Vaza rascunho de encíclica em que papa alerta para destruição do ecossistema
Papa diz no documento que haverá “graves consequências para todos” se não forem tomadas medidas "urgentes" para combater a mudança climática
A revista italiana L’Espresso divulgou nesta segunda-feira um rascunho da encíclica – carta papal endereçada aos bispos – em que Francisco alerta para a “destruição sem precedentes do ecossistema” se a comunidade internacional não tomar medidas “urgentes”. O pontífice pede ainda uma “mudança radical da conduta humana” para minimizar os efeitos das mudanças climáticas. A revelação frustrou os planos do Vaticano, que pretendia tornar pública a visão pessoal do papa sobre o tema apenas na quinta-feira, em entrevista coletiva. Um representante da Igreja Católica disse que a publicação era um ato de “sabotagem contra o pontífice” e que o texto veiculado não era a versão final do documento. As opiniões de Francisco devem esquentar o debate sobre a questão ambiental nos próximos meses. Em setembro, o papa viajará aos Estados Unidos e possivelmente discursará na ONU e em uma sessão conjunta do Congresso americano. O país é um dos maiores poluidores do mundo.
O papa escreve na encíclica que a mudança climática é um fenômeno provocado principalmente pela ação do homem, opinião dominante entre cientistas. “A humanidade precisa tomar ciência da necessidade de mudanças no estilo de vida e nos métodos de produção e do consumo para combater o aquecimento, ou pelo menos as causas humanas responsáveis por produzi-lo e acentuá-lo”, disse. “Numerosos estudos científicos indicam que grande parte do aquecimento global nas décadas mais recentes é decorrente da concentração de gases do efeito estufa que são expelidos, acima de tudo, pela atividade humana”. Para o pontífice, haverá “graves consequências para todos nós” se não for estabelecido um combate mais efetivo à mudança climática.
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Francisco destaca que a Terra “está protestando pelos males que foram causados ao usarmos e abusarmos dos recursos que Deus colocou nela”. “Crescemos acreditando que éramos seus donos e dominadores e que estávamos autorizados a saqueá-la. A violência que existe no coração humano, machucado pelo pecado, também se manifesta nos sintomas da doença que vemos na Terra, na água, no ar e nos seres vivos”, acrescentou o papa. Ele salienta que, ao contrário de outras encíclicas, esta é destinada às pessoas de todas as religiões. “Diante da deterioração global do meio ambiente, quero falar com todos os habitantes deste planeta. Nesta encíclica, me proponho a entrar com todos na discussão sobre nosso lar comum”.
O papa também critica as pessoas que negam constatações científicas e dizem que o efeito estufa é um mito. “As atitudes que bloqueiam uma solução, até mesmo entre os que acreditam [na alteração climática], variam da negação do problema, à indiferença e à conivente resignação ou fé cega em soluções técnicas”, afirmou. Assim como seu antecessor, o papa emérito Bento XVI, Francisco propõe a criação de uma nova autoridade global cujo objetivo seja “reduzir a poluição e contribuir para o desenvolvimento de países e regiões pobres”. Em 2009, Bento XVI sugeriu em uma encíclica a criação de uma entidade parecida com a ONU para focar nos problemas econômicos mundiais e no combate às injustiças.
Esta não é a primeira vez que o papa aborda a questão climática. No fim do ano passado, o pontífice declarou que os negociadores da Conferência da Mudança Climática, realizada em Lima, no Peru, tinham “pouca coragem” para abordar a questão.
(Da redação)