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Covid-19, BC e crise interna jogam o Brasil numa montanha-russa cambial

Dólar oscila reais inteiros como se fossem centavos na pandemia; nos últimos 18 dias, a moeda subiu 12,5%, após ter sucumbido 18,8% nos 26 anteriores

Por Luisa Purchio Atualizado em 26 jun 2020, 19h56 - Publicado em 26 jun 2020, 18h35

A cotação da moeda americana frente ao real vem chacoalhando investidores e empresários, como se estivessem em uma montanha-russa. No começo do ano a moeda estava em 4,02 reais e no dia 13 de maio, em meio ao auge da pandemia, chegou ao recorde de 5,90. Pouco mais de uma semana depois, uma queda drástica: foi a 5,28 no dia 27 de maio. Em junho, rompeu a barreira dos 5 reais e alcançou 4,85 reais, o menor nível desde o início da crise sanitária, totalizando uma queda de 18,8% e mais de 1 real de diferença. Dezoito dias depois, volta para o patamar de 5,46, numa arrancada de 12,5%. O fato de o real ser a moeda, dentre as mais relevantes para o comércio internacional, que mais se desvalorizou no ano mostra que, além da pandemia, as incertezas internas no Brasil vêm criando um cenário de insegurança no mercado que potencializa os danos econômicos da crise sanitária.

Esta sexta, 26, foi turbulenta no mercado de câmbio. O dólar comercial abriu a 5,3831 reais e por volta das 10h15 caía 2,11%, para 5,2691 reais. Mesmo após o leilão do Banco Central (BC), o primeiro desde o dia 1º de junho, a moeda continuou a subir. Eram 11h15 quando a autoridade monetária colocou 1 bilhão de dólares à venda à vista no mercado: foi aceito um valor de apenas de 502,5 milhões de dólares à vista. É uma clara evidência de que não há falta de moeda americana no sistema financeiro brasileiro, pois o volume total não foi aceito devido à falta de interesse dos bancos em aceitar o preço ofertado pelo BC. Assim, o movimento de alta é visto como algo especulativo e praticado, principalmente, pelos agentes brasileiros — como bancos e grandes corretoras de câmbio. O dólar fechou em alta de 2,34%, a 5,4609 reais — a terceira escalada consecutiva.

Essa alta do preço do dólar mesmo em um dia de ampla oferta da moeda no mercado também reflete o risco que o mercado e o mundo vivem diante das incertezas do novo coronavírus. O estado americano do Texas, que enfrenta um aumento no número de casos de Covid-19, reverteu as medidas de isolamento social. Além disso, o órgão que controla as doenças nos Estados Unidos disse que o número de contagiados pode ser dez vezes maior que o divulgado oficialmente. As novas ondas da pandemia impactam diretamente no câmbio brasileiro, mas não é só isso. Nessa semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que a taxa Selic deve ficar em 2,25% até setembro de 2021, mas disse também que pode haver corte “residual”.

Foi um sinal errático dado pela autoridade monetária — o que nunca é bom e só serve para confundir o mercado. Além disso, o Banco Central também divulgou o relatório de inflação trimestral, no qual afirma que há 75% de chance de o limite inferior da inflação ser ultrapassado, o que pode forçar novos cortes na Selic. Por isso, houve uma corrida dos investidores por mais aquisição da moeda americana. “O mercado está sem bússola para adivinhar as cotações possíveis do dólar. O erro foi o BC dizer que tem um ponto mais baixo para reduzir a Selic”, diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC e ex-presidente do Conselho do BNDES.

Diante da ansiedade em torno da doença, pares do real, como o peso mexicano e o argentino, ou o rand sulafricano, por exemplo, não sofreram altas e baixas tão bruscas neste período. “No Brasil, somamos todo esse contexto externo aos problemas domésticos. Há muitas turbulências políticas, incertezas fiscais e uma necessidade de se avançar numa agenda de reformas ambiciosas”, diz Silvio Campos Neto, sócio e economista da Tendências. Na quinta-feira, 25, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, não excluiu a possibilidade de rever a lei do teto de gastos, o que significa que o déficit fiscal do país pode aumentar e, consequentemente, o seu risco. Para jogar as contas públicas do país na lona, só falta isso. “Tudo isso deixa a moeda sujeita a oscilações bruscas como as que temos visto”, diz ele. Enquanto o Brasil não tiver coordenação política para implementar uma agenda econômica que diminua o seu risco e que desperte a atenção dos investidores internacionais, o mercado ainda estará sujeito a fortes emoções.

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