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Obama e oposição trocam acusações na TV

Presidente dos Estados Unidos responsabiliza principalmente os republicanos pelo impasse na negociação do teto da dívida; o presidente da Câmara, John Boehner, rebate e diz que a Casa Branca quer um "cheque em branco" para gastar mais

Por Benedito Sverberi e Carolina Guerra
25 jul 2011, 22h30
contagem regressiva para o estouro do teto da dívida americana
contagem regressiva para o estouro do teto da dívida americana (VEJA)

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mandou um duro recado aos milhões de cidadãos americanos em pronunciamento ao vivo na tevê nesta sexta-feira: a dificuldade de obter um acordo para a elevação do teto da dívida do país trará graves riscos à economia americana. “Pela primeira vez na nossa história, nossa classificação de risco AAA pode ser rebaixada”, alertou. “Estamos nos arriscando a entrar numa profunda crise (…). Um calote de nossas obrigações é uma irresponsabilidade”, acrescentou. A fala do presidente foi recheada de declarações explícitas ao comportamento dos republicanos, a quem Obama atribui boa parte da culpa pelo impasse que tem impedido o encontro de soluções para os problemas fiscais do país. Já o presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, rebateu o discurso presidencial, afirmando que Obama cria, com essa postura, uma “ambiente de crise” e que a Casa Branca quer apenas um “cheque em branco” para gastar mais.

Em rede nacional, Obama reconheceu que o termo “teto da dívida” pode ser desconhecido à grande maioria da população. Explicou, contudo, que sua elevação – que, fez questão de frisar, foi dezenas de vezes autorizada no passado – seria uma medida que permitiria ao governo continuar a pagar suas contas. Caso contrário, o estado poderia se ver diante da iminência de decretar a moratória de parte de sua dívida. O democrata acrescentou que tal acontecimento teria efeito imediato nos mercados e que os juros dos títulos americanos subiriam. A população, destacou, não ficaria imune a isso. Todos os juros da economia sofreriam elevação, tornando mais caros o crédito para educação e as hipotecas, por exemplo. Adicionalmente, afirmou que o governo ficaria sem dinheiro para realizar diversas obras de infraestrutura necessárias ao desenvolvimento do país, investir em pesquisas, etc.

Críticas ao Congresso – O pronunciamento de Obama coloca tensão adicional às já dificílimas negociações entre a Casa Branca e o Congresso. A razão disso é que o presidente culpou os congressistas por pensarem unicamente em seus interesses políticos, e não no que interessa à nação.

As críticas do democrata direcionaram-se especialmente aos líderes republicanos, que têm colocado, na avaliação dele, seguidos impedimentos às negociações. Ele afirmou que um dos maiores impasses é a intransigência republicana em não aceitar que milionários e bilionários “contribuam” com o esforço necessário para colocar a economia do país de volta ao eixo, por meio do aumento de impostos e via eliminação de isenções fiscais das grandes corporações.

Também culpou a insistência republicana em exigir cortes dos programas sociais, como o Medicare. Segundo ele, é inconcebível para a Casa Branca ser instigada a aceitar a imposição de sacrifícios aos mais pobres, enquanto os muito ricos passariam incólumes. “O Senado teve um alinhamento muito melhor”, destacou, provavelmente em referência ao novo projeto do senador Harry Reid discutido nesta segunda-feira.

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Compromisso com o país – O presidente dos Estados Unidos exigiu que o Congresso prove que tem compromisso com o país. “Compromisso virou palavrão”, disparou. Segundo ele, ao pensar sobretudo em seus interesses eleitorais, muitos líderes políticos não estariam fazendo o melhor para os americanos. “E eles estão ofendidos com isso”, insinuou. Pesquisas recentes divulgadas no país revelam que cerca de 50% da população culpa os republicanos pela crise da dívida americana, enquanto 30% atribui a Obama o impasse. O presidente buscou apaziguar os ânimos, no entanto, ao deixar claro que ambos os lados (republicanos e democratas) têm de comprovar esse compromisso.

