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Arroz corintiano

A receita que homenageia o antigo jogador Biro-Biro, do Timão, seria a única do mundo influenciada por um clube de futebol

Por J.A. Dias Lopes Atualizado em 30 jul 2020, 20h49 - Publicado em 24 jul 2017, 17h21

Até prova em contrário, a única receita do mundo inspirada por um clube de futebol é Arroz Biro-Biro. Homenageia o pernambucano Antônio José da Silva Filho, mais conhecido por Biro-Biro, e inevitavelmente o Sport Club Corinthians Paulista, do qual ele foi um dos maiores ídolos nas décadas de 1970-80. Inicialmente volante, atuou diversas vezes como meia e até atacante. Era disciplinado dentro e fora do campo.

Disputou 589 partidas – 265 vitórias, 199 empates e 125 derrotas – e fez 75 gols pelo clube do antigo Parque São Jorge, hoje Arena Corinthians ou Itaquerão. Foi campeão paulista em 1979, 1982 e 1983. Biro-Biro participou da Democracia Corintiana, movimento político-esportivo vigente de 1981 a 1985, lançado por colegas de clube Sócrates, Casagrande, Wladimir e Zenon. Seu lema: “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”.

Biro Biro
Biro-Biro, o jogador: seu cabelo amarelado e encaracolado inspirou o nome ao prato (Rodolpho Machado/Placar)

O apelido veio da infância. O pai do jogador gostava muito de doce de biro-biro, o mesmo biri-biri, bilimbim e bilimbino, fruto que nasce agrupado ao  tronco e ramos de uma árvore tropical originária do Sudeste da Ásia. Introduzida no Brasil pela Amazônia, espalhou-se a seguir no Nordeste. O fruto é consumido ao natural ou usado no preparo de compotas, geleias e caipirinhas, compõe saladas e tempera vinagres. Afetuosamente, o pai chamou seu garoto de Biro-Biro. Paradoxalmente, o filho revelou ao crescer apreço por outro doce nacional: goiabada com creme de leite. E aí começa a história do Arroz Biro-Biro.

Os jogadores Sócrates e Casagrande frequentavam a Churrascaria Rodeio, em alta moda na época. Ali encontravam torcedores corintianos, que sentavam juntos à mesa, como  Thomaz Souto Correa e Washington Olivetto. Este foi convidado na época para ser vice-presidente de marketing do Timão. Logo teve uma das suas ideias brilhantes: formar um grupo de conselheiros com personalidades corintianas. “Convoquei meus amigos Thomaz, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (o Boni), Walter Clark, André Midani, Juca Kfouri, Flávio Gikovate, Silvio de Abreu e Gloria Kalil”, lembra Washington. Depois das reuniões no clube, o conselho se encontrava para jantar na Churrascaria Rodeio.

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Outro frequentador da casa era o jornalista gaúcho Tarso de Castro (1941-1991), criador do caderno “Folhetim”, da “Folha de São Paulo” e um dos fundadores do irreverente “O Pasquim”, do qual foi editor por 80 edições, junto com Jaguar, Sérgio Cabral, Luiz Carlos Maciel. Era tão fiel à churrascaria que parecia morar no salão. Um dia pediu ao maître Cecílio um “arroz mais rico” para acompanhar o contrafilé grelhado. Foi atendido imediatamente.

Quando Cecílio ia colocar um ovo frito sobre a porção de arroz, Thomaz o interrompeu em voz alta: “Pare, acabo de ter uma ideia para melhorar essa gororoba! Ontem, fui ao Antiquarius (restaurante de cozinha portuguesa) e comi o Bacalhau Nunca Chega, que mistura ovo e batata palha. Jogue batata palha nessa gororoba”.

A história segue contada por Thomaz: “Cecílio colocou a batata palha e o ovo frito sobre o arroz do Tarso e, tudo misturado, ficou supimpa. Claro que, em excesso de imaginação criadora, os amigos e amigas à volta, imediatamente disseram que o prato deveria ter meu nome, mas recusei. Não ficava bem, ponderei, que um profissional militando na Editora Abril, como eu, onde se publicavam guias e se atribuíam estrelas, tivesse em um restaurante manifestação tão explícita de compadrio”.

Seguindo a tendência do serviço de salão da época, os ingredientes chegavam à mesa previamente elaborados, para a montagem e finalização diante do cliente, em frigideira aquecida no réchaud. O mesmo aconteceu com os outros adereços da receita preparada atualmente. Durante muito tempo, o único ingrediente além do arroz, do ovo e da batata-palha, era a salsinha. Mas a moda fez a receita incorporar cebola e cebolinha-verde picadas. Vieram a seguir a cebola à tirolesa e o bacon frito.

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E por que Biro-Biro? Segundo Thomaz, foi o próprio maître Cecílio quem a batizou. “Parece o cabelo amarelado e encaracolado do Biro-Biro”, disse ele. Gastrônomo refinado, Thomaz achou o nome grosseiro, mas não conseguiu evitá-lo. “Foi aí que a comparação batizou e ao mesmo tempo amaldiçoou a minha delicada invenção”, acrescenta. “Como pôde uma iguaria de tal simplicidade e elegância ser comparada à cabeleira enroladinha de uma pessoa?”. Cecílio, evidentemente, era corintiano roxo.

 

ARROZ BIRO-BIRO – RENDE 4 PORÇÕES

INGREDIENTES

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CEBOLA TIROLESA

  • 100 g de cebola
  • Cerveja  quanto baste
  • Farinha de trigo  quanto baste
  • Óleo para fritar
  • Sal a gosto

ARROZ

  • 1 colher (sopa) de manteiga
  • 1/4 de cebola pequena picada
  • 2 macinhos de cebolinha em finas rodelas
  • 300 g de arroz agulha cozido
  • 20 g de bacon frito na frigideira, fatiado e picado
  • 2 macinhos de salsinha picada
  • 2 ovos fritos em óleo não muito quente (para não crestar a clara) e depois cortados em pedaços (finalização)
  • 100g de batata-palha quebrada grosseiramente (finalização)
  • Sal a gosto

 

PREPARO

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CEBOLA TIROLESA

1. Corte as cebolas em rodelas e coloque-as de molho na cerveja, de maneira que fiquem bem molhadas. Escorra-as, salpique-as com um pouquinho de sal e passe-as na farinha de trigo. Frite-as no óleo quente, até ficarem crocantes, escorra-as em papel absorvente e depois corte-as em pedaços.

ARROZ BIRO-BIRO

2. Em uma frigideira grande, derreta a manteiga, junte a cebola picada e a cebolinha. Deixe dourar, acrescente uma pitada de sal e em seguida despeje o arroz, o bacon e a salsinha. Misture bem.

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FINALIZAÇÃO

3. Finalize incorporando ao arroz os ovos fritos, em pedaços, a cebola tirolesa e a batata- palha.

4. Misture mais uma vez e sirva quente.

 

Receita criada e preparada na Churrascaria Rodeio, de São Paulo, SP.

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