IMPERDÍVEL: ‘Nerve’ põe em xeque excessos do mundo virtual
Thriller estrelado por Emma Roberts é mais que um ‘Jogo Vorazes’ com Wi-Fi
Em um mundo virtual dominado por haters — e um mundo real onde Pokémons podem ser caçados pelas ruas —, o thriller Nerve cai como uma luva e ainda consegue alfinetar o espectador com a reflexão: quais os limites das ações feitas na internet e suas implicações fora dela? Vendido como um “novo Jogos Vorazes”, caso de muitos outros filmes jovens do momento, Nerve se supera ao entrar com vigor e competência nos excessos da vida virtual. A obsessão desmedida por likes, a exposição pessoal, o cyberbullying, e o ódio exercido com o aval da identidade protegida fazem parte da trama em cartaz no Brasil.
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O mundo cruel (e rentável) da distopia infantojuvenil
Em um futuro bem próximo, a história acompanha a jovem Vee (Emma Roberts), uma garota tranquila intimidada por sua melhor amiga, a chamativa e ousada Sydney (Emily Meade). É ela quem apresenta à Vee o jogo online Nerve. O game, impossível de ser derrubado de seus múltiplos servidores, é alimentado por dois tipos de pessoas: quem observa e quem joga. O primeiro tipo paga pela assinatura, o segundo recebe dinheiro na conta quando completa desafios propostos pelos espectadores.
As provas são variadas e começam inocentes, como comer comida de cachorro ou pagar micos em público – tudo filmado e transmitido ao vivo pelo celular do competidor. Em um círculo, os mais populares, que conquistam numerosas visualizações e curtidas, também provocam seus fãs a lhe oferecerem desafios maiores e cada vez mais perigosos.
Vee aceita o papel de jogadora. Quando ela clica no link que a conduz pelo jogo, o filme mostra, literalmente por trás da tela do computador, as muitas informações da moça que são captadas pelo game – desde seu livro favorito, listado no Facebook, até seus dados bancários e de cartões de crédito.
Logo em seu primeiro desafio, Vee conhece Ian (Dave Franco), outro jogador que se torna seu parceiro. A relação dos dois evolui para um romance muito apreciado pelos observadores. Na primeira metade do filme, a paixonite adolescente é divertida, sensual e inocente ao mesmo tempo. O clima muda quando os desafios pedidos colocam em risco a vida dos jogadores mais populares, o que leva Vee a dedurar o esquema à polícia, quebrando assim a principal regra do game. A partir do terceiro ato, a tensão toma conta da história, que ganha contornos mais violentos e simbólicos.
As tolices joviais da produção são compensadas pela energia de seus diretores, Henry Joost e Ariel Schulman, ambos com 34 anos. Os jovens cineastas conduzem a história por pouco mais de 1h30 em um ritmo crescente, em que seus personagens começam na inocência dos corredores de uma escola para terminar em uma arena online de ameaças legítimas.
A dupla, vale lembrar, é a criadora da série da MTV Catfish, um reality show em formato documentário, que se propõe a desvendar perfis falsos de pessoas na internet envolvidas em relacionamentos virtuais. O sucesso do programa fez a MTV Brasil produzir uma versão nacional da atração, que estreia na próxima semana.
Desvendar perigos (e babacas) online virou uma especialidade dos diretores. E os jovens em busca de diversão fora da internet agradecem.