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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Governo Obama é humilhado na Câmara e mantém maioria no Senado — por enquanto, por apenas 1 voto. Aprende, PSDB!

“Desastre!” Essa seria uma boa palavra para definir o desempenho do Partido Democrata na disputa pela Câmara nos EUA. Até as 6h da manhã de hoje (hora de Brasília), o partido de Barack Obama havia perdido nada menos de 59 cadeiras, elegendo 180 representantes apenas. As 59 haviam passado para os republicanos, que perfaziam 234 […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 13h44 - Publicado em 3 nov 2010, 07h05

“Desastre!”

Essa seria uma boa palavra para definir o desempenho do Partido Democrata na disputa pela Câmara nos EUA. Até as 6h da manhã de hoje (hora de Brasília), o partido de Barack Obama havia perdido nada menos de 59 cadeiras, elegendo 180 representantes apenas. As 59 haviam passado para os republicanos, que perfaziam 234 — e eles precisavam de apenas 39 a mais para obter o controle da Casa. Seguiam indefinidas 21.

O desastre só não foi total porque os democratas conseguiram manter a maioria no Senado. Até o início da manhã de hoje, já haviam perdido seis cadeiras, mas conseguiram assegurar pelo menos 51 das 100. Podem chegar, no máximo, a 53.  As seis passaram para os republicanos, que ficaram com 46, e três seguiam indefinidas. O consolo para Barack Obama é que seu líder no Senado, Harry Reid, conseguiu vencer em Nevada a republicana Sharron Angle, do Tea Party, por 50,2% a 44,6%. Os democratas lograram sucesso ainda na Califórnia, Delaware, Connecticut e Virgínia Ocidental, estados que consideravam temerários.

Dois líderes bastante salientes do Tea Party se elegeram, no entanto, no Kentucky e na Flórida: respectivamente, Randy Paul e Marco Rubio — nesse caso, a vitória republicana foi humilhante: 48,8% a 20,2% — os democratas perderam para os independentes, que chegaram a 29,7%. Seguiam indefinidos o Alasca — os independentes estavam na frente, com 70% dos votos apurados —, Washington, com ligeira vantagem democrata (62% dos apurados) e Colorado, com discreta dianteira republicana (73% apurados). A maioria no Senado, pois, pode ser de um só voto — três no máximo.

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Escrevi na noite de ontem a respeito das eleições americanas. Também expliquei por que  elas podem ser instrutivas para as oposições no Brasil. Segue o post das 19h51.
*
Oposicionistas no Brasil podem aprender com o republicanos nos EUA ou repetir os próprios erros. Ou: fazer oposição é uma missão constitucional!

Os dias andam muito animados no Brasil, e quase não há tempo para falar sobre o que vai mundo afora. Os EUA estão realizando eleições hoje. Disputam-se as 435 cadeiras da Câmara, 37 das 100 do Senado e 37 dos 50 governos de estado. Começo com um gracejo: quem entende de eleições americanas é o meu amigo Caio Blinder (bem mais progressista do que eu — mas quase todo mundo é…); eu entendo é de oposição desde o regime militar, hehe. Sempre fui oposição!

Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos há dois anos. Antes que a maioria dos americanos tivesse decidido votar nele, o mundo já o tinha elegido. Reclamei ontem de um repórter do Jornal da Globo que afirmou que a eleição de Dilma “já é histórica” no Brasil, “a primeira mulher”… À época, critiquei a imprensa brasileira e mundial por causa da também chamada “eleição histórica” de Obama, “o primeiro negro” etc e tal. Ninguém é histórico antes da história. A história que se faz com antecedência costuma ser pura mistificação.

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É grande a possibilidade de que Obama perca hoje a maioria na Câmara. No Senado, o risco é menor, mas existe. Os republicanos, quem diria?, estão mais vivos do que nunca. O sistema eleitoral americano, que deu uma vitória acachapante para Obama no Colégio eleitoral — 365 votos a 173 — escondia uma verdade importante: Obama obteve 52% dos votos, e John McCain, o republicado, 47%. Como venceu na maioria dos estados, especialmente nos mais populosos, os democratas arrebatavam todos os delegados. O massacre do colégio estava longe de representar um massacre de votos. Embora a imprensa liberal americana — e a influenciada pela esquerda mundo afora — insistisse em declarar a morte dos republicanos, a verdade é que eles estavam vivíssimos.

Por vivos, decidiram fazer valer aqueles 47% — e é claro que estou batendo na cangalha para ver se os tucanos entendem: os tucanos que obtiveram 44% dos votos no Brasil! Obama tomou posse e tinha uma gigantesca tarefa pela frente. Se alguém podia falar em “herança maldita”, esse alguém era ele. Mas, para sorte dos americanos, essa conversa por lá pega mal. O país tem a sorte de ter uma cultura política que considera que devem se apresentar para governar aqueles que julgar ter uma resposta eficiente a dar aos problemas. Ninguém precisa de governo para reclamar das dificuldades e para jogar a culpa nos ombros dos adversários.

