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Desigualdade e emprego vão dominar agenda em Davos

Principal evento econômico do mundo começa nesta terça e aponta os perigos das políticas econômicas que aprofundam as desigualdades e freiam a recuperação do mercado de trabalho

Por Ana Clara Costa, de Davos
21 jan 2014, 08h59

O Fórum Econômico Mundial terá início na noite desta terça-feira em Davos, na Suíça, e sua agenda será dominada por temas relacionados à desigualdade, ao crescimento sustentável e ao impacto da tecnologia no mercado de trabalho. No âmbito político, as atenções estarão voltadas para as discussões sobre o Oriente Médio, especialmente após a confirmação da presença do presidente iraniano Hassan Rohani, e de Benjamin Netanyahu, premiê israelense, no evento. O acordo que coloca fim à insana jornada nuclear dos aiatolás, anunciado em novembro, põe o tema novamente no topo da agenda.

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Os cerca de 2.500 executivos, empreendedores, chefes de Estado e demais lideranças que estarão reunidos na pequena cidade cravada nos Alpes até o próximo sábado, em dias de rigoroso inverno, não esperam enfrentar uma semana de discussões turbulentas, como ocorreu no encontro de 2009, no auge da crise financeira. Tampouco verão dias turvos como no Fórum de 2012, período agudo da crise europeia, quando se falava no fim do euro.

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Contudo, em 2014, a calmaria não significa que o cenário se tornou mais fácil de navegar. Os países desenvolvidos, apesar de livres da crise, não conseguem voltar a crescer num ritmo que satisfaça sua própria necessidade de criação de empregos. Já os emergentes (em especial os Brics), antes indutores do crescimento mundial, não conseguiram avançar na resolução de problemas econômicos estruturais durante o período de bonança – e agora têm dificuldades em crescer no mesmo compasso que antes da crise. Segundo seu fundador, o suíço Klaus Schwab, o Fórum tem o dever de confrontar a comunidade financeira sobre o que ela está fazendo de errado. “Nós temos a oportunidade de pedir que eles ajam em favor do interesse público global”, afirmou Schwab.

Um estudo elaborado pela ONG Oxfam especialmente para o Fórum mostra que o fim da crise financeira trouxe maior concentração de renda tanto para os países desenvolvidos quanto para os emergentes. A Oxfam apurou que, em 2013, as 85 pessoas mais ricas do mundo possuíam fortuna equivalente à soma do patrimônio da metade mais pobre da população mundial – um contingente de 3,5 bilhões de habitantes. Nos Estados Unidos, 95% dos ganhos obtidos com a recuperação econômica foram direcionados para o grupo dos 1% mais ricos. “Quando os benefícios econômicos são distribuídos de uma forma que cria uma vasta desigualdade e um sentimento de impotência, os laços que seguram uma sociedade ficam por um fio. E, em casos mais extremos, chegam a se romper”, afirma o relatório sobre desigualdade divulgado dias antes do início do evento.

Os efeitos desse “rompimento”, mostra o documento, são erupções sociais, como os protestos vistos no Brasil, no Reino Unido, na Turquia, na Índia e na Ucrânia ao longo de 2013. “As causas desses movimentos são complexas, mas a origem em comum é o senso de injustiça e desesperança. Há também a crença de que a desobediência civil é a única forma de ser ouvido”, afirma.

Dilma em Davos – Debates sobre a onda de protestos nos países emergentes, em especial no Brasil, fazem parte da agenda de Davos. Mas a situação econômica também será discutida num painel sobre a “aposentadoria” dos Brics, que contará com a presença do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Os dois temas mostram uma mudança nada agradável em relação aos anos anteriores, quando era justamente o avanço econômico do país o alvo da curiosidade dos frequentadores do Fórum.

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Em 2011, após a eleição da presidente Dilma, os organizadores do evento chegaram a criar um painel de última hora para que a presidente recém-eleita pudesse falar sobre o “milagre” brasileiro. Mas ela declinou o convite, preferindo ir ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre – fato que se repetiu em 2012. Em 2014, o cenário é outro. A ida da presidente ao evento faz parte de uma ofensiva do Palácio do Planalto para tentar recuperar a credibilidade perdida junto ao mercado internacional. Para isso, toda a equipe econômica foi convocada a se deslocar para a Suíça. Ainda que a presidente passe menos de 24 horas no evento (ela chegará a Davos no dia 24 de manhã e partirá para Zurique no fim da tarde), sua delegação permanecerá para cumprir a agenda de debates.

Contudo, o timing para uma primeira visita de Dilma a Davos nos próximos dias não será dos mais favoráveis, tendo em vista que ela deverá ser questionada não só pela onda de protestos, mas também pela deterioração econômica a que o Brasil assistiu em seu governo – dois tópicos que a presidente evita tratar. Em seu discurso, não haverá espaço para qualquer explicação ou reconhecimento de erros de percurso. Estão previstas menções ao crescimento do mercado de trabalho e ao rigor fiscal do Brasil num momento em que o país corre o risco de ter sua nota rebaixada pelas agências de classificação de risco. Em reunião prevista com grandes empresários, a presidente deverá enaltecer a atratividade dos projetos de infraestrutura do país – que, até o momento, com exceção dos operadores aeroportuários que venceram os leilões de Galeão e Confins, foram ignorados pelo investidor estrangeiro.

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