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Ambiguidade do PT reacende debate sobre privatizações

Concessão de aeroportos pelo governo federal contrapõe a timidez do PSDB à hipocrisia petista e deve trazer tema de volta à arena eleitoral

Por Gabriel Castro
8 fev 2012, 17h35

No Chile, as privatizações começaram a ocorrer há quase quarenta anos. Na Rússia pós-soviética, há mais de duas décadas. No Brasil de 2012, entretanto, esta forma de aumentar a eficiência da gestão estatal ainda parece ser um tabu. Agora que o governo do PT entregou à iniciativa privada três dos principais aeroportos brasileiros, o PSDB acusa os adversários de hipocrisia. É fato: os petistas fizeram do medo das privatizações uma arma eleitoral. Mas também é verdade que, durante muitos anos, os tucanos pareceram se envergonhar da meritória iniciativa de transferir à gestão privada algo que, sob a tutela do estado, causa prejuízo e funciona mal.

A venda dos aeroportos parece ter tirado a timidez do PSDB. Nesta terça-feira, lideranças do partido acusaram os adversários de cometer um “estelionato eleitoral”. Antes, os tucanos, temerosos com o discurso do adversário, apressavam-se em esconder o passado e dar garantias de que não pensavam em privatizar coisa alguma. Agora, resolveram comprar a briga.

Depois de atacar o PT e reconhecer que os tucanos parecem sentir vergonha de si mesmos, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, afirmou que o assunto deve voltar ao debate eleitoral: “Quem quiser ser candidato à Presidência vai ter de valorizar o nosso legado. Ou não será candidato”. Com a palavra, Aécio Neves: “Concordo. Há muito tempo nós abdicamos da defesa de parte importante de nosso legado, e as privatizações têm sido importantes para o Brasil”, disse o principal nome tucano para disputar o Planalto daqui a dois anos.

Ao site de VEJA, Aécio também ironizou a mudança de postura do PT. “Dou boas vindas ao PT ao mundo das privatizações. Faltou apenas uma mea culpa, um gesto de humildade de dizer que errou lá atrás, quando fez disso o tema mais relevante das campanhas eleitorais”.

Líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA) afirma que a decisão do governo Dilma de privatizar aeroportos retirou do PT o discurso alarmista sobre o assunto: “O PT vai ser cobrado fortemente por sua incoerência e nunca mais, em qualquer campanha, vai ter condições de usar esse tema no debate político”.

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Reação – As hostes petistas reagiram às críticas apontando uma suposta diferença no modus operandi das novas privatizações: o ex-ministro José Dirceu, apontado como o chefe da quadrilha do mensalão, publicou em seu blog um longo texto sobre o assunto. Mas usou apenas uma frase para explicar, de fato, o que há de tão diferente entre a solução tucana e a petista: “No caso dos aeroportos não são privatizações, mas sim concessões, como existem nos setores de transportes, ferrovias e portos”.

Não é bem assim: o PT sempre tratou como privatizações as concessões das rodovias paulistas, que seguem um modelo igual ao que agora foi usado para a terceirização dos aeroportos. O argumento petista soa mais como a repetição de uma tática antiga: mudar o nome das coisas na expectativa de que a natureza delas também se altere. Assim, privatização vira “concessão” como Caixa 2 foi chamado de “doações não-contabilizadas” e dossiê virou “banco de dados”.

O senador Lindberg Farias (PT-RJ) usa o mesmo discurso. E diz que o partido não teme que, nas próximas campanhas, seja vítima da própria incoerência: “Não vamos deixar de seguir esse caminho por causa de um debate eleitoral”, garante Farias, que repete os argumentos de Dirceu e tenta diferenciar as privatizações petistas das tucanas. O deputado José Guimarães (PT-CE), vice-líder do governo na Câmara, é outro que não dá o braço a torcer. “A diferença é que o PSDB queria privatizar tudo, inclusive os setores estratégicos da economia”, diz ele. “Administração de aeroporto não é estratégica.” A segunda parte do raciocínio é espantosa: além de sugerir que o setor de transportes não é nevrálgico para a economia – e para a própria vida – de um país, faz pouco do sofrimento a que os passageiros foram submetidos nos apagões aéreos registrados desde 2006. Ou seja, a definição de “estratégico” também muda de acordo com a conveniência política.

Em vídeo divulgado nesta quarta-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resumiu de forma clara o que o PT parece não compreender até hoje: “A privatização não é uma questão ideológica. É uma questão de responsabilidade para com o país”.

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