O Calvário dos peregrinos no Rio: erros na organização prejudicam a Jornada Mundial da Juventude
Chuva na cidade cria lamaçal no Campus Fidei e cancela vigília e peregrinação da Jornada Mundial da Juventude. Segurança e transporte também falharam
Por João Marcello Erthal e Pâmela Oliveira
25 jul 2013, 20h21
Ministério Público alertou, no início do ano, para o risco de alagamento no terreno em Guaratiba
Os organizadores da Jornada Mundial da Juventude estavam certos em um ponto: o público pacífico e ordeiro ajudaria a fazer do evento uma festa sem grandes problemas. Os acertos da prefeitura, da Igreja Católica e principalmente da empresa Dream Factory, contratada para organizar a JMJ, acabam aí. Todos os planejamentos de transporte, segurança e saúde do evento estão sendo refeitos neste momento, para serem apresentados oficialmente na manhã desta sexta-feira, às 11h. Depois de meses de planejamento e gastos da ordem de 300 milhões de reais, grande parte do que foi preparado até agora foi levado pelas chuvas. E o que foi anunciado – como a segurança em Guaratiba feita pelo Exército, a peregrinação de 13 quilômetros e as orientações sobre transporte – não vale mais. Em uma coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira, os representantes dos órgãos envolvidos se negaram a dizer quanto foi gasto só em Guaratiba.
“Não vamos transformar isso num jogo de números”, pediu o prefeito Eduardo Paes, anfitrião da festa, preservando os visitantes de um constrangimento maior. Ele, Paes, o orçamento e os moradores do Rio, vão ficar com a conta da mudança. Ao lado do prefeito estavam, à mesa, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; dom Paulo Cezar Costa, vice-presidente do Comitê Organizador Local (COL) da jornada; e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
O desastre da organização de Guaratiba não pode ser considerado surpreendente. Como mostrou reportagem do site de VEJA, o Ministério Público do Estado do Rio alertou para uma série de problemas na organização, concentrados principalmente em Guaratiba. Para citar apenas um deles: o risco de alagamento do terreno, caso o período de chuvas coincidisse com a maré cheia, o que eleva o nível dos rios da região e dificulta o escoamento da água. A maré desta quinta-feira é considerada “muito alta” – com altura estimada em 1,3 metro.
O descarte da área de 3,5 milhões de metros quadrados na Zona Oeste, onde só havia mato e foi criado um gigantesco descampado, é o exemplo extremo e indiscutível de que o evento foi mal planejado. A mudança de local da vigília e da missa de encerramento, comandada pelo papa Francisco, vai muito além da troca de endereço: empresas contratadas e forças de segurança envolvidas precisam deslocar toda a estrutura para a Zona Sul da cidade, causando mais dois dias de interdições e transtornos inesperados – algo que enerva os moradores do bairro que mais recebe eventos na cidade, onde é realizado o réveillon mais famoso do Brasil e uma infinidade de shows ao longo do ano.
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Na coletiva desta tarde, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não deu detalhes de como será a segurança em Copacabana. “Vou ter reunião com (José Mariano, secretário de Segurança) Beltrame para ver como será feita a segurança. O governo federal vai dar todo apoio para a segurança pública”, disse. Em Guaratiba, a preocupação era com manifestações e pequenos furtos. Em Copacabana, os fiéis ficam expostos aos problemas comuns da insegurança urbana em uma grande cidade. E, claro, facilita-se a vida dos manifestantes, que poderão se deslocar com mais facilidade.
Problemas – A festa é de fato singular em sua diversidade, alegria e caráter pacífico. Desde a segunda-feira, jovens de todos os cantos do mundo circulam exibindo orgulhosos os símbolos da Jornada e as bandeiras de seus países. Diferentemente dos eventos esportivos, o desfile de símbolos nacionais se dá de forma fraternal, não competitiva – e até portadores de flâmulas do Brasil e da Argentina se abraçam, algo impossível em uma Copa do Mundo.
Mas é inegável que os percalços arranharam a festa, pelo que se viu até esta quinta-feira. O primeiro problema – superado pela personalidade do papa e pelo perfil pacífico da multidão – foi o erro no deslocamento do pontífice até o centro da cidade. O veículo em que viajava Francisco foi cercado pela multidão e acabou preso em um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas. Na terça-feira, o metrô, transporte recomendado para a chegada dos peregrinos a Copacabana, para a cerimônia de abertura da JMJ, parou por duas horas devido a uma pane – o que complicou a volta dos cariocas para casa e impediu a chegada de fiéis à festa. Na quarta-feira, houve nova pane, de menor porte.
Peregrinação – A mudança de local da missa final desvirtua o que havia sido planejado para o evento. Toda Jornada Mundial da Juventude tem uma peregrinação. No caso do Rio, o objetivo era levar o evento a uma área menos favorecida, e a escolhida foi Guaratiba. Para resgatar o espírito de peregrinação, a prefeitura do Rio avaliou fazer o bloqueio de vias de forma a obrigar os peregrinos a andar mais que o normal. A ideia foi descartada e, por volta das 18h, o Comitê Organizador Local (COL) informou que a vigília e a peregrinação estavam cancelados em função do clima.
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Os transtornos da organização da JMJ, somados aos protestos que se repetem há um mês na cidade fizeram a visibilidade internacional do Rio funcionar ao contrário. O jornal New York Times publicou, nesta quinta-feira, uma reportagem apontando problemas na organização. Em Chicago, o Chicago Sun-Times trouxe como manchete, na quarta-feira, uma pergunta: “Perdemos para isso?”, dizia o título, com uma foto de um grupo de manifestantes.
O recado está dado aos organizadores da Olimpíada de 2016 e da Copa do Mundo, que acontece daqui a menos de um ano.
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