O sumiço de 2 bilhões de dólares que abalou bancos na Europa e na Ásia
A empresa de pagamentos Wirecard, que possui operações no Brasil, é acusada de ter fraudado documentos para desviar os recursos

Um escândalo envolvendo uma das maiores empresas de pagamentos no mundo abalou o sistema financeiro nesta sexta-feira, 19. A processadora de pagamentos alemã Wirecard está com um buraco financeiro de nada menos que 1,9 bilhões de euros (2,1 bilhões de dólares). Entre acusações e investigações, pesa contra a companhia a possibilidade de que documentos falsos tenham sido emitidos para enviar os recursos para bancos na Ásia. A empresa possui mais de 7.000 clientes em todo mundo, operações no Brasil, e transaciona mais de 150 bilhões de dólares anualmente. Para piorar, a relação da companhia com um dos maiores investidores em startups no mundo, o grupo japonês Softbank, ampliou o impacto da possível fraude.
A Wirecard emitiu um comunicado na quinta-feira, 18, após a auditoria da EY não conseguir identificar a localização do dinheiro que supostamente estaria em bancos asiáticos. As instituições, porém, negaram qualquer ligação comercial com a alemã. “Foi um funcionário desonesto que falsificou documentos e assinaturas de nossos executivos”, disse por mensagem de celular o diretor executivo do BDO Unibank, empresa bancária filipina mais conhecida como Banco de Oro. “O Wirecard não é um cliente”, disse o Banco das Ilhas Filipinas em comunicado. O Banco Central das Filipinas também está investigando o caso, bem como a Autoridade Federal de Supervisão Financeira da Alemanha, mais conhecida como BaFin, que abriu três processos para apurar o enrosco. O imbróglio forçou a companhia a adiar a publicação do balanço financeiro de 2019, que seria divulgado nesta quinta, 19.
O presidente da Wirecard AG, Markus Braun, acionista majoritário e que estava à frente da empresa desde 2002 renunciou após o estouro do escândalo. “A confiança do mercado de capitais na empresa que administro há 18 anos foi profundamente abalada”, disse o cientista da computação em comunicado. “Com minha decisão, respeito o fato de que a responsabilidade por todas as transações comerciais cabe ao CEO.” Braun foi substituído por um CEO interino, James Freis, nesta sexta. O diretor de operações, Jan Marsalek, com quem Braun trabalhou desde o início da empresa, também foi suspenso temporariamente.
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Sob suspeita também está o relacionamento da companhia com o SoftBank Group Corp., multinacional de telecomunicações e internet com sede em Tóquio. O grupo, comandado por Masayoshi Son, é um dos principais investidores de novas companhias na área de tecnologia, as chamadas startups. Por si só, a companhia já possui mais rolos do que seria recomendado. Agora, passa a ser escrutinada por seu relacionamento com a Wirecard. No ano passado, a japonesa firmou um acordo de parceria estratégica no qual compraria 1 bilhão de dólares de debêntures conversíveis — dívida que poderá se transformar em participação societária — da empresa alemã, mas a transação acabou sendo feita por funcionários da SoftBank e pelo fundo Mubadala, um fundo soberano dos Emirados Árabes. Além disso, um parceiro da área de investimentos da Softbank estava prestes a se tornar um membro do Conselho da Wirecard. Essa não é a primeira vez que a empresa se envolve em operações duvidosas. Em 2018, uma denúncia de uma empresa em Cingapura acusou contratos irregulares e faturas falsificadas, o que se tornou uma investigação naquele país.
A Wirecard sofreu um colapso financeiro, com liquidação em massa de suas ações: os ativos caíram quase 72% em dois dias, uma das maiores quedas da bolsa de Frankfurt. Avaliada em 24,6 bilhões de euros em 2018, hoje vale 2,4 bilhões de euros. Não é para menos: analistas do Morgan Stanley estimaram que, caso a empresa não consiga localizar a quantia de 1,9 bilhões de euros, a companhia teria em caixa apenas 220 milhões de euros. Agora os acionistas esperam que o caso seja esclarecido e que os bilhões de dólares, cuja existência também foi colocada em xeque, reapareçam.
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