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Lava Jato: delator confirma pagamento a Gim Argello em troca de proteção em CPI

Em depoimento ao juiz Sergio Moro, lobista Júlio Camargo diz que empreiteiros compartilhavam a avaliação de que comissão parlamentar traria "desconforto"

Por Laryssa Borges, de Brasília, e João Pedroso de Campos
23 jun 2016, 21h50

Três delatores da Operação Lava Jato voltaram a depor ao juiz federal Sergio Moro nesta quinta-feira. Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, o empresário Augusto Mendonça e o lobista Júlio Camargo, ambos da Toyo Setal, falaram na condição de testemunhas na ação penal da Lava Jato que tem como réu, entre outros, o ex-senador Gim Argello (PTB-DF), acusado de receber propina em troca de blindagem a empreiteiros na CPMI da Petrobras, em 2014, da qual foi vice-presidente.

Um dos primeiros delatores a firmar acordo de colaboração com a força-tarefa que conduz as investigações da Lava Jato, Júlio Camargo relatou a Moro que os empreiteiros do clube do bilhão do petrolão, figuras como Ricardo Pessoa, da UTC, José Antunes Sobrinho, da Engevix, Léo Pinheiro, da OAS, e Eduardo Leite e Marcelo Bisordi, da Camargo Correa, compartilhavam a avaliação de que “essa CPI seria desconfortável para o grupo, para o mercado”.

“O avançar da investigação era preocupante”, narrou Camargo, porque poderia colocar em um “nível de exposição desconfortável e perigoso” o grupo de empresas que dividiam fraternamente concorrências por contratos da Petrobras. O lobista foi o responsável pelas primeiras revelações de que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu propinas milionárias de contratos de navios-sonda da Petrobras e achacava empresários por meio de requerimentos de convocação a comissões da Câmara.

Júlio Camargo afirmou a Moro que Gim Argello deu um telefonema a Léo Pinheiro para garantir que “o objetivo não era penalizar nenhum empresário. O que a CPI pretendia era convocação de diretores e dirigentes da Petrobras”.

Argello argumentava que seria candidato a vice-governador do Distrito Federal – o que acabou não acontecendo – e queria colaborações de “cinco empresas grandes”. Cada uma contribuiria com 5 milhões de reais à campanha. Segundo Camargo, o ex-assessor de Argello Paulo Roxo foi duas vezes ao Rio de Janeiro para receber a parte que cabia ao ex-senador no acordo de conveniências da CPMI.

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Ex-dirigente da Setal, Augusto Mendonça afirmou que a empresa havia separado uma quantia em dinheiro a doações eleitorais, investida estrategicamente em parlamentares da CPMI. “Nós tínhamos aprovado um determinado valor e o Júlio propôs utilizar esse valor para contribuir através do pessoal da CPI da Petrobras. Eu disse a ele que era importante que pegássemos o compromisso do pessoal em relação ao apoio dessa causa”, contou.

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Também delator da Lava Jato, Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, disse ao magistrado nunca ter tido conhecimento da cobrança de propina em troca de proteção na comissão parlamentar.

Azevedo confirmou, no entanto, que houve dois encontros – um deles em sua casa, em São Paulo, e outro em um restaurante em Brasília – em que Gim Argello e o então senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da CPMI, manifestaram a intenção em captar 30 milhões de reais em favor de certo grupo político para as eleições de 2014. “Sem dúvida nenhuma, apesar de não ser explicitado, implicitamente estava tudo sugerindo que tinha uma colaboração especial em função do desenvolvimento da CPI”, afirmou o empreiteiro.

No segundo encontro com os senadores, em um almoço em Brasília com outros empreiteiros, ao qual Azevedo não compareceu, mas enviou dois emissários, “ficou para eles mais claro de que se tratava de assunto diretamente ligado à CPI e do desenvolvimento dos trabalhos da CPI”.

De acordo com o ex-presidente da Andrade Gutierrez, ele marcou um terceiro encontro, este no gabinete de Rêgo, em que recusou a proposta porque “a companhia não estava exposta o suficiente para se preocupar com isso e nós não deveríamos, em uma CPI, fazer parte de nenhum tipo de grupo político que pudesse vir a ser feito”.

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Otávio Azevedo diz não ter intermediado a doação de 300.000 reais da empreiteira à Paróquia São Pedro, em Taguatinga (DF), que tinha entre os frequentadores mais ilustres o ex-senador Gim Argello.

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