Após recorde em janeiro, Tombini admite piora da inflação, mas projeta melhora de ‘médio e longo prazos’
Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, chancelou previsão do ministro da Fazenda de crescimento econômico próximo de zero neste ano
Depois de a inflação de janeiro bater o maior patamar em doze anos e de o mercado já projetar um estouro da meta neste ano, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reconhece que as recentes medidas de ajuste fiscal vão elevar ainda mais a inflação de curto prazo. As perspectivas de médio e longo prazos, porém, serão positivamente influenciadas pela maior confiança na perspectiva econômica do país. Por isso, Tombini encenou otimismo e repetiu a afirmação de que as previsões do mercado para a inflação entre 2016 e 2019 já começam a apresentar sinais de acomodação.
Durante seminário organizado pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF), Tombini foi o principal convidado de um almoço-palestra. Aos presentes, o brasileiro reconheceu que as medidas econômicas adotadas pelo governo Dilma Rousseff têm impacto negativo na atividade econômica. “Ações como o realinhamento nos preços administrados geram inflação no curto prazo”, disse. “Além disso, também há o impacto do câmbio entre o dólar e o real”, completou, ao comentar as razões para a pressão de alta nos preços no curto prazo.
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Apesar desse movimento negativo, o presidente do BC repetiu discurso feito em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial, de que as perspectivas para a inflação de médio e longo prazo começam a emitir sinais positivos. Para Tombini, as previsões de mercado entre 2016 e 2019 têm apresentado “modesta” queda. Essa acomodação dos preços mais à frente é resultado da confiança gerada com as ações de política fiscal e com a melhora das perspectivas econômicas do país, diz ele.
Crescimento zero – Convencer autoridades internacionais de que o Brasil está adotando medidas corretas para restaurar a confiança é a principal meta de Tombini, na reunião das 20 maiores economias do mundo que acontece a partir desta segunda-feira, na Turquia. Para ele, as medidas fiscais adotadas pelo governo são importantes para reforçar a confiança, o que poderá permitir o aumento do investimento e a redução das expectativas futuras de inflação.
“Primeiro de tudo, eu tenho a ambição de convencer vocês que temos a agenda certa para melhorar a confiança no Brasil nos próximos anos e de que as políticas que estamos implementando hoje irão criar uma melhor perspectiva econômica para o médio prazo, começando em 2016”, afirmou Tombini. Ao ser questionado sobre as perspectivas econômicas para 2015, o presidente do BC usou palavras do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e chancelou a previsão de que o Brasil deve ter crescimento próximo de zero em 2015. “Como o ministro Levy disse, esse ano (o crescimento) tende a ser estável (flat, em inglês), disse.
Queda do petróleo – Mas o presidente do BC avalia que o recente pacote trilionário de apoio à economia anunciado pelo Banco Central Europeu (BCE) é positivo para países emergentes, porque retira uma incerteza do horizonte econômico. Sobre a queda do preço do barril do petróleo, Tombini repetiu avaliação de que o fenômeno vai gerar impacto positivo para as contas externas do Brasil e o país deverá economizar 10 bilhões de dólares em 12 meses com a importação da mercadoria.
“A ação do BCE é muito importante porque removeu uma incerteza. Agora, sabemos como e de quanto será a ação”, disse, ao comentar que essa ação do BCE “dá mais tempo para emergentes” se prepararem para a esperada normalização da política monetária global, especialmente nos EUA.
Sobre o esperado movimento de alta dos juros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Tombini disse que é importante que as autoridades norte-americanas continuem com a estratégia de sinalizar ao mercado os próximos passos. Tombini participou de evento do IIF paralelo à reunião de ministros de economia e presidentes de banco central das 20 maiores economias do mundo, o G-20, que acontece em Istambul, na Turquia.
(Com Estadão Conteúdo)