Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Os impactos econômicos para o Brasil com Trump ou Biden

Um relatório da Amcham aponta as oportunidades e desafios para o país em caso de vitória de cada candidato das eleições americanas

Por Victor Irajá Atualizado em 1 out 2020, 09h51 - Publicado em 30 set 2020, 16h25

Frasista célebre, o duque francês François de La Rouchefoucauld (1613-1680) tinha o dom da retórica, aquela ausente no debate da noite de terça-feira 29 entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden. “A fama dos grandes homens devia ser sempre julgada pelos meios que usaram para obtê-la”, ensinou, certa vez, o francês. Se julgados pela atual fama do Brasil no exterior, os meios não seriam nada nobres. Durante a grita que se passou por debate entre os americanos, o país presidido por Jair Bolsonaro foi colocado no centro das discussões pelo candidato democrata — e por um péssimo motivo: o descuido com a Amazônia. “A floresta tropical do Brasil está sendo devastada, está sendo destruída”, começou Biden, que prometeu, se eleito, articular uma coalizão para arraigar fundos para preservar a floresta. Por outro lado, ameaçou, na mesma fala, retaliar economicamente o Brasil se as políticas de preservação continuarem as mesmas. “Aqui estão 20 bilhões de dólares. Parem de destruir a floresta e, se não pararem, então enfrentarão consequências econômicas significativas”, disse.

A proposta repercutiu no meio econômico e de ambientalistas, mas, àqueles atentos, nada existe de novo. Um relatório da Amcham, a câmara de comércio entre Brasil e Estados Unidos sediada em São Paulo, já apontava as oportunidades para o país em ambos os cenários, na ressaca de vitórias de Trump e Biden. Segundo o levantamento que analisa a diretriz econômica dos candidatos, o Brasil ocupa um espaço regional de destaque na disputa e as relações com a China, o maior parceiro comercial do país, estarão no cerne das discussões. No caso de uma vitória democrata, a instituição aponta que as relações comerciais entre os dois países deve ter uma guinada semelhante à, hoje, existente entre o Brasil e os países-membro da União Europeia, que cobram políticas mais efetivas do governo brasileiro em relação à pauta ambiental. “Caso Biden seja eleito, o Brasil pode esperar um maior engajamento dos Estados Unidos em temas internacionais. Por outro lado, deverá haver maior foco em temas como mudança do clima, preservação da Amazônia e direitos de minorias, assim como já ocorre por parte dos países europeus”, afirma a Amcham.

Por outro lado, a recondução de Trump à Casa Branca pode, segundo a organização, significar uma aproximação maior das duas nações, graças às relações da família Bolsonaro com o atual presidente americano. A Amcham, porém, alerta para um maior caráter de defesa de uma política nacional-desenvolvimentista e protecionista do republicano em relação a Biden, cujo partido é mais historicamente ligado aos ideais globalistas. “Com Trump, a agenda de retomada econômica dos Estados Unidos deverá ter um caráter mais nacionalista, com viés protecionista na área de comércio e pontos de fricção em relação à América Latina, sobretudo em torno de temas como imigração ilegal e tráfico de drogas”, diz a instituição. “A proximidade da família Bolsonaro com Donald Trump pode ser um facilitador para o aprofundamento da agenda bilateral de comércio e investimentos”, aponta o relatório. Os dois cenários abrem oportunidades interessantes para o comércio e investimentos entre os dois países destaca a Amcham, apesar das diretrizes opostas em relação às costuras comerciais dos Estados Unidos em ambos os cenários.

Continua após a publicidade

Segundo o documento, sob a liderança de Trump, os Estados Unidos se tornaram mais avessos ao multilateralismo e à atuação de organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU). Trump, aponta o relatório, também tem sido crítico de alguns acordos de livre comércio firmados pelos Estados Unidos (como o NAFTA e a Parceria Transpacífica) e tende a privilegiar negociações bilaterais em detrimento de negociações que envolvam múltiplas partes. O Partido Democrata, por sua vez, permanece mais claramente a favor da participação em organizações internacionais, além de defender uma abordagem multilateral para a resolução de conflitos na política externa e apoiar mais abertamente o livre comércio com outros países, ainda que com maior ênfase na inclusão de temas como proteção de meio ambiente e de direitos humanos, destaca a Amcham.

O governo brasileiro reagiu. “Só uma pergunta: a ajuda de 20 bilhões de dólares do Biden é por ano?”, ironizou Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente. O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, recorreu às redes para criticar a proposta de Biden. “O candidato à presidência dos EUA, Joe Biden, disse ontem que poderia nos pagar US$ 20 bilhões para pararmos de ‘destruir’ a Amazônia ou nos imporia sérias restrições econômicas”, começou o presidente. “O que alguns ainda não entenderam é que o Brasil mudou. Hoje, seu Presidente, diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças. Nossa soberania é inegociável”, concluiu. Os olhos dos candidatos estão mirados, entre outras questões, no Brasil. Infelizmente, por motivos negativos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.