Chamado à população – Barack Obama conclamou a população a participar do debate sobre as finanças americanas, tal como ocorreu em diversas ocasiões na história, nas discussões sobre direitos humanos, igualdade, etc. Na avaliação deles, as pessoas têm de pensar mais, como no passado, no interesse coletivo. “Se agirmos apenas como indivíduos não formamos uma sociedade”, declarou. Em referência aos políticos, disse que apenas aqueles americanos que pensaram mais no país do que no interesse próprio entraram para a história. Finalizou dizendo que o mundo está acompanhando a crise americana e que esta é uma oportunidade de os Estados Unidos demonstrarem que ainda são “a maior nação da terra”.

Resposta da oposição – Logo após o pronunciamento de Obama, o republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes, também foi à público rebater a fala do presidente. Em um pronunciamento curto, mas duro, Boehner afirmou que a Casa Branca quer um “cheque em branco” da nação para que o governo “continue gastando o que não tem”. De acordo com o líder republicano, Obama fala em um debate balanceado do problema da dívida, mas que isso, para a presidência, significaria “eu gasto mais, vocês pagam mais”.

Para Boehner, o presidente cria um “ambiente de crise”. Referindo-se ao momento em que o presidente americano falou da importância dos EUA, o republicano afirmou que “quanto maior o governo, menor o povo” de um país.

Dois novos planos – Nesta segunda-feira, o Senado e a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos mostraram que, uma vez mais, caminham em direções opostas. O presidente da Câmara, o deputado republicano John Boehner, apresentou um plano de duas fases para solucionar os problemas fiscais do país e permitir uma elevação do teto da dívida. Já o líder da maioria no Senado, Harry Reid, discutia um projeto que aumenta o limite de endividamento até 2012 e, pela primeira vez para uma proposta democrata, não contempla alta dos impostos.

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O presidente estaria inclinado a endossar, segundo a imprensa americana, o plano do Senado, apesar de ter afirmado nesta segunda-feira que se opõe a qualquer tipo de acordo que não inclua uma ampliação da arrecadação via impostos e eliminação de isenções fiscais. A proposta de Reid prevê elevar o teto da dívida num prazo que se estenderia até 2013, além de fixar cortes nos gastos públicos da ordem de 2,7 trilhões de dólares nos próximos dez anos. A vantagem do plano de Reid para Obama é que este deve incluir cortes em programas de defesa, com foco especial nas operações no Iraque e no Afeganistão, e não deve tocar em redução de benefícios sociais – como o programa Medicare, uma das principais plataformas eleitorais do presidente.

O plano de Boehner – que, semana passada, tentou uma negociação própria com Obama, mas fracassou – deve ser mais rígido. Sua proposta é dividida em duas etapas: um aumento imediato de ‘apenas’ 1 trilhão de dólares no teto da dívida e outro, de 1,6 trilhão de dólares, somente em 2012. O projeto também inclui a formação de uma comissão de republicanos e democratas que se dedicaria a encontrar espaço para cortes da ordem de 1,8 trilhão de dólares. A proposta deve ser colocada em votação nesta quarta-feira.

Troca de acusações – Ainda nesta segunda-feira, Casa Branca e republicanos trocaram acusações públicas. Dan Pfeiffer, diretor de comunicações do governo Obama, apontou contradições no discurso da oposição. Em comunicado, apontou momentos em que os republicanos – como o deputado Eric Cantor, um ferrenho opositor de Obama – foram contra o aumento do teto da dívida no curto prazo. Cantor defendeu-se afirmando que “têm dito repetidamente que o melhor caminho é uma solução de longo prazo com cortes de gastos iguais (ou superiores) a uma elevação no limite da dívida, sem aumento de impostos”.

Alerta – O Fundo Monetário Internacional (FMI) soltou um comunicado alertando para a gravidade da situação. Para os economistas da entidade, até agora, nenhum dos planos apresentados é totalmente satisfatório, já que tendem a considerar o curto e o médio prazo, em detrimento dos ajustes necessários para os próximos anos. O embate na economia americana ocasionou queda nas bolsas. O dólar chegou a 1,54 real – o patamar mais baixo desde 1999. O Brasil foi o país a registrar a maior queda em todo o mundo.

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