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Os gigantes da Ásia sob nova liderança

Para economista da Universidade de Cingapura, novas lideranças da China, Índia e Indonésia ditarão os rumos do crescimento da Ásia — e seus desdobramentos poderão alterar a ordem econômica global

Por Kishore Mahbubani
28 abr 2014, 07h54

Mais de um terço da população mundial vive em apenas três países: China, Índia e Indonésia. Como todos os três experimentam significativas transições políticas – como a de eleger um novo líder ou experimentar as primeiras decisões-chave de um líder recém-empossado – este é um momento decisivo para a definição do futuro da economia global. Se Narendra Modi e Joko “Jokowi” Widodo vencerem as próximas eleições na Índia e Indonésia, respectivamente, estarão juntos ao presidente chinês, Xi Jinping, para impulsionar o crescimento econômico regional. E isso contribuirá provavelmente para que uma ascensão econômica ainda mais forte da Ásia ocorra.

Desde que assumiu a presidência da China, Xi Jinping tem centralizado o poder a um estado notável. Ele não só se posicionou como secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCCh) e presidente da Comissão Militar Central, mas também neutralizou seus rivais potenciais: o ex-secretário do Partido Comunista chinês em Chongqing, Bo Xilai, e o ex-chefe de segurança Zhou Yongkang.

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Consolidar o poder em um país tão grande e complicado como a China é extremamente difícil – por essa razão o desempenho de Xi Jinping é, no mínimo, notável. Afinal de contas, seu antecessor, Hu Jintao, levou muito mais tempo para atingir um grau de autoridade similar. No entanto, trata-se apenas de um primeiro passo. Xi Jinping está tentando utilizar seu poder para impor as difíceis reformas que Hu e seu primeiro-ministro, Wen Jiabao, negligenciaram – motivo pelo qual foram amplamente criticados.

Apesar da pressão para compensar o tempo perdido, Xi Jinping sabe que ele deve ser pragmático em seus esforços de reforma. Antes de tudo, deve construir um consenso nacional capaz de superar os interesses poderosos que se opõem a essas mudanças, incluindo a dissolução dos monopólios, a regulação melhorada de mercados, maior transparência e reforma tributária – a fim de tornar a economia mais competitiva.

Enquanto os líderes ocidentais geralmente apoiam a estratégia de reforma orientada ao mercado do presidente chinês, continuam intrigados ante a sua devoção ao Partido. Para a mentalidade ocidental, qualquer reformador verdadeiramente eficaz deve ser um democrata comedido, como foi o último presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev.

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Mas, Xi Jinping não tem nenhuma intenção de ser o último presidente da República Popular da China – e o colapso da União Soviética, após as reformas políticas de Gorbachev, ensinou-lhe a importância de equilíbrio entre estabilidade e reforma. Para Xi Jinping, o poder do PCCh não reside tanto em sua ideologia, mas em sua capacidade para ajudar a reforçar a prosperidade do país. Na verdade, os atuais líderes são nacionalistas modernistas, e não comunistas. Eles reconhecem que o sucesso da China nas últimas três décadas é uma consequência direta do resultado de sua mudança para uma economia mais aberta e uma sociedade mais livre – uma mudança que continuará durante a administração de Xi Jinping.

Outro nacionalista-modernista, Narendra Modi deve ser o próximo primeiro-ministro da Índia, após as eleições que começaram este mês. A abordagem pró-mercado de Modi é um importante tema de sua campanha eleitoral – e indianos têm esperanças de que esse programa de governo aumente seu bem-estar.

Como ministro-chefe do estado de Gujarat, Modi trabalhou para incentivar o investimento estrangeiro, fornecer eletricidade 24 horas por dia, construir estradas e envolver-se em um inteligente planejamento urbano. O crescimento econômico anual naquele estado subiu em média mais de 10% de 2006 a 2012, quando a maior cidade de Gujarati, Ahmedabad, foi pré-selecionada ao Premio Mundial para Cidades de Lee Kuan Yew.

Mas a história é um quebra-cabeça para a campanha de Modi – ele é acusado de fazer pouco para deter os conflitos antimuçulmanos que deixaram mais de mil mortos em Gujarat, em 2002. Embora o Supremo Tribunal o tenha isentado de todo o delito pessoal frente ao ocorrido, o legado da tragédia persiste, tornando difícil para Modi ganhar votos muçulmanos sem alienar sua base nacionalista Hindu. Esse fato não impediu o candidato de se arriscar politicamente, começando por sua afirmação de que a Índia necessita mais de banheiros que de templos. Mas a sua decisão de se candidatar ao posto de primeiro-ministro é, de longe, o seu passo mais arriscado, que colocará à prova a sua popularidade nacional.

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Naturalmente, mesmo que ganhe a eleição, Modi nunca conseguirá consolidar o poder como Jinping, devido à separação de poderes e a constituição democrática indiana. Na melhor das hipóteses, ele conduzirá um governo de coalizão em que a sua capacidade de compromisso e a comunicação com aliados improváveis ditará o seu sucesso.

Se Jokowi, o governador de Jacarta, vencer as eleições presidenciais da Indonésia, que acontecerão em julho, afrontará um imperativo similar, pois seu partido (o PDI-P) não terá maioria no Parlamento. Felizmente, ele é um político muito hábil: popular, mas não populista, e com enorme capacidade de persuasão.

Essas qualidades permitem que Jokowi obtenha resultados exemplificados em seu êxito em convencer os habitantes de bairros degradados de Jacarta a abandonarem seus barracos, a fim de permitir o desenvolvimento urbano. Sob sua liderança, foram relançados na cidade projetos de rodovia que estavam bloqueados há 16 anos.

Como Xi e Modi, Jokowi está focado principalmente no desenvolvimento econômico. A esse respeito, seus antecedentes como fabricante e exportador de móveis são trunfo importante, permitindo-lhe trazer um nível de conhecimento e experiência que careciam nos presidentes indonésios anteriores. Tendo em conta sua visão e sagacidade empresarial, Jokowi entende que, para ter boas relações econômicas com o mundo, a Indonésia deve melhorar sua infraestrutura logística.

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Talvez o mais importante é que Xi, Modi e Jokowi sejam todos pragmáticos. Eles sabem que, para atingir um rápido crescimento econômico e modernização – o que constitui uma prioridade fundamental para os três – precisarão comprometer-se com as forças de oposição em seus países e adotar as melhores práticas do exterior. O desejo comum de formar parte do mundo moderno sugere que a essas lideranças poderão melhorar a vida dos cidadãos dos seus países. E uma vida melhor para um terço da população mundial irá beneficiar a todos nós.

Kishore Mahbubani, decano da Escola de Política Pública Lee Kuan Yew, na Universidade Nacional de Cingapura. É o autor do livro The Great Convergence: Asia, the West, and the Logic of One World (A Grande Convergência: Ásia, o Oeste e a Lógica de Um Mundo, em tradução livre). Está na lista dos 50 intelectuais mais influentes do mundo da revista britânica Prospect’

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate, 2014

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