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Apesar de sinais de desaceleração, riscos inflacionários continuam em 2022

A taxa de câmbio, o petróleo, os efeitos climáticos do La Niña, e o risco de novas variantes são alguns dos fatores de risco inflacionário para 2022

Por Luana Zanobia Atualizado em 10 jan 2022, 18h37 - Publicado em 10 jan 2022, 16h05

Nas vésperas do IBGE divulgar a inflação oficial do ano passado, analistas do mercado passaram a apostar em  uma desaceleração do índice, caindo de 10,01% para 9,99%, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 10. Embora o índice tenha sido revisado um pouco para baixo, ficando abaixo dos dois dígitos, as projeções não necessariamente refletem o cenário para 2022, que ainda deve contar com fortes pressões, internas e externas, nos preços.

O recuo na revisão da inflação de 2021 pelo mercado está ligado à queda no preço dos combustíveis nos últimos meses do ano e aos efeitos da alta da taxa básica de juros (Selic) na economia. Ainda assim, para os economistas, o recuo de 0,1 ponto percentual é pouco significativo. “Ainda temos um cenário de inflação muito alta e não é a variação de 0,1 ponto percentual que vai mudar esta situação”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest. A inflação acumulada de dozes meses é de 10,74% até novembro, e a de 2021 será divulgada nesta terça-feira, 11. Para Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos, embora as estimativas do Focus vieram abaixo de dois dígitos, as variáveis continuam trabalhando para a alta da inflação.

O mercado projeta uma inflação de 5,03% para 2022, acima do centro da meta (3,5%) e fugindo da meta (5%). A estimativa é maior que há quatro semanas atrás. Para conter a escalada de preço, os economistas do Banco Central passaram a projetar uma Selic de 11,75% ao fim de 2022, acima dos 11,50% da semana passada. “O cenário de inflação está longe de ser otimista. Com o Banco Central atuando na elevação da taxa de juros, a inflação tende a ser um pouco mais baixa, mas ainda acima da meta de inflação”, diz Consorte. Para Thomas Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, a alta da Selic deve ajustar a oferta e demanda, mas o movimento é de longo prazo. “Por isso, não acho que 2022 será o ano em que a inflação vai baixar, ainda existem riscos relevantes”, diz.

A taxa de câmbio, o petróleo, os efeitos climáticos do La Niña, e o risco de novas variantes são alguns dos fatores de risco inflacionário elencados pelos especialistas ouvidos por VEJA para o ano de 2022.

A taxa de câmbio é um dos desafios para a queda dos preços no mercado interno. O dólar registrou alta de 7,47% sobre o real em 2021, e as expectativas para este ano não são animadoras. Com a crise fiscal e em meio a ano eleitoral, o risco Brasil fica maior, impactando na cotação do dólar. A projeção do mercado para o dólar é de 5,60 de reais, de acordo com o Focus. A escalada no aumento dos juros americanos também fazem pressão sobre a elevação do dólar. Por isso, alguns bancos e casas de análise já falam em um câmbio a 6 reais no fim de 2022.

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Outro desafio é o petróleo, isso porque o seu valor pode continuar resistindo a quedas em 2022.  Na semana passada, o petróleo Brent, principal referência para a cotação do combustível pela Petrobras, saltou para 80 dólares por barril, o seu maior nível desde novembro, quando as primeiras notícias sobre a nova variante derrubaram o preço. Bancos de investimentos e especialistas do setor acreditam que o Brent pode bater 100 dólares por barril ou até mesmo ultrapassar este valor este ano. Segundo analistas, o preço do petróleo não deve arrefecer neste ano, devendo se manter acima de 75 dólares por barril, e aliviando pouco para as autoridades monetárias. O cenário base da Zahl Investimentos é de 75 a 80 dólares por barril. Para o Bank of America, a ômicron terá efeito limitado na demanda e o Brent deve encerrar 2022 cotado a 85 dólares por barril, preço máximo atingido no ano passado.

Com esses cenários de câmbio alto e preço do barril mais caro, são esperados novos aumentos nos combustíveis, que transbordam para outros setores e pressionam novamente o IPCA.  No ano passado, a cotação do petróleo Brent subiu 60,9% em relação a 2020, em meio à trajetória de retomada econômica, que fez disparar a demanda pela commodity. A alta do preço do barril do petróleo tem sido um dos principais vilões para a disparada do preço dos combustíveis no Brasil. Gasolina e diesel ficaram 43% mais caros, enquanto o etanol chegou a encarecer 61,2% nas bombas em 2021, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a ANP.

Outros fatores de risco para a inflação de 2022 é a evolução da ômicron ou o aparecimento de novas variantes que obriguem o fechamento da economia e a paralisações nos países. Como a China possui um sistema mais rígido para o controle da doença, as paralisações por lá podem continuar gerando desequilíbrios nas cadeias de suprimentos. “No curto prazo, a ômicron pode gerar fortes pressões de choque de oferta, principalmente de mão de obra, e isso vai puxar o índice de inflação um pouco pra cima no início do ano. Mas, conforme ficar mais claro que a variante é menos grave, a recuperação tende a retomar”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.

Já o efeito climático do La Niña pode ter efeitos anulantes na inflação. Se por um lado, o elevado volume de chuvas deve ajudar a arrefecer a crise energética, repercutindo na redução na bandeira tarifária – um dos principais componentes inflacionários de 2021 -, por outro, as chuvas podem ter impacto nas safras. Os preços ao longo do ano também podem ser influenciados pelos riscos políticos em meio ao ano eleitoral, e aos fiscais com a pressão por reajuste dos servidores públicos e medidas populistas.

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