Universal processa bispo que produziu vídeos contra Crivella
Ex-Integrante da igreja é alvo de ações por todo o Brasil após acusar esposa do candidato a prefeito do Rio de ter recebido 50 000 dólares irregularmente
A Igreja Universal do Reino de Deus conseguiu na Justiça retirar da internet vídeos produzidos por um bispo da própria congregação que trazem acusações contra a família de Marcelo Crivella, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. A ação movida pela Universal, em tramitação na vara fluminense, tem como réus o Google (dono do YouTube, onde os vídeos eram exibidos) e Alfredo Paulo Filho, que já foi um dos principais auxiliares do bispo Edir Macedo na base da igreja em Portugal, entre 2002 e 2009.
Em um dos conteúdos publicados na internet, removido no mês passado, o bispo Alfredo entrevista o ex-pastor da igreja, Alexandre Lisboa. Lisboa narra com detalhes o dia em que entregou 50 000 dólares não-declarados nas mãos de Sylvia Jane Crivella, esposa do senador. Ele afirma ter trazido o dinheiro em 1999 direto da África do Sul, onde trabalhou para a Universal. Segundo o relato do pastor, as notas de dólares foram levadas para o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, embrulhados em papel carbono para não serem detectados no raio X.
https://www.youtube.com/watch?v=Tt3ck2a1WJM
“Carreguei os dólares para a Fazenda Nova Canaã e entreguei o pacote para a esposa do Crivella”, afirma Lisboa aos três minutos e 45 segundos do vídeo. A Fazenda Nova Canaã foi um projeto social desenvolvido por Crivella no município de Irecê, na Bahia. O dinheiro, de acordo com o relato, teria sido usado na construção da fazenda.
Procurado por VEJA, Crivella negou todo o episódio. Afirmou ainda que a Fazenda Nova Canaã foi constituída apenas com o dinheiro da venda dos seus CDs. Crivella foi cantor gospel e é um dos maiores arrecadadores de direito autoral do Brasil nos anos 2000, segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD).
Além do processo movido pela Universal, Alfredo está sendo acionado judicialmente por fiéis da igreja. O bispo já foi notificado por pessoas físicas em pelo menos treze causas abertas em Santa Catarina, Pernambuco, São Paulo, Maranhão e Rio de Janeiro. “São fiéis orientados por advogados da igreja que pedem dano moral entre 15 000 e 20 000 reais”, afirma Ricardo Marins, advogado do bispo Alfredo. “A estratégia é constranger e acuar”, diz. Em 2008, método semelhante foi adotado contra a Folha de S. Paulo. Após uma série de reportagens negativas sobre a igreja Universal, mais de 50 processos foram movidos contra o jornal em diversas cidades pelo Brasil.
Não é a primeira vez que o bispo Alfredo Paulo vem a público atacar a Universal. Em agosto, ele deu uma entrevista para o jornal Folha de S. Paulo acusando a igreja de operar um esquema ilegal para operar milhões de dólares no exterior. O dinheiro seria enviado da África para a Europa, chegando à Rede Record europeia.
VEJA localizou o bispo Alfredo Paulo e o pastor Alexandre Lisboa. Os dois reafirmaram as acusações e ainda foram mais longe. Disseram que, quando Crivella trabalhava na África do Sul, nos anos 90, ele usava dinheiro da oferta de fiéis para abastecer a aeronave da qual era proprietário junto com o tio, o Bispo Edir Macedo. A VEJA, Crivella também negou a informação.
Desde o início da campanha, Crivella tem buscado mostrar-se distante da igreja para diminuir a sua rejeição junto ao eleitorado. O senador é bispo licenciado da Universal e sobrinho de Macedo. Ontem, Crivella teve que se desculpar por um livro de sua autoria, publicado em 2002, com pesadas críticas a religiões e a homossexuais. O título, “Evangelizando a África” apresenta quase todas as religiões como “diabólicas” e afirma que a homossexualidade é uma “conduta maligna” e “de terrível mal”.