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Por que o mercado financeiro está tão descolado da vida real

Um monumental fluxo monetário saído dos bancos centrais está indo diretamente para as bolsas de valores, em vez de oxigenar as economias

Por Victor Irajá Atualizado em 11 jun 2020, 18h14 - Publicado em 9 jun 2020, 17h59

“Só quando a maré baixa se descobre quem estava nadando nu”. A frase cômica do investidor americano Warren Buffett mostra uma triste realidade sobre a economia global. Antes da pandemia acossar os mercados norte-americanos, o país fluía de vento em popa. O grande trunfo do falastrão Donald Trump era os bons resultados no crescimento do país, que surfou na expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,8% em 2017; 2,5% em 2018; e 2,3% no ano passado. Neste cenário, tudo aninhava o discurso de campanha para a reeleição do mandatário americano para os bons frutos que proveu para a economia do país. Num cenário de crescimento real, sabe-se, o resultado é percebível nas ruas. Lojas e empreendimentos abrindo e as pessoas consumindo.

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A pandemia do coronavírus colocou em xeque a construção de resultados alentadores para a economia americana neste ano, que amargou queda de 4,8% no primeiro trimestre. No distópico reino do mercado financeiro, porém, o processo é um pouco mais complexo. Nesta terça-feira, 9, a Nasdaq, a bolsa de empresas de tecnologia dos Estados Unidos, bateu níveis recordes, enquanto o país amarga a triste primeira colocação entre as nações mais afetadas pela pandemia do novo coronavírus. A listagem ultrapassou o patamar dos 10 mil pontos pela primeira vez na história, puxada pelos ótimos resultados da Amazon e da Apple, cujas ações subiram mais de 3% no pregão desta terça. Na segunda-feira 8, o país ultrapassou a marca 110 mil mortos pela Covid-19. 

O que explica, portanto, os bons resultados não só do mercado de ações nos Estados Unidos, como ao redor do mundo nas últimas semanas? O descolamento do negociado no ilusório mercado financeiro das economias reais. Assim como no Brasil (mas em proporções astronomicamente diferentes), o Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, injetou uma dinheirama nos mercados para garantir que haveria dinheiro rolando para evitar a quebra dos negócios e a garantia de manutenção da subsistência da população, como na manutenção de empregos e aportes para os mais necessitados. O balanço da instituição somou 7 trilhões de dólares nesta semana. E parte deste dinheiro foi parar na bolsa, ao invés de oxigenar a economia.

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Outro fator que está promovendo os recordes pode estar num problema que é nefasto para a recuperação da economia real. O colapso aumentou a aversão de pessoas comuns investirem suas economias em novos negócios. Assim, os recursos estão sendo direcionados para as bolsas, numa expectativa de um ganho com menor risco. “Se alguém tem 100 mil reais para investir, ele não vai montar uma padaria neste momento. Vai operar direto de casa”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton. Outro fator que explica os bons resultados da bolsa de tecnologia é o mercado em que está baseada. “Como está muito evidente que o futuro do mundo é ainda mais digital, por conta da pandemia, essas empresas podem se beneficiar”, completa Perfeito.

O tamanho das empresas também é um fator que mostra o descolamento do atual cenário do mercado de ações — e a discrepância entre as grandes empresas e os pequenos empreendedores. Enquanto, pela paralisação imposta pela doença, gente comum fecha as portas, o mercado sabe que a garantia está nos gigantescos conglomerados, sólidos e dificilmente quebráveis e precifica, também, a ausência de concorrência. Com a saída de companhias da mesma frente de atuação do jogo, é natural que os consumidores voltem-se às empresas resistentes, aquelas listadas em bolsa.

A expectativa dos investidores é de que estas grandes companhias liderem a retomada das economias ao redor do mundo, movimento percebido no Brasil nos últimos dias com o Ibovespa flertando com a volta ao patamar de 100 mil pontos, depois da devassa que o pavor envolvendo a pandemia e a instabilidade do cenário político arrefeceram. Nesta terça-feira, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em queda, de 0,92%, pela primeira vez depois de sete dias de alta. O dólar ganhou força, e encerrou o dia em alta de 0,69% a 4,88 reais. A reabertura das economias tem tudo para fortalecer os grandes negócios, ainda num cenário de retomada lenta, como avaliado por agentes de mercado. Na alusão de Buffett, com o ânimo dos investidores em alta, mira-se em quem usa roupas de banho. E em quem pode comprá-las.

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