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Explodir o Sol com uma bomba nuclear? Dupla de pesquisadores tem a receita

Estudo mostra que o envio de uma bomba nuclear suficientemente forte para o interior do Sol pode dar início a uma reação em cadeia capaz de varrer o Sistema Solar. Pesquisadores da área, no entanto, são céticos quanto à ideia

Por Guilherme Rosa
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h18 - Publicado em 13 ago 2013, 17h21

Que tal explodir o Sol? Uma dupla de pesquisadores pensou nisso, e se atreveu a publicar um estudo detalhando a técnica, que consumiria todo o Sistema Solar – incluindo a Terra e a vida em sua superfície – em uma imensa bola de fogo. Para isso, a dupla formada por Alexander Bolonkin e Joseph Friedlander imaginou o lançamento de uma bomba nuclear capaz de percorrer toda a distância que separa a Terra do Sol, resistir ao calor e à radiação local e chegar ao coração do astro. Ali, uma explosão atômica daria início a uma reação em cadeia, levando a estrela a gastar todo o seu combustível em instantes e explodir em uma espécie de supernova artificial. A ideia parece fruto da mais pura ficção científica e, segundo outros cientistas, é simplesmente disso que se trata: pura especulação.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Explosion of Sun

Onde foi divulgada: periódico Computational Water, Energy, and Environmental Engineering

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Quem fez: Alexander Bolonkin, Joseph Friedlander

Resultado: Os pesquisadores imaginaram um método capaz de induzir uma reação nuclear em cadeia no interior do Sol. Se o calor produzido fosse suficiente, poderia levar à explosão do astro.

Os dois pesquisadores que escreveram o artigo não são conhecidos por estudar o funcionamento do Sol, das estrelas ou das bombas nucleares. Ao contrário, Alexander Bolonkin possui um doutorado em engenharia aeronáutica, com especialização em ciências da computação e matemática, enquanto Joseph Friedlander é um empresário com conhecimentos de computação. A pesquisa foi publicada na revista Computational Water, Energy, and Environmental Engineering, um periódico chinês que é conhecido por não seguir os mais rigorosos processos de revisão. Às vezes encontra-se algo interessante por ali, mas na maioria das vezes o joio supera o trigo.

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Ainda assim, a pesquisa chamou atenção quando foi publicada, principalmente por causa da ideia que é esboçada: os seres humanos seriam capazes de provocar uma explosão definitiva e arrasadora no Sol. “A humanidade tem temores, alguns mais e outros menos justificados, sobre a queda de asteroides, o aquecimento global e extinções. Todos esses cenários, no entanto, podem deixar alguns sobreviventes – mas ninguém pensa que a aniquilação completa do Sistema Solar não deixaria uma única pessoa viva”, escrevem os pesquisadores, conscientes do impacto de sua ideia.

Desequilíbrio estelar – Sabe-se que 75% da massa do Sol é composta por átomos de hidrogênio. Sob a imensa gravidade e o calor no centro do astro, essas partículas se fundem, criando átomos de hélio e liberando uma enorme quantidade de energia (a reação é semelhante à que acontece no lançamento das bombas de hidrogênio, milhares de vezes mais poderosas que a bomba lançada sobre Hiroshima). É esse processo que fornece todo calor e luz liberados pelo Sol e que permite que haja vida na Terra.

Acontece que, segundo o estudo, a taxa de fusão dos átomos de hidrogênio é maior conforme aumenta a densidade e a temperatura da estrela. Assim, a queima do combustível estelar segue uma espécie de equilíbrio: quando o núcleo do Sol se aquece demais, ele também se expande, diminuindo a taxa de fusão do hidrogênio. A menor taxa de fusão provoca uma diminuição da temperatura e um aumento da densidade, levando, novamente, uma aceleração nas fusões. A ideia dos pesquisadores é que esse equilíbrio estelar pode ser perturbado.

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Eles propõem que a explosão de uma bomba nuclear no interior do Sol poderia criar uma região de temperatura e densidade muito altas, capaz de dar início a uma cadeia de reações nucleares autossustentáveis, que se espalhariam pelo inteiror e superfície solar. O aquecimento resultante poderia fazer a temperatura da estrela atingir mais de um bilhão de graus Celsius, o que levaria à sua explosão completa.

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Os pesquisadores da área, no entanto, não levaram a ameaça imaginada pelos pesquisadores muito a sério. Segundo José-Dias do Nascimento, professor de astrofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisador visitante na Universidade Harvard – ele, sim, especialista na física solar -, os números que os pesquisadores apresentam para dar suporte à sua ideia parecem um tanto exagerados. A ideia de uma reação em cadeia capaz de explodir o Sol ainda precisa ser confirmada, e a energia necessária para dar início a um processo desses é muito maior do que a que os seres humanos são capazes de produzir. “A pesquisa me parece pseudociência”, diz José-Dias.

Ditadores malucos – A justificativa dada pela dupla para a pesquisa foi a de alertar quanto ao perigo de alguma mente diabólica ou de um ditador com os recursos necessários poder colocar em prática a implausível ideia. Em 2007, o diretor Danny Boyle (vencedor do Oscar pelo filme Quem quer ser um milionário?), retratou algo semelhante no filme Sunshine, mas com o objetivo contrário. Em um futuro no qual o problema é uma glaciação global causada pela baixa atividade solar, a única esperança da humanidade é lançar uma gigantesca bomba nuclear no sol, para “reativá-lo”. O filme foi mal nas bilheterias.

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Opinião do especialista

José-Dias do NascimentoProfessor de astrofísica do departamento de física teórica e experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisador visitante na Universidade Harvard, nos Estados Unidos

“O estudo foi publicado em uma revista que não é de astrofísica e nem de física nuclear. Nenhum dos pesquisadores envolvidos é dessas áreas e nem pertencem a instituições que estudam esses assuntos. Além disso, os números apresentados no estudo são exagerados. Teoricamente, nós sabemos que é possível explodir o Sol, mas a quantidade de energia necessária é muito maior do que a que podemos produzir aqui na Terra. A pesquisa me parece pseudociência.”

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