Casa Branca diz que, sem aumento do teto da dívida, haverá moratória
Governo anuncia que não privilegiará pagamentos após o prazo final
Em mais um sinal de endurecimento, a Casa Branca afirmou nesta terça-feira que, se o impasse sobre o teto da dívida persistir, haverá moratória em 2 de agosto. De acordo com a presidência, os Estados Unidos não possuem “espaço de manobra” para evitar o default. A declaração é sintomática do crescente risco de um cataclismo financeiro não só no país, como em todo mundo, na esteira de um antes impensável calote americano. Já beira a irresponsabilidade a incapacidade do Poder Executivo, seus aliados democratas, e os parlamentares republicanos em fechar um acordo de longo prazo para colocar as finanças públicas do país em ordem e, assim, conseguir o limite de endividamento.
Nas últimas semanas, economistas e congressistas traçavam cenários sobre as opções do governo para realizar um contingenciamento, haja vista que haverá falta de recursos com o impedimento de emitir novas dívidas a partir do dia 2 (quando o Tesouro estima que ocorrerá o ‘estouro’ do teto da dívida de 14,29 trilhões de dólares). Especulava-se que a Casa Branca poderia realizar cortes severos em outras despesas, como, por exemplo, em infraestrutura, para evitar o não pagamento dos títulos que vencerem. Com o pronunciamento desta segunda-feira, está claro que a presidência não poupará sua própria dívida do corte. Estima-se que seja necessário, tão logo o país estoure o teto do endividamento, reduzir em cerca de 45% as despesas do Orçamento.
Jay Carney, secretário de imprensa da Casa Branca, afirmou que o Departamento do Tesouro norte-americano não poderá privilegiar um ou outro pagamento ou adotar outras medidas com o objetivo de evitar a moratória na próxima terça-feira.
Veto à proposta da Câmara – A presidência também advertiu nesta terça-feira que o presidente Barack Obama vetará o plano dos republicanos de resolver a crise da dívida em duas etapas, caso esta seja aprovada no Congresso. “A administração (do presidente Barack Obama) opõe-se firmemente à aprovação por parte da Câmara” do plano apresentado pelo presidente do grupo, o republicano John Boehner, e, caso este projeto chegue à Casa Branca para sua promulgação, “os conselheiros do presidente recomendarão que o mesmo seja vetado”, disse a presidência em comunicado.
Os anúncios ocorrem um dia após o pronunciamento do presidente americano, em rede nacional de televisão, quando criticou o Congresso por colocar questões políticas acima dos interesses da nação. A fala do presidente foi seguida de um pronunciamento do líder republicano John Bohener, que atacou Obama, afirmando que o presidente quer um “cheque em branco” para “gastar mais”.
Desgaste político – O embate entre democratas e republicanos tem ocasionado desgaste político para ambos. Pesquisas recentes divulgadas no país revelam que cerca de 50% da população culpa os republicanos pela crise da dívida, enquanto 30% atribui a Obama o impasse.
Planos independentes – Depois de diversas tentativas de acordo entre os dois partidos, na segunda-feira líderes de ambos os lados apresentaram planos independentes. Nesta terça-feira, a líder da minoria na Câmara, a democrata Nancy Pelosi, defendeu a proposta apresentada pelo líder da maioria no Senado, o também democrata Harry Reid, que prevê o aumento do teto da dívida em um único momento, em vez de forçar o Congresso a retomar o debate antes das eleições de 2012.
Pelosi classificou como um “bom plano” a proposta de Reid para cortar 2,7 trilhões de dólares do Orçamento na próxima década e elevar de uma vez o teto da dívida, enfatizando que isso não levaria a mais um tenso debate no próximo ano. “O que eu mais gosto (no plano) é que ele nos leva até 2013. Portanto, a confiança que estamos tentando restaurar será mantida por um período suficientemente longo, e nós não teremos de passar por isso novamente em poucos meses”, disse Pelosi.
Um plano concorrente foi apresentado por Boehner. O projeto prevê um corte de ao menos 3 trilhões de dólares durante dez anos e a elevação do teto da dívida em dois passos, com mais uma votação no Congresso antes do segundo aumento, no próximo ano.
(com Agência Estado e Agence France-Presse)