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Carlos Kawall: PIB volta ao nível de 2009

O ritmo de atividade do fim do ano passado só retornará em 2023; no caso do desemprego, ficará para meados de 2024

Por Carlos Kawall*
Atualizado em 3 mar 2021, 15h25 - Publicado em 1 set 2020, 13h26

A divulgação do PIB  do Brasil do segundo trimestre mostrou, como esperado, uma contração sem precedentes de 9,7% frente ao trimestre inicial do ano. Se o número choca, ao menos se mostrou menos intenso do que em muitos países latino americanos (-14,1% para o Chile, -17,2% para México, -27,2% para o Peru) e mesmo se comparando aos desenvolvidos (-12,1% para a Zona do Euro). A queda ficou próxima dos EUA, que recuou 9,5% no período. Sem dúvida, contaram para esse desempenho vultosos estímulos monetários, creditícios e fiscais introduzidos pelo Banco Central e governo.

A retração do investimento foi menor do que a imaginada, refletindo um desempenho relativo melhor do setor de construção civil, menos afetado pelo distanciamento e beneficiado pelo ambiente de taxas de juros extraordinariamente baixas e aumento do crédito habitacional. Também continuaram ajudando o agronegócio e a indústria extrativa (minério e petróleo), impulsionando as exportações. Contudo, o consumo das famílias mostrou queda mais intensa do que o esperado, refletindo tanto as limitações de mobilidade como a forte alta do desemprego, elevando a poupança precaucional. Com isso, encerramos o primeiro semestre do ano com um nível de PIB que recuou para o mesmo patamar de 2009.

A recuperação da economia já começou, com melhora da produção industrial e do comércio de bens, notadamente nos segmentos de supermercados, móveis e eletrodomésticos e material de construção. Mas há um descompasso preocupante, o nível ainda muito deprimido do consumo de serviços, que tem por natureza característica presencial. Isso envolve desde o empregado doméstico aos funcionários de shopping centers, empregados dos setores de bares e restaurantes, turismo, educação e até mesmo saúde. Principal setor da economia brasileira, as atividades de serviços têm liderado as tristes estatísticas de elevação do desemprego, tanto de vagas formais como, sobretudo, informais.

Carlos Kawall, diretor da Oriz Partners
Carlos Kawall, diretor da Asa Investments (divulgação/Divulgação)

Não teremos condição de manter os estímulos fiscais – notadamente o auxílio emergencial para a baixa renda – a partir de 2021, frente à forte elevação da dívida bruta e à necessidade de retomarmos a responsabilidade fiscal e uma trajetória de endividamento público sustentável, garantindo um horizonte de juros baixos e taxa de câmbio competitiva.

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Para tanto, teremos de retomar a agenda legislativa que garanta a solvência fiscal e que aumente a competitividade da economia, notadamente as reformas tributária e administrativa, modernização de marcos regulatórios e privatizações e concessões em infraestrutura. Com isso, após a queda do PIB de 5,3% em 2020, poderemos crescer no próximo ano (+2,1%). Mas o caminho será longo: só recuperaremos os níveis de PIB experimentados ao final de 2019 em 2023; no caso do desemprego, estimamos que só voltaremos ao nível pré Covid-19 em meados de 2024. E, para tanto, não há atalhos: não podemos nos desviar do rumo das reformas estruturais e do compromisso com o teto de gastos para o setor público, sem os quais não manteremos taxas de juros baixas e a confiança para elevarmos investimentos, emprego e consumo.

*Carlos Kawall é diretor do Asa Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional

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