Arcabouço fiscal pode fazer BC superar seu conservadorismo, diz Salto
Em entrevista à coluna, ex-secretário avalia que harmonia entre Fazenda e BC pode trazer cenário favorável para reduzir juros aos olhos de Campos Neto
Além de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central demonstrou extrema atenção à trajetória da inflação e sua distância da meta perseguida pelo banco, como observado em comunicado emitido na última quarta-feira, 22. “O Comitê enfatiza que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, diz o texto assinado por Roberto Campos Neto, presidente do BC. Nesse contexto, o ex-secretário da Fazenda do estado de São Paulo e economista-chefe e sócio da Warren Rena, Felipe Salto, ressalta a relevância do novo arcabouço fiscal para a melhoria do cenário inflacionário, com o potencial de inclusive condicionar uma redução nos juros. “Sem desatar o nó fiscal, é difícil ter a segurança necessária para uma redução de juros que, aliás, já poderia ter começado”, diz.
Com a deterioração da atividade econômica, a baixa expectativa para o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e a piora do cenário internacional, Salto avalia que já há condições para que o Banco Central reduza os juros. Assim, considera que o BC teria sido conservador em sua decisão. O economista reconhece, contudo, que um maior alinhamento entre as políticas fiscal e monetária é primordial para que o BC se sinta confortável em baixar a Selic. Daí a importância da regra que está para ser apresentada, que visa controlar o gasto público. “Tem que tirar esse bode (novo arcabouço fiscal) do meio da sala, resolver logo isso. Uma trajetória de redução da inflação e, mais do que isso, a ancoragem das expectativas, ou seja, o mercado entender que a inflação vai diminuir mesmo com um juros mais baixo, só será possível se o fiscal estiver equilibrado”, diz.
Salto explica que, se bem recebida, a nova regra fiscal pode influir positivamente no câmbio, o que ajudaria no combate à inflação e daria maior segurança, inclusive, para que as metas de inflação vigentes sejam revistas se necessário. “Não há nenhum pecado mortal em discutir a meta de inflação, que hoje é bem rigorosa. Acontece que mudar a meta de inflação quando as expectativas não estão ancoradas pode ser um grande tiro no pé. Se muda a meta para 4%, por exemplo, o mercado vai precificar uma inflação maior do que 4%. Então primeiro é importante que a lição de casa do lado fiscal seja feita e entregue, como deve ocorrer em breve”, diz.
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