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Serraglio: ‘Não admito ouvir que o mensalão não existiu’

Relator da CPI dos Correios fala das dificuldades que enfrentou à época das investigações - e da pressão para que a comissão terminasse em pizza

Por Da Redação 14 Maio 2012, 07h21

A condenação dos mensaleiros seria o coroamento da ideia de que, no Brasil, não é tão simples sair com sacolas de dinheiro para cima e para baixo

Quando foi escolhido para a relatoria da CPI dos Correios, em 2005, o deputado Osmar Serraglio (PMDB) estava em seu segundo mandato – e jamais havia participado de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso. Inexperiente e integrante da base, o parlamentar parecia ter o perfil ideal para conduzir as investigações a lugar nenhum: justamente onde o governo queria que terminassem. Mas não foi o que se viu. Os trabalhos da CPI resultaram não apenas na cassação de figuras de proa do PT envolvidas no mensalão, como José Dirceu, como também serviram de base para a denúncia entregue pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, em 2006. Seis anos após o término dos trabalhos, o deputado guarda vivas na memória as artimanhas que precisou driblar para que a investigação não terminasse em pizza. E seu calmo semblante endurece à simples menção sobre as negativas da existência do mensalão: “As provas estão todas lá. Não inventamos nada”, afirma. Confira a seguir a entrevista concedida pelo parlamentar ao site de VEJA, em seu gabinete em Brasília.

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Quais foram as principais dificuldades? Um dos maiores entraves à investigação era a dificuldade que tínhamos quando solicitávamos material a setores alvo da investigação, como o Banco do Brasil. Muitas vezes as informações solicitadas não chegavam a nós, ou vinham truncadas. Certa feita entramos em conflito com o BB, durante a apuração do esquema da Visanet, e ameaçamos ir a público informar que nosso trabalho estava sendo dificultado pela instituição. Mais tarde, o próprio banco acabou abrindo uma auditoria e comprovou as fraudes que já havíamos apurado. Outros problemas eram os depoimentos de acusados de envolvimento no esquema, que só respondiam àquilo que queriam.

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Havia também entraves políticos ao trabalho? Sim. Um dos principais era a aprovação dos requerimentos necessários para as investigações. Muitas vezes, quebras de sigilo e depoimentos a de certas pessoas eram simplesmente negados. Precisávamos negociar cada requerimento com base e oposição. Portanto, os trabalhos não eram abertos e independentes como prevê a força de uma CPI. Mas os problemas começaram, de fato, quando perceberam que a comissão não seria chapa-branca. A partir daí foi criada a CPI do Mensalão, que nos deixou sem competência legal para investigar o esquema. Passamos a apurar somente a origem do dinheiro – e não mais sua destinação. Percebemos que a intenção era fazer com que nossa investigação não chegasse a lugar algum.

O senhor era, até então, um parlamentar sem experiência em CPI. Sentiu-se pressionado durante os trabalhos? Eu nunca havia participado de uma CPI, mas tinha conhecimento do procedimento e da parte jurídica de uma investigação do tipo. Levei mais de 24 horas para aceitar o convite para a relatoria da comissão. Fui pessoalmente pressionado por alguns dos investigados, mas prefiro não dizer por quais. As evidências de avolumaram de tal modo, porém, que não era possível aliviarmos para ninguém. As provas já estavam constituídas.

Quando aceitou o cargo, fazia ideia da proporção que o caso tomaria? Não, até porque tudo isso começou para investigar a corrupção nos Correios e só a partir da entrevista de Roberto Jefferson para a Folha de S. Paulo é que passamos a apurar o mensalão. Então as coisas ficaram difíceis. Exigiram até mesmo um relatório parcial das investigações – algo inédito na história Congresso. Pois mesmo parcial esse relatório resultou em diversas cassações e contribuiu para embasar a denúncia da Procuradoria-Geral da República ao STF.

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O que pensa quando ouve que o mensalão não existiu? Não admito que se diga isso. Em matéria de provas, nossa CPI foi muito consistente. Relatamos as evidências que colhemos – não inventamos nada.

Acredita que o trabalho da CPI vai contribuir para uma eventual condenação dos mensaleiros no STF? Claro que sim. Tanto é que a Procuradoria-Geral da República baseou-se em muitos dados que colhemos para apresentar sua denúncia ao Supremo. Falar a uma CPI tem o mesmo efeito que falar em juízo. Além disso, há muitas apurações que foram feitas pela Polícia Federal a nosso pedido. Todas as provas estão com os ministros do STF.

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E o que o senhor espera desse julgamento? Espero Justiça e o reconhecimento de que nosso trabalho não foi uma banalidade. A comissão não feitapara o deleite dos parlamentares, assim como o relatório não foi uma produção apenas minha, mas de todos os colegas que participaram da investigação. O relatório de uma CPI é, em matéria de prova, algo muito consistente. Por isso, se nada for feito, estaríamos diante de um incentivo à impunidade, do reconhecimento de que vale a pena ser malandro. A condenação dos mensaleiros seria o coroamento da ideia de que, no Brasil, não é tão simples sair com sacolas de dinheiro para cima e para baixo.

Como um parlamentar da base que investigava nomes fortes do PT, o senhor enfrentou problemas com seus colegas? Hoje só tenho problemas quando meus colegas reavivam essa chaga, mas são como as rusgas com adversários políticos: fazem parte do jogo.

Tais rusgas chegaram a atrapalhá-lo? Não, hoje sou vice-líder o governo na Câmara, o que prova que ninguém me discriminou. Pelo contrário, valorizaram meu trabalho.

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E como avalia esse movimento coordenado de negação do mensalão? Tenho apenas uma convicção: a de que o mensalão marcou, sim, a história do país. Não fosse esse escândalo e o Brasil não teria Dilma Rousseff como presidente da República. Afinal, foi com a queda de Dirceu – o então super-ministro de Lula – que ela passou das Minas e Energia para a Casa Civil. Tampouco Lula teria sido o presidente que foi. O ex-presidente só conseguiu se livrar da sombra de Dirceu com a eclosão do escândalo – e com o surgimento das evidências de que seu “primeiro-ministro” estava ligado ao esquema. Talvez por isso muitos tenham raiva de mim, mas minha CPI fez um bom trabalho…

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Essa mentira organizada, deliberada, financiada, é, sim, característica típica desses nove anos de poder petista, especialmente depois que estourou o caso do mensalão, e Franklin Martins, que VEJA classificou certa feita de “ministro da Supressão da Verdade”, foi o seu artífice. Decidiram armar uma “guerra contra a mídia” porque esta, supostamente, era negligente ao noticiar as conquistas do governo, o que é uma deslavada mentira. Ao contrário: o noticiário colaborou, e muito – nem sempre com muita atenção aos fatos, a meu ver – para construir a reputação positiva das gestões petistas. E isso continua verdade com Dilma Rousseff. Nota à margem: há setores do petismo que até acham que a imprensa elogia a presidente em excesso. Lula já sugeriu que os veículos de comunicação agem assim só para tentar indispô-la com ele… Sabem como é este senhor, com o seu umbigo sempre maior do que o cérebro

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