Mercado vê ainda mais aperto nos juros, mas ritmo da alta deve diminuir
Em um ano, juros passaram de 2% para 10,75%; BC sinaliza que ciclo de aumentos não acabou, e analistas veem aumentos entre 0,75 a 1 ponto na próxima reunião
Em um ano, a taxa básica de juros, a Selic, passou de 2% para 10,75%. Foram oito altas consecutivas, sendo as últimas três — incluindo a decisão da quarta-feira, 3 — de 1,5 ponto percentual. No comunicado, o Banco Central aponta que as subidas devem continuar, já que a inflação ainda pressiona, porém, a velocidade do aumento deve ser menor. As projeções do mercado sobre a próxima alta divergem, mas há consenso que ficará abaixo dos apertos das últimas reuniões.
O próximo encontro do Copom acontece entre os dias 15 e 16 de março. A alta na taxa de juros é uma ferramenta da política monetária para tentar controlar a inflação. Com juros mais altos, o crédito fica mais caro e desestimula o consumo de pessoas físicas e jurídicas. Um dos efeitos, entretanto, é a lentidão da economia.
Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências, por exemplo, espera uma alta de 0,75 ponto percentual na reunião de março, para 11,5%, mas enfatiza que não descarta “um ajuste residual em maio, a depender da evolução do quadro inflacionário. Por ora, nossa projeção tem um risco para cima”, diz ele.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, também projeta uma alta de 75 pontos base, mas prevê mais uma de 50, o que faria a Selic encerrar o ano em 12% ao ano. “Mas levando em conta o tom da ata e a perspectiva que o colegiado do Banco Central está olhando com mais atenção o ano calendário de 2023, talvez haja espaço para uma alta de 100 pontos base e depois mais nenhuma, fazendo a taxa ficar em 11,75%”, diz Perfeito.
Já para o banco americano Goldman Sachs, a próxima alta será levemente maior. “Estamos projetando outra alta de 100bp na reunião de março, para 11,75%, que dependendo da evolução da inflação e do respectivo balanço de riscos pode anunciar o fim do ciclo de alta; com cortes modestos provisoriamente marcados para o final de 2022”, diz em relatório, que justifica a análise “pelo fraco perfil de crescimento do PIB real abaixo da tendência, cenário incerto do Covid, efeitos defasados do recente aperto monetário e BRL (real) melhor ancorado.”
A análise da Valor Investimentos, por sua vez, também prevê uma alta de 1 ponto percentual. “Dessa forma, o Banco Central vai chegar bem perto do que tinha desenhado no seu plano de voo, que é subir os juros e fazer a reversão da inflação, que ficou em 10,06%”, diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. “A meta para 2022 é trazer para menos de 5%. Claro que ele vai dosando ao longo do ano a estratégia. Com as eleições devemos ver muita volatilidade. O Banco Central deixou em aberto a alta da próxima reunião, mas acreditamos que deve ser de um ponto”, diz ele.
Alta pode chegar a 1,5 ponto percentual
Já para a Guide Investimentos, na próxima reunião o Copom deve subir a Selic em 1,25 ponto percentual, mas a corretora não descarta uma alta de 1,5. “Os núcleos de inflação ao consumidor estão voltando a registrar uma aceleração acima do previsto. Além disso também temos uma piora das expectativas do Focus para 2022 e 2023 e uma abertura da inflação implícita no mercado de títulos”, diz Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos. Porém, Beyruti deixa em aberto a possibilidade de uma próxima alta de 1 ponto percentual, seguida por outra de 0,5 ou 0,75, “de forma que o Copom alongará o ciclo de alta da Selic para tentar navegar nesse cenário bastante nebuloso, saindo do pior da pandemia no sentido da crise sanitária”.