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Remuneração a consumidores que pouparem é alternativa para evitar apagões

Entidades estudam modelos que incentivem redução do consumo para apresentar ao governo e evitar interrupção de fornecimento de energia

Por Luisa Purchio Atualizado em 4 jun 2021, 18h00 - Publicado em 4 jun 2021, 11h30

Os baixos níveis das represas de água das bacias das hidrelétricas preocupa a retomada econômica esperada para o segundo semestre, como mostra reportagem de VEJA desta semana. Para evitar o pior, ou seja, um desligamento forçado do fornecimento de eletricidade em certas regiões do país, diversas alternativas estão sendo elaboradas por entidades que representam o setor.

A Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), por exemplo, está aprovando internamente uma proposta, a ser levada ao governo, de compensação via mercado, na qual o consumidor que utilizar menos energia por um determinado período de tempo seria recompensado financeiramente por aquele que não pode parar suas máquinas.

“Os consumidores podem contribuir por meio de mecanismos que os incentivem de forma voluntária a reduzir a demanda por algumas horas do dia. Na nossa visão essa é a saída para esse pico que vamos enfrentar”, diz Victor Hugo Iocca, gerente de energia elétrica da Abrace.

A ideia é que todos os consumidores do mercado de energia livre, ou seja, já cadastrados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), reduzam o seu consumo no período da tarde durante o verão, quando ocorre o pico de consumo de energia especialmente devido à utilização de aparelhos de ar-condicionado. Como estes consumidores já possuem medidores na entrada de seus estabelecimentos, ficaria mais fácil calcular esta redução. “Estamos buscando um modelo de mercado que seja simples, de fácil entendimento e operacionalização pelo governo.

A ideia é que o consumidor faça um estudo do seu processo industrial ou de seu shopping center, por exemplo, para identificar se consegue reduzir o consumo entre 12h e 18h a partir de setembro. Se ele ajudar o sistema de alguma forma, receberia alguma remuneração pelo serviço que acabou de prestar”, diz Iocca.

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Alguns tipos de indústria não conseguem fazer este tipo de interrupção, porém certas áreas são mais propícias, como a indústria de cimento. Além disso, aqueles que possuem algum tipo de cogeração de energia própria, via geradores a diesel, por exemplo, poderiam utilizá-la por tempo determinado. “Esse mecanismo já está sendo estudado no Brasil há bastante tempo. Sempre demora um pouco para funcionar, mas em uma situação como essa pode catalisar algo que está praticamente no forno para ser implementado”, diz Iocca.

Edvaldo Santana, doutor em energia de produção e ex-diretor da ANEEL, também considera a redução do consumo fundamental para compensar o vazio dos reservatórios. “Se o consumo continuar como está, a situação já será complicada, mas, se crescer mais, sem dúvida nenhuma teremos racionamento de energia este ano. Não há energia para sustentar o crescimento econômico acima de 1%, a menos que seja focado em setores que não usem muito energia”, diz ele.

Os setores que mais consomem são justamente os que mais crescem com a recuperação da pandemia, como a indústria de base, siderúrgica e de alumínio. Já a agropecuária, principal componente para o crescimento do PIB brasileiro, também sofrerá com a crise hídrica, uma vez que a quantidade de água despendida para irrigação pode diminuir para reforçar os reservatórios das hidrelétricas.

“A situação é preocupante porque, se a autoprodução não for suficiente para atender a sua própria carga, a energia vai ter de ser comprada e será muito cara. Isso é inevitável, estamos na estação tradicionalmente seca até outubro, então a energia vai ficar mais cara para todos os consumidores”, diz Mario Menel, presidente da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), que representa gigantes como a Vale.

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Este quadro prejudicará ainda mais as empresas que lutam para refazer seus caixas, com esperança de uma recuperação pós crise da Covid-19. “A indústria automobilística sofreu muito, algumas montadoras até saíram do Brasil. A indústria de aço está se recuperando agora, a de cimento se mantém e pode crescer com o PIB brasileiro revisto para entre 4,5% a 5% no ano”, diz ele.

O assunto está sendo discutido pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, junto ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico e no Conselho Nacional de Política Energética, que têm interação interministerial. Tratam-se de estudos que consideram se vale mais a pena irrigar um metro quadrado de plantação de soja, por exemplo, ou manter o nível de reservatório suficientemente alto para permitir a navegação na hidrovia Tietê-Paraná. “Não tem água para todo mundo, então o governo está procurando uma gestão otimizada com uma visão mais holística”, diz Menel.

Um cálculo realizado por Edvaldo Santana mostra que hoje a população consome em média 67 GW por hora e, se a demanda continuar nos patamares atuais e as usinas térmicas não produzirem mais energia, os reservatórios de água podem ficar com 8% de sua capacidade total. O valor mínimo que eles já atingiram na história, no mês de outubro, foi 10%, e isso ocorreu em 2001, quando ocorreu um grande apagão e racionamento de energia. “Para se ter uma ideia, o reservatório total é de cerca de 300 MW na média, e dez por cento disso não dá nem para um mês de energia. Por isso, todo mundo está se esforçando para chegar em outubro com o reservatório em pelo menos 12% ou 15% da capacidade, para termos um certo conforto antes de começar o próximo período de chuva”, diz Santana. Caso não chova no próximo período úmido, a preocupação se estenderá para 2022.

De acordo com ele, mesmo que as usinas termelétricas, eólicas e solar do país forem ativadas, a geração de energia não será suficiente para suprir a demanda de necessária para a retomada economia após a pandemia. A expectativa é que o consumo de energia será levemente superior ao ano de 2019, quando foram consumidos 69 GW por hora.

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