereador, que não obteve resposta oficial ao pedido. No Sambódromo, onde são esperados mais de 15.000 turistas nos quatro dias de desfiles, a São Paulo Turismo (SPTuris) tem um plano de contingência em caso de falta d’água. O Anhembi conta com dois grandes reservatórios de água e um poço, que juntos dão autonomia ao local por alguns dias, afirma a assessoria da SPTuris.

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Mas nem apenas de más notícias se faz a folia na seca. A crise hídrica inspirou pelo menos duas marchinhas em São Paulo: Sereia do Cantareira e Vou Espremer Calcinha. Esta última, do bloco Jegue Elétrico, brinda o folião com os seguintes versos: “Não Quero Saber / Se o Volume Tá Morto / Se a Seca do Nordeste / Vem Pras Bandas do Sul / Eu Tenho Certeza / E Disso Eu Não Me Engano / Vou Espremer Calcinha / E Beber Água de Pano”. No Carnaval, pode até falta água, mas nunca falta bom humor.

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