Obama tem um forte lado terceiro-mundista no comportamento político. Sua retórica traz laivos de messianismo às vezes; ele também gosta, como fez hoje durante todo o dia em entrevistas a rádios, de separar os políticos entre os que fazem a América “avançar” ou “recuar”, essas coisas… Mas teve de ser comedido na demonização do passado. Os americanos o haviam escolhido para governar em lugar dos republicados, não para reclamar dos antecessores.

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Dadas as dificuldades, ele até foi bem-sucedido nesses dois anos. Conseguiu aprovar seu plano para a Saúde; iniciou a retirada das tropas do Iraque, a economia se recupera com mais dificuldade do que se esperava, mas o país saiu da lama. E, bem, Obama é Obama, não é? Conta com a simpatia da esmagadora maioria da imprensa americana… Ocorre que…

Oposição
Ocorre que existe oposição para valer nos EUA. Obama estava no poder havia 15 dias, e o odiado Dick Cheney, a besta-fera inventada pelos “progressistas”, deu o grito de guerra e convocou as tropas: “Não, ele não pode!” E convocou a tropa. A emergência do “Tea Party”, um movimento ultraconservador dentro do Partido Republicano, trouxe para o primeiro plano os ditos “valores americanos”. Fantasia? Pura construção ideológica? Pode ser. Mas Obama era e é o quê? A encarnação da própria verdade? O movimento tem sido implacavelmente demonizado pela imprensa liberal, mas esse trabalho de desqualificação tem se mostrado inútil.

À diferença do “Cara” no Brasil, Obama é hoje aprovado por apenas 45% dos americanos. Desaprovam-no nada menos de 51%, e acreditam que ele não se reelege em 2012 52% da população. As eleições presidenciais estão longe ainda. Uma coisa é fato: os sinais são péssimos para ele. Ainda que os republicanos não venham a fazer hoje a maioria na Câmara, terão uma avalanche de votos. A situação é tão difícil que, nas entrevistas de rádio, ele abre o jogo, mais ou menos como Lula nos palanques pedindo maioria no Senado: precisa vencer os republicanos nas eleições legislativas para continuar a implementar o seu programa. A retórica é temerária: e se não conseguir? Então admite que seu governo foi para o brejo?

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Onde errou?
No que concerne ao jogo político propriamente, onde foi que Obama errou? Em quase nada. Os republicanos é que acertaram. Oposição se faz desde o primeiro dia, todos as horas do dia, todos os dias do mês, todos os meses do ano. Deram um baile nos democratas no chamado plano da Saúde, finalmente aprovado. Mas foi preciso fazer muita concessão. Na questão da recuperação econômica, nada dessa história de “comitê de salvação nacional”… Os oposicionistas botaram a boca no trombone, obrigando o governo a se explicar, justificando cada um dos eventuais insucessos. Obama certamente não esperava uma oposição tão aguerrida e confiou demais no seu charme pessoal— talvez tenha sido seu único erro.

Aqueles que viam em George W. Bush a encarnação do demônio e que enxergavam em Obama o demiurgo humanista tendem a ver os republicanos como símbolos da hipocrisia, do mau-caratismo, da má consciência, essas coisas. “Onde já se viu? Depois de tudo o que fizeram?” Pois é. SÃO PESSOAS QUE AMAM A JUSTIÇA, MAS QUE ODEIAM A DEMOCRACIA. Está cheio de gente assim. Não raro, acabam condescendendo com “totalitários do bem”.

Pois eu já vejo o contrário. Embora seja um “republicano” nos EUA (risos), saudei a eleição de Obama como evidência das virtudes do sistema democrático. E saudei a reação do “meu” partido como prova dessa mesma saúde. Desde que se jogue segundo as regras, a democracia não pode satanizar ninguém. Golpistas, pois, são aqueles que pretendem tirar das forças políticas legítimas as suas prerrogativas — e fazer oposição é uma delas.

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Encerrando
Falemos um pouco sobre o Brasil já que é disso que trato aqui desde sempre. O PSDB, o DEM e o PPS têm dois caminhos: podem agir como o PSDB nos últimos oito anos, buscando sempre o, como é mesmo?, “espaço da convergência com o lulo-petismo” em nome daquele sagrado “bem do Brasil”; podem seguir o caminho do Partido Republicano nos EUA e exercer a função para a qual os eleitores os designaram: opor-se. Sim, sim, as diferenças são grandes. Naquele país, existe um quadro de bipartidarismo; por aqui, temos essa massa gelatinosa chamada PMDB. Não ignoro as particularidades. Uma coisa, no entanto, é certa lá e aqui: a ambigüidade da oposição só interessa a quem está no comando.

PS – “E se Obama for reeleito, Reinaldo, o que você vai dizer?” Vou dizer que os republicanos fizeram de tudo para vencer. Puxando o saco do presidente é que não conseguiriam voltar à Casa Branca.

PS2 -“Vejam o Reinaldo! Os republicanos só agem daquele modo porque a popularidade do presidente está abaixo de 50%; aqui, Lula está acima de 80%”. Ainda que os critérios de medição sejam os mesmos, o que duvido um pouco, reitero que os republicanos começaram a cumpir a sua TAREFA CONSTITUCIONAL quando a dita popularidade do presidente estava acima dos 70%.

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