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Dia das Mães: mulheres trocam carteira assinada por negócio próprio

Depois do nascimento do primeiro filho, muitas mulheres mudam de carreira principalmente para ter mais tempo com a cria

Por Tatiana Babadobulos
Atualizado em 10 Maio 2018, 10h15 - Publicado em 10 Maio 2018, 10h15

Não é apenas uma criança que nasce após a maternidade. Muitas mulheres decidem se lançar no empreendedorismo motivadas, principalmente, pelo desejo de passar mais tempo com o filho. Esse é o caso da empresária Adriana Rossi, 36, que trabalhou muitos anos no mercado financeiro, em uma rotina exaustiva de mais de 70 horas por semana. Ela diz que achou que seria muito difícil voltar ao trabalho depois do nascimento da primeira filha, hoje com 7 anos.

“Parei de trabalhar e voltei ao mercado só quando a minha filha tinha quase dois anos”, diz a também mãe de um menino de dois anos. 

Adriana não está sozinha nessa mudança de rumo profissional. Dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016, realizada em parceria entre Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e IBQP (Instituto Brasileiro Qualidade e Produtividade), mostram que o número de mulheres que abrem empresa motivadas por uma necessidade é maior do que os homens. Em 2010, 49,3% dos empreendedores eram mulheres. Em 2016, essa fatia subiu para 51,5%. A barreira dos 50% foi superada em 2013, quando as mulheres representaram 52,2%.

Entre os novos empresários, 48% delas o fazem porque precisam, enquanto entre os homens esse número cai para 37%. Pesquisa da Rede Mulher Empreendedora (RME) descobriu que 75% das empresárias brasileiras decidiram ter o próprio negócio depois da maternidade.

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“Esse retrato do empreendedorismo feminino reflete a necessidade da mulher de conciliar a maternidade com a vida profissional”, afirma em nota o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos.

Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia – empresa de fomento de negócios de impacto social –, afirma que nos últimos dois anos aumentou o número de mulheres que buscam empreender nos setores de educação, saúde, serviços financeiros e habitação. “A educação, principalmente, é um setor que tem despontado como mercado, com mais mulheres empreendedoras”, diz.

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De olho nessas empreendedoras, a empresária Dani Junco criou, ao lado de outras quatro mulheres, uma empresa aceleradora de projetos com foco justamente em mães empreendedoras. A B2Mamy dissemina informações para empreendedoras e as prepara para apresentar seus projetos a investidores. “Acreditamos que uma mãe pode encontrar um caminho de equilíbrio entre sucesso profissional e participação ativa na educação e criação dos filhos e é para isto que trabalhamos”, explica Dani.

Adriana Rossi, do Canal Bloom (//Divulgação)

Mão na massa

Mesmo esperando dois anos para retornar ao mercado, Adriana Rossi conta que a volta não foi um sucesso de início. “Não deu certo. Queria fazer algo voltado para a orientação dos pais. Li muitos livros em inglês e percebi que poucas pessoas tinham acesso às informações. Achei que seria importante para muitos pais ter esse conhecimento. Depois da maternidade, comecei a questionar e a tentar entender a mudança na carreira.”

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Em 2015, Adriana conheceu a atual sócia, Roberta Sotomaior, e ambas tiveram a ideia de criar um site com atividades para os pais fazerem com os filhos. Foi aí que surgiu o Canal Bloom, plataforma multimídia com foco no desenvolvimento e desafios socioemocionais envolvidos no cuidado de crianças do nascimento aos seis anos de idade.

“Minha ideia era criar algo com orientação parental de forma lúdica. Hoje, temos 15.000 usuários desde que foi ao ar, em setembro de 2017”, diz. Ela conta que, embora exija dedicação, o novo trabalho oferece flexibilidade de tempo. Além do conteúdo proveniente de bibliografia internacional, há especialistas em diversas áreas que são colaboradores, como psicólogos, neurocientistas, psiquiatras que atuam em universidades americanas. “Criamos um círculo virtuoso: adultos mais conscientes e informados criam crianças emocionalmente saudáveis. Essas crianças se tornarão adultos mais realizados e engajados com a transformação do mundo à sua volta – e com o desenvolvimento dos seus próprios filhos”, diz.

Outra mãe que resolveu empreender é Clareana Eugênio, de 38 anos. Ela descobriu, após a segunda maternidade, que podia atuar em outras frentes. Professora de inglês em escola de idiomas e em colégio bilíngue, ela resolveu mudar de profissão quando nasceu o segundo filho, há quatro anos. “A rotina era muito pesada, pois trabalhava em escola em período integral. Quando mudamos de cidade, não quis voltar a dar aulas e pensei no que poderia fazer para me ocupar, mas também para ajudar no orçamento da casa”, explica. A mudança na carreira acontece, segundo ela, porque existe o desejo de estar próximo dos filhos e, muitas vezes, a empresa não entende. “A flexibilização nos horários muitas vezes é impossível”, conta.

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Começou com um grupo no Facebook, que vendia produtos em grupo de desapego. Lá, as também mães colocavam os seus produtos à venda para outras mães. É como se fosse uma cadeia na qual uma ajuda a outra, pois cada uma sabe como é difícil voltar à rotina muitas vezes exaustiva do posto de trabalho em que atuava antes de nascer o primeiro filho.

Clareana Eugênia, do Materna Shop, com os três filhos Violeta, Benjamin e Cauã (//Arquivo pessoal)

“Vi que as mulheres que vendiam os seus produtos ali não se profissionalizam e não conseguem dar conta de tudo”, diz Clareana, que atualmente vive em Florianópolis. O grupo começou pequeno e hoje tem 20.000 seguidores. Foi aí que ela teve a ideia de criar uma plataforma colaborativa para as mães poderem se ajudar. “O site ainda está em desenvolvimento e vai funcionar como market place”, diz ela sobre o Materna Shop, que começou como brechó, mas agora vende produtos novos para mães e crianças. “Não são apenas produtos, há venda de serviços também, como advogada e psicóloga”, diz ela. Quando faz posts patrocinadas no Instagram, por exemplo, é cobrada taxa de 60 reais de cada empreendedora.

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No Materna Shop há muitas mães vendendo movelaria infantil, principalmente camas em forma de casinha, cabaninhas de índio e artigos para festas de aniversário. O lema da empresa é “compre de uma mãe”. “Recebo muitas mensagens no Facebook de mães agradecendo a oportunidade e isso é um reconhecimento muito bom”, conta.

Para a mãe que quer mudar a rotina ela diz que é preciso buscar algo que tenha a ver com ela, pois “sair do emprego fixo para fazer algo que não gosta começar errado”. “Ter um propósito do motivo pelo qual está fazendo faz diferença. E acredite em si mesmo”, diz Clareana.

Adriana diz que empreender em um negócio que você se identifica é mais importante do que a lucratividade. “Empreender não é tarefa fácil, assim como também não é a maternidade”, diz. Outra dica é não fazer sozinha e se planejar. “Fazer uma reflexão sobre quanto tempo e quando você vai estar com os filhos e quais as horas do dia vai se dedicar para o negócio. Esta clareza é essencial para que você possa estabelecer uma rotina que funcione em casa e no trabalho”, conclui.

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