PIX fora do ar? Greve de servidores do BC preocupa
Autoridade monetária diz que tem sistema de contingência para continuar operando o PIX durante a paralisação, que deve começar dia 1º
Os servidores do Banco Central decidiram entrar em greve por tempo indeterminado a partir do dia 1º de abril. A insatisfação vem da falta de reajuste salarial e da reestruturação de carreira e foi decidida em assembleia na última segunda-feira, 28. A paralisação dos servidores põe em dúvida o funcionamento de alguns serviços como o PIX, o sistema de transferências instantâneas que vem batendo recorde atrás de recorde e caiu no gosto do brasileiro.
O presidente do sindicato dos servidores do BC, o Sinal, afirmou que a paralisação deve respeitar a lei de serviços essenciais, mas o PIX não se encontra dentro dessa lei, e pode sofrer paralisações na prestação do serviço. Questionado se há risco do PIX ficar fora do ar por causa da greve dos servidores, o Banco Central afirmou que “tem planos de contingência para manter o funcionamento dos sistemas críticos para a população, os mercados e as operações das instituições reguladas, tais como STR, PIX, Selic, entre outros”. O PIX funciona 24h por dia, sete dias por semana e é operado pelo Banco Central.
A greve dos servidores do BC é um dos desdobramentos do aceno dado pelo presidente Jair Bolsonaro de conceder reajustes a policiais federais no Orçamento de 2022. A crise foi em parte contornada pela equipe econômica, que avaliou que o movimento de contemplar apenas um grupo específico de servidores poderia deflagrar uma crise. Porém, a insatisfação entre as outras categorias acabou instalada.
No caso do BC, os servidores vinham realizando paralisações desde o início do ano em períodos do dia. A partir de 17 de março, as paradas passaram a ser diárias, das 14h às 18h. Além da greve, os servidores também organizam a entrega conjunta de cerca de 600 cargos comissionados até quarta-feira, segundo o presidente do Sinal, Fabio Faiad.
Além do PIX, outro sistema que pode ficar fora do ar é o de valores a receber, do “dinheiro esquecido” nos bancos. Desde fevereiro, o BC vem informando a clientes bancários que têm valores esquecidos em instituições que há direito ao dinheiro, e opera um sistema para que as pessoas peçam o pagamento desses valores.
Apagão de dados
A publicação de estatísticas econômicas do BC está ocorrendo com atraso, apesar de a autoridade monetária não vincular a questão diretamente com o movimento de paralisação. O Boletim Focus, que traz projeção do mercado financeiro sobre PIB, inflação e juros, já vem há duas semanas em atraso. Publicados por volta das 8h30 todas as segundas-feiras, os dados foram divulgados nesta segunda e na passada às 10h. Estatísticas de fevereiro, como investimentos diretos de estrangeiros no Brasil, monetárias e de crédito e fiscais, previstas para esta semana, não serão divulgadas. Houve ainda atraso nas publicações de dados do fluxo cambial, do resultado do questionário pré-Copom e da apuração da taxa ptax (taxa de câmbio) diária.
A categoria em greve reivindica reajuste de 26,3%. Além disso, os funcionários pedem outras coisas, como mudança da nomenclatura de analista para auditor, por exemplo. No último sábado, membros do sindicato dos servidores se reuniram com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, mas não houve avanço nas negociações, o que culminou no anúncio da greve.