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Como as agendas econômicas de Milei e Massa pesam na eleição argentina 

Enquanto ultraliberal prega a dolarização e a saída do Mercosul, o peronista quer impulsionar geração de emprego com reforma tributária

Por Felipe Mendes Atualizado em 24 out 2023, 13h34 - Publicado em 24 out 2023, 09h00

A disputa pelo segundo turno nas eleições presidenciais da Argentina colocará dois opostos frente a frente. De um lado estará o candidato da situação, o ministro da Economia Sergio Massa, que é apoiado pelo presidente Alberto Fernández; do outro, o economista Javier Milei, que promete destronar a moeda local, o peso, e institucionalizar o uso de dólares. O peronista do União pela Pátria venceu em 13 das 23 províncias no primeiro turno no país vizinho.

Como líder da pasta que comanda a economia, Massa viu a Argentina acumular uma inflação de 138% ao ano, mas tem a seu favor uma possível melhora da economia no país em 2024 que seria sustentada pelo aumento das exportações, sobretudo, do agronegócio. Com isso, acredita-se que a entrada de dólares possa ajudar a equilibrar as contas do país. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina na marca de 2,8% em 2024, mais que o Brasil, mas apenas um alívio diante da atual situação — neste ano, o PIB do país deve recuar 2,5%.

Massa também defende o fortalecimento das companhias estatais e uma simplificação da tributação do país por meio de uma reforma tributária, que teria o objetivo de facilitar a geração de emprego. Ele é visto como um perfil mais moderado e menos “perigoso” em relação às propostas de Milei. “O Massa é um político tradicional de Tigre, cidade importante de Buenos Aires. Ele está tentando mostrar que a continuidade é a melhor saída”, diz Roberto Luis Troster, sócio da Troster & Associados e ex-economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos, a Febraban.

Já Milei, o líder do Libertad Avanza, defende a retirada da Argentina do bloco do Mercosul, a adoção do dólar como moeda local e o corte das relações com o Brasil e a China, os dois principais mercados com quem o país negocia. Ao contrário de Massa, Milei também promete cortar programas sociais e ministérios, reduzindo assim as despesas públicas. O candidato também chegou a falar em “calote” da dívida externa, algo que prejudicaria a entrada de capital no país.

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“Embora o Milei seja o favorito, as urgências logo depois que ele assumisse, caso viesse a vencer, seriam tão grandes que dificilmente vão permitir que algo como a mudança de moeda entre em pauta imediatamente, até pela necessidade de conhecimento da máquina pública por parte de quem estiver entrando”, afirma Fabio Giambiagi, ex-economista-chefe do BNDES e pesquisador associado do Ibre-FGV. “Se ele vencer, quando esse grupo entrar no governo vai ser um verdadeiro choque cultural, porque ele vai levar acadêmicos e líderes do setor privado que na maioria dos casos não tiveram nenhuma experiência prévia no setor público. E isso envolve um custo de aprendizado, de formação de equipes, e todo um processo de entendimento.”

Na Argentina, há um entendimento de que o Congresso poderá barrar parte das propostas de Milei. “A cada vez que o próprio Javier [Milei] fala, sai uma coisa diferente. Um dia ele defende uma economia bimonetária, com a competição de moedas, no outro ele defende uma dolarização logo de cara. Os próprios assessores designados a comentar a economia por ele estão dizendo coisas distintas. Não há um roteiro definido”, diz o economista Martin Tetaz, membro da Câmara dos Deputados no país.

Os economistas também alegam que não há dólares suficientes para propor uma migração de moeda tão rapidamente. “Hoje, a maioria dos analistas, inclusive quem defende a dolarização, reconhece que no curtíssimo prazo é impossível fazer isso porque simplesmente não há dólares. O próprio candidato tem mencionado um discurso um pouco confuso de que poderia vender parte dos títulos em poder do Banco Central no mercado secundário, para fundos de mercados emergentes, mas os números que circulam são mirabolantes, de colocar até 60 bilhões de dólares. Isso não existe. Quem vai dar 60 bilhões de dólares para a Argentina? Ainda mais sabendo que esse dinheiro acabaria tendo que ser recuperado anos depois quando eventualmente o próprio peronismo já pode ter voltado ao poder se o Milei fracassar. Ou seja, é algo extremamente cru.”

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