Cientistas questionam eficácia dos remédios Tamiflu e Relenza
Segundo estudo, não há provas de que os medicamentos reduzem a disseminação da gripe A
Cientistas britânicos concluíram que não há evidência suficiente para provar que os medicamentos antivirais Tamiflu (oseltamivir) e Relenza (zanamivir) reduzem a disseminação da gripe A, causada pelo vírus H1N1 e também conhecida como gripe suína. As conclusões, publicadas nesta quinta-feira no prestigioso periódico BMJ, questionam se os bilhões gastos por governos de todo o mundo, inclusive o brasileiro, com a droga se justificavam.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Oseltamivir for influenza in adults and children: systematic review of clinical study reports and summary of regulatory comments e Zanamivir for influenza in adults and children: systematic review of clinical study reports and summary of regulatory comments
Onde foi divulgada: periódico BMJ
Quem fez: Tom Jefferson, Mark Jones, Peter Doshi, Elizabeth A Spencer, Igho Onakpoya, Carl J Heneghan, Matthew Thompson e Helen D Cohen
Instituição: Cochrane Collaboration, entre outras
Resultado: Segundo os pesquisadores, o Tamiflu e o Relenza têm pouco ou nenhuma eficácia no combate à gripe A.
Pesquisadores do grupo de cientistas Cochrane Collaboration e do BMJ já argumentavam que não havia experimentos suficientes para atestar que o Tamiflu funciona. Depois de obter acesso a testes internos conduzidos pelo fabricante, a Roche, descobriram que o remédio tem pouca ou nenhuma eficácia no combate à doença – reduz os sintomas da gripe pela metade em um dia em adultos e tem pouco efeito em crianças. O resultado foi igual com o Relenza, fabricado pela GlaxoSmithKline.
Ao comparar pessoas que tomaram pílula placebo, não se constatou que as que ingeriam Tamiflu ou Relenza tinham menos probabilidade de ser hospitalizadas ou sofrer complicações graves da influenza. Além disso, o estudo relacionou o consumo de Tamiflu a efeitos colaterais como náusea, vômito, dor de cabeça e síndromes renais e psiquiátricas.
Leia também:
Pesquisadores descobrem primeiros casos de resistência da gripe H7N9 ao Tamiflu
Governo gastou 400 milhões com Tamiflu, mas só distribuiu um terço das doses
Especialistas não envolvidos na pesquisa assinalaram que o Tamiflu funciona melhor quando administrado aos pacientes rapidamente e que é difícil as pessoas chegarem ao médico em estágio inicial. “Não é que os medicamentos não funcionem, é apenas difícil usá-los de maneira a obter o seu melhor efeito”, disse em comunicado Wendy Barclay, especialista em influenza da Imperial College London.
Ela citou alguns problemas com a forma como cientistas do Cochrane e o BMJ interpretaram os dados e disse que é prudente os governos estocarem Tamiflu, porque há poucas drogas disponíveis para tratar a gripe. “Se outra pandemia ocorresse amanhã e o governo (do Reino Unido) não tivesse medicamento para tratar milhares de pacientes com gripe, eu imagino que haveria um clamor público.”
A farmacêutica suíça Roche disse que “discorda fundamentalmente” das conclusões gerais do estudo e que mais de 100 países aprovaram o medicamento. Os Estados Unidos gastaram mais de US$ 1,3 bilhão no estoque do antiviral, enquanto o Reino Unido desembolsou quase US$ 711 milhões com o Tamiflu nas preparações para a pandemia, de acordo com documentos governamentais citados pelo Cochrane e pelo BMJ.
Agências de saúde pública como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro para Prevenção e Controle de Doenças dos EUA continuam recomendando o uso do Tamiflu e disseram que o remédio foi útil no tratamento de pacientes com novas cepas do vírus, como as da gripe aviária.
(Com Estadão Conteúdo)