Por que o mercado espera (mais uma) manutenção na Selic
Reunião do Federal Reserve, nos EUA, pode colocar mais pressão sobre os ombros de Campos Neto
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta terça e quarta-feira, dias 2 e 3, para definir a taxa básica de juros, a Selic, a vigorar para os próximos 45 dias. A projeção dos economistas do mercado financeiro é de uma nova manutenção da taxa em 13,75% ao ano, o maior patamar em seis anos e meio. Também representa a maior taxa real do mundo. “A questão fiscal ainda é um tema, a tramitação do arcabouço ainda é uma dificuldade”, afirmou a VEJA Bruno Mori, economista e sócio fundador da consultoria Sarfin. “Muita expectativa sobre o comunicado para saber o que que o Banco Central está enxergando para o horizonte de longo prazo”, completou.
Os dados do IPCA-15, a prévia da inflação, mostraram inflação menor em abril, mas com núcleos ainda pressionados e trazendo menos chances do BC iniciar cortes na taxa Selic a curto prazo. O índice subiu 0,57% em abril, depois de avançar 0,69% em março. Já o núcleo de serviços ficou em 0,52%. “O índice cheio está dentro do limite do teto para o ano, mas isso não não garante uma queda já nessa reunião, dado que os núcleos ainda tem dificuldade de cair com mais força”, disse Mori.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira, 2, que o Copom já poderia iniciar o processo de corte dos juros básicos da economia nesta semana. “Dá, né?”, respondeu ao ser questionado por jornalistas se já seria viável baixar a taxa Selic. “Seria uma mudança muito abrupta sair de uma comunicação falando que pode voltar a subir para cortar, mas a apresentação do arcabouço fiscal e número melhores de inflação justificam uma mudança no comunicado”, afirmou Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.
Na última reunião, o comunicado veio sem uma sinalização sobre o início de queda da Selic e com a repetição da “ameaça” de voltar a aumentar a taxa básica de juros em caso de descontrole da inflação.
Outro ponto de atenção do mercado é a próxima reunião do Federal Reserve, o banco central norte-americano, que também está reunido nesta semana. O aumento esperado de 0,25 ponto percentual na quarta-feira colocará a taxa na faixa de 5% a 5,25%, a taxa mais alta em quase 16 anos. “A gente vai começar a olhar para corte de juros uma vez que os EUA parem de subir juros, o que deve acontecer agora”, disse Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos. “A taxa vai ser mantida, mas estamos em um nível muito restritivo. O discurso do Powell pode colocar mais pressão sob Campos Neto para cortar taxas”, completou.