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“Sou um Bolsonaro mais light”, diz o filho de Jair

O deputado estadual testa a força do sobrenome do pai na eleição para prefeito do Rio de Janeiro

Por Cecília Ritto, Maria Clara Vieira e Thiago Prado
Atualizado em 23 set 2016, 20h44 - Publicado em 23 set 2016, 20h22

O sobrenome Bolsonaro desperta as mais variadas reações. A marca da família que se vangloria por quase sempre ir na direção contrária do “politicamente correto” foi inaugurada por Jair Bolsonaro, deputado federal mais votado do Rio de Janeiro. Agora seu filho mais velho, Flávio, 35 anos, deputado estadual, também está na vitrine. Candidato pelo PSC à prefeitura carioca, o “zero dois”, como seu pai o apelidou, aparece embolado em segundo lugar com outros quatro candidatos. Ainda que lhe agrade ser chamado de “Bolsonaro mais light”, em entrevista a VEJA ele não renega as origens:

O nome Bolsonaro virou sinônimo das posições radicais defendidas por seu pai. Vocês concordam em tudo? Não. Ele gostaria que eu fosse menos às ruas e me concentrasse no preparo para entrevistas e debates. Também temos uma diferença de postura, que vai além de eu torcer para o Vasco e ele para o Botafogo. O Jair é mais incisivo do que eu.

Incisivo é ruim? Nem sempre concordo com a forma como ele coloca certos assuntos. Por isso me consideram um Bolsonaro “mais light”.

A sua participação nessa campanha tem por objetivo chegar, realmente, ao cargo de prefeito ou apenas testar o sobrenome da família para a candidatura de Jair Bolsonaro a presidente em 2018? Essa eleição é uma boa oportunidade para testarmos nosso nome e entender como o eleitor reage a uma campanha mais conservadora. Mas fui lançado candidato com a expectativa de ter grande retorno. Está acontecendo.

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O Lula venceu a eleição de 2002 com um discurso mais moderado, revestido pela figura do “Lulinha paz e amor”. É possível que o seu pai amacie o tom e siga essa trilha? Impossível. O Jair é uma pessoa muito transparente, que não consegue vestir a armadura de quem não é. O próprio eleitor não o reconheceria. Provavelmente ele será o marqueteiro da própria campanha.

No primeiro debate entre os candidatos à prefeitura carioca, o senhor passou mal e teve de deixar a transmissão. Atrapalhou a sua campanha? Não. Ficou claro para todo mundo que eu senti um mal-estar. Estava num ritmo acelerado, me alimentando mal. Saí dali e fui para o hospital.

Nesse mesmo episódio, o seu pai impediu que a candidata do PC do B Jandira Feghali, que é médica, o ajudasse. Foi uma reação exagerada? Não. Já estava sendo atendido quando a Jandira chegou. O Jair, que já a conhece de outros carnavais, percebeu que ela queria apenas se aproveitar do momento para se passar por salvadora da pátria. Fui grato por ela ter me amparado na hora, mas logo ficou claro que estava se aproveitando da situação.

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Como isso ficou claro? Ela chegou a postar no Facebook que salvou minha vida.

O senhor é considerado o candidato da extrema direita nesta eleição. Gosta do rótulo? O problema é que a gente não pode ser de direita sem ser taxado de “ultra-radical-conservadora-xiita”. Me considero um candidato conservador nos valores, sim, e liberal nas questões econômicas. A esquerda faliu o país.

A pulverização de candidaturas o atrapalha na eleição? Sim. Cada um tem suas propostas, mas acaba esbarrando no mesmo eleitorado. Nas ruas, há pessoas que me confundem e perguntam: “Você não é aquele que bate em mulher não, é?”.

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Por que daria certo a sua proposta de militarizar as escolas públicas? A medida traria mais disciplina e segurança aos alunos e professores, além de impedir a doutrinação ideológica em sala de aula. É preciso acabar com esse preconceito de relacionar a palavra militar a autoritarismo. Queremos uma educação com neutralidade.

O que exatamente o incomoda? Um exemplo: no Colégio Cruzeiro, tradicional no Rio, pediram aos alunos que fizessem uma redação sobre redução da maioridade penal. Todos se posicionaram contra com medo de tirar zero.

Como o senhor acha que o governo militar deve ser retratado nos livros didáticos? Foi um momento histórico pelo qual o Brasil passou. O país foi salvo de uma ditadura do proletariado.

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E as torturas? A lei da Anistia perdoou os dois lados e, por isso, entendo que não devemos ficar cutucando essa cicatriz.

Seu pai exaltou a atuação do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Doi-Codi, uma das estruturas repressoras do regime militar, quando votava a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Isso não prejudica a sua imagem? Não. Quando ele ensaiou o voto, já tinha imaginado fazer um paralelo com o ano de 1964 para dizer que, da mesma maneira que aquele momento do passado não configurou um golpe, o impeachment de Dilma também não era. Ao perceber deputados enaltecendo pessoas sanguinárias, como o Carlos Marighela (guerrilheiro considerado um dos principais inimigos da ditadura), se sentiu na obrigação de mostrar o outro lado. Ele falou do Ustra para chocar mesmo.

O senhor teria feito o mesmo paralelo? Não.

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O seu pai também disse em plenário que a deputada Maria do Rosário não merecia ser estuprada porque era “muito feia”. Hoje é réu no Supremo Tribunal Federal por apologia ao crime. O que pensa do episódio? É a maneira dele de reagir. Enquanto defendia a redução da maioridade penal para estupradores, ela o insultou. O Jair, então, rebateu de forma jocosa, dizendo que ela não é uma mulher bonita. É o cúmulo do absurdo dizer que estava incentivando o estupro.

Ele já afirmou que preferiria ter um filho morto a um filho gay. Como o seu governo trataria a população LGBT? Ele disse isso porque foi provocado e, depois, se arrependeu. Se eleito, a Parada Gay terá o aparato de qualquer evento, assim como a Marcha para Jesus. A passeata movimenta o turismo, e a prefeitura deve sempre ser parceira, mas sem aportar dinheiro público.

O senhor é preconceituoso? Quero que o gay olhe no meu olho e veja que não tenho preconceito. Não tenho nada contra gay, aliás, vários deles entram no meu Facebook para deixar mensagens de apoio. Só discordo que crianças de 6 anos aprendam sobre sexo na escola. Isso não é homofobia.

Em um debate durante estas eleições, o senhor afirmou ter recebido uma vez oferta de propina. Como foi isso? Foi durante a votação de um projeto, em 2003, dentro do banheiro da Assembleia de Deputados do Rio. Como não aceitei, nunca mais tentaram. Mas nem todo mundo age assim.

É uma insinuação a algum adversário de campanha? Sim. O deputado Marcelo Freixo ganha o mesmo salário que eu. Como ele tem 5 000 reais declarados de patrimônio? Deve gerenciar muito mal o dinheiro. Se alguém cuida do próprio patrimônio dessa forma, como vai administrar uma cidade?

Caso vença, o senhor já tem um time escalado para compor a prefeitura? Por enquanto, a certeza é que chamarei Jair Bolsonaro para tomar conta da área de licitações.

*Participaram da entrevista Leslie Leitão e Luisa Bustamante

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