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Com ou sem Bashar Assad, futuro da Síria é preocupante

Qualquer desfecho da crise no país onde o regime é implacável, e a oposição, desunida, respingará na já explosiva região do Oriente Médio, diz especialista

Por Gabriela Loureiro
15 mar 2012, 10h44

“A intervenção da Otan na Líbia não foi um sucesso, e com certeza aumentou drasticamente a violência no território. Se você analisar bem, nenhuma revolta árabe teve um final feliz até agora.”

James Gelvin, especialista em Síria

Para onde quer que se olhe na Síria, a perspectiva de futuro é catastrófica. Há exatamente um ano, os opositores do regime de Bashar Assad começaram a tomar as ruas pedindo a saída do ditador. O que parecia ser apenas uma febre influenciada pelas revoltas que eclodiram em países vizinhos, como Tunísia, Egito e Líbia, logo se mostrou o estopim de uma crise que se mantinha latente há anos. A reação do governo contra os rebeldes foi rápida e implacável, deixando mais de 9.400 mortos até agora. Mas a revolta não foi sufocada e, hoje, qualquer um que tente prever um desfecho para essa situação não encontra saídas alentadoras.

Segundo o professor de história da Universidade da Califórnia e especialista em Síria James Gelvin, há apenas dois desfechos: ou a oposição derruba o regime (o que é pouco provável) ou o governo de Bashar Assad suprime seus opositores. De qualquer forma, o banho de sangue não terá fim. “Eu não estou otimista quanto à Síria. A única solução que vejo é a completa vitória de um único lado. Se o regime vencer, eles já mostraram que não têm piedade, então você pode apostar que haverá vingança, e ainda mais repressão. Se a oposição vencer, há o risco de uma guerra sectária”, explica ele, detalhando que esta guerra seria uma consequência da fragmentação da sociedade local, formada por maioria muçulmana sunita dominada por minoria alauita – da qual pertence a dinastia Assad – além de cristãos ortodoxos e drusos.

Confira, no infográfico abaixo, como se configura a sociedade síria:

infográfico sobre síria
infográfico sobre síria (VEJA)

Intervenção – Essa fragmentação interna é apenas uma das razões que dificultam, por exemplo, uma intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – que deu respaldo, por exemplo, aos rebeldes líbios contra o ditador Muamar Kadafi, que resistiu até a morte.

Na Síria, o principal empecilho a uma ação militar internacional é a desunião dos opositores, que não dominam território algum e não têm influência política forte. A oposição na Síria é sufocada desde a década de 1960, quando o partido socialista pan-árabe Ba’ath tomou o poder e desenvolveu poderosos mecanismos de repressão – dos quais o regime de Assad é herdeiro e beneficiário.

Além disso, a ação da Otan na Líbia foi tão criticado que essa deixou de ser vista como uma alternativa plausível para resolver qualquer conflito. “A intervenção da Otan na Líbia não foi um sucesso, e com certeza aumentou drasticamente a violência no território. Se você analisar bem, nenhuma revolta árabe teve um final feliz até agora”, observa Gelvin. E na Síria não será diferente.

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Região – Com a queda de Assad alguns cenários negativos sob a perspectiva ocidental se apresentam. Num deles, subiria ao poder um regime fundamentalista islâmico. Também é possível uma escalada do terrorismo em uma região já explosiva, como advertiu a secretária de estado americana Hillary Clinton na semana passada. Para ela, a entrega de armas aos rebeldes sírios poderia beneficiar a Al Qaeda e o Hamas, cujos dirigentes manifestaram apoio à oposição. (Assad também tem terroristas de seu lado: os xiitas do Hezbollah, alocados no vizinho Líbano, que já fez parte da Síria no passado.)

Uma mudança radical no país respingaria também em países como Turquia e Iraque, que têm uma minoria curda que sonha em ter um estado independente – se o governo ruir, eles podem ver aí a oportunidade que esperavam para se unir e exigir autonomia e independência.

Qualquer fio que se tente puxar desse emaranhado de tensões, portanto, pode levar a população síria a um caminho ainda mais sangrento do que aquele que percorre agora.

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