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“O humano me satisfaz plenamente; nele encontro tudo até o eterno”

A frase é do livro “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar. No momento em que a defesa da morte perdeu qualquer solenidade, cumpre atentar para ela

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 23h36 - Publicado em 2 fev 2016, 21h44
Ana Carolina Cáceres: essa jovem não é um aborto que alguém deixou de fazer; é o humano na sua inteireza

Ana Carolina Cáceres: essa jovem não é um aborto que alguém deixou de fazer; é o humano na sua inteireza

A Folha trouxe nesta terça-feira o testemunho da jovem Ana Carolina Cáceres, 24 anos, portadora de microcefalia. Ela se formou em jornalismo, tem um blog e sabe tocar violino.

Notem: assim como acho de um oportunismo asqueroso usar os casos de microcefalia provocados pelo vírus Zika para emplacar a pauta do aborto, não pretendo partir para o outro extremo e brandir o exemplo de Ana Carolina como a evidência de que o aborto não é a melhor saída.

Até porque não quero fazer de Ana Carolina, que parece não apresentar as características da forma mais severa da síndrome, uma espécie de nota de corte: “Ah, mas ela é quase normal! Com ela, tudo bem!”.

Sim, senhores! É de critério de “normalidade” que estamos falando. É nesse ponto que pergunto onde andam todas as minorais militantes quando se trata da escolha entre a vida e a morte. Na era em que todos os papéis normativos, até o limite da sandice, estão em discussão, seremos incapazes de garantir ao humano o direito de existir, com todas as suas falhas, suas precariedades e suas imperfeições?

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Nessas horas, sempre aparece alguém para gritar: “Ah, não queira impor a sua religião aos outros…”. Não é de religião que trato aqui. É de gente. Reproduzo um dos mais belos trechos de um romance em muitos aspectos inigualável, que fez um sucesso estrondoso, embora bem poucos o tenham lido de fato. E eu recomendo vivamente que o façam:
“Nossa arte (quero dizer a arte dos gregos) preferiu limitar-se ao homem. Nós, somente nós, soubemos mostrar a força e a agilidade latentes em um corpo imóvel; nós, só nós, transformamos uma fronte lisa no equivalente a um pensamento sábio. Sou como nossos escultores: o humano me satisfaz plenamente; nele encontro tudo até o eterno”.

Essa é a fala do imperador Adriano, ao menos aquele recriado pela estupenda Marguerite Yourcenar no livro “Memórias de Adriano”. Sou católico, como todos sabem. Mas não preciso apelar à essência divina do homem para recomendar que se trate a diversidade da vida com um pouco mais de cuidado, com um pouco mais de vagar, com um pouco mais de respeito.

A agenda do aborto, como se sabe, já existia antes da explosão dos casos de microcefalia. Explorar agora o sofrimento das famílias e das crianças como pretexto para a militância é de uma indignidade assombrosa.

Tal prática não se distingue da dos demagogos, que espetacularizam a sorte dos infelizes em benefício de seus esquemas de poder, pouco lhes importando as pessoas que realmente sofrem.

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Os defensores do aborto sosseguem: essa agenda não vai desaparecer. Sempre haverá um falso motivo para fazer da eliminação do feto uma forma de libertação.

Há certamente muita gente insatisfeita com a publicação da história de Ana Carolina. Não deve ser fácil ler um texto escrito por alguém que, segundo suas teorias, deveria ter desaparecido há muito em algum ralo.

Sou, nesse particular, como o Adriano de Yourcenar: “O humano me satisfaz plenamente; nele encontro tudo até o eterno”.